Parte XX

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Bianca

Chegamos ao trabalho atrasadas e algum colega de Rafaella comentou da roupa de outro dia. Engoli um sorriso e meu próprio deboche e me encaminhei para meu escritório. O telefone não parou de tocar por toda tarde e quase terminei enlouquecida com isso, mas ao mesmo tempo estava feliz e mais realizada que nunca.

Nós havíamos conseguido e o plural nunca foi tão fácil de pronunciar por causa daquela pessoa em especial.

Outra vez me pego olhando como ficava vermelha com algo que Manu disse e sinto aquela mesma vontade de beija-la. Agora não era somente quando agia como a grande mulher que era. Parecia um efeito estendido a quase tudo o que fazia. Quando se esticava na minha cama, quando pedia que confiasse nela, quando me mostrava o caminho certo...

Eu soube naquele segundo que não poderia evitar perder a aposta daquela idiota da Gizelly e ao mesmo tempo que esperei me recriminar por isso acabei não fazendo-o.

Apenas me sentei sobre a minha cadeira colocando as pernas sobre a mesa e voltei a atender os que me buscavam com tanto fervor, fundamentalmente uma importante revista de culinária local que queria nos fazer uma entrevista pela crítica.

Como garantiu Ego a avaliação tão positiva realmente nos abriu portas incríveis e me encarreguei de que tudo fosse o mais pronto possível, de preferência ainda naquela semana que havia sido demasiado atribulada. Havia ocorrido o aniversário do bistrô na segunda, todas essas confusões pós-festas na terça e a entrevista ficou marcada para quinta com todo o entusiasmo, pois o repórter deixou muito claro que a intenção deles era descobrir se de fato a crítica correspondia a realidade e com isso atribuir a quinta estrela ao meu bistrô. A maior realização que eu poderia dar ao meu pai!

Girei em minha cadeira com algumas lágrimas nos olhos depois de colocar o telefone de volta no lugar e terminei voltando meus olhares para além das persianas em que Rafa cantava uma música desajeitada enquanto trabalhava sem se dar conta.

- Você é a melhor coisa que aconteceu na minha vida Rafa Kalimann - Disse sozinha no silêncio, me sentindo idiota por isso, mas tampouco conseguindo evitar aquele mesmo comportamento pelos próximos dois dias, embora na quarta meu sentimentalismo tenha dado lugar ao nervosismo.

- Será que vão gostar do tiramisù? - Perguntei a mim mesma no meio da noite de quarta-feira, mas ainda sim tão alto que Rafaella acabou ouvindo.

Sim, ela havia passado as duas últimas noites aqui.

E não, não conversamos sobre o que isso significava.

- Agradamos o Ego. Depois disso podemos tudo - Falou buscando minha bochecha no escuro, mas acabou acertando minha nuca com um cenho franzido. Mesmo assim, acabou depositando sua carícia mesmo ali e me puxou para dentro dos seus braços.

- Certeza? - Perguntei sentindo os seus lábios depositar um beijo sobre minha bochecha.

- Somos incríveis. Confie em mim - E assim eu soube que não havia como algo dar errado.

E não deu.

Ocorreu tudo como ela disse que seria. Isto é, quase perfeitamente, afinal nada na vida era completamente perfeito além de Bianca Andrade.

O repórter fora atencioso, mas sua fotógrafa em específico parecia não querer tirar os olhos de mim, algo que foi percebido até pela própria Rafaella ainda mais quando também direcionou para mim também sua lente, me dando em alguns momentos mais atenção que a própria Manu para seu agradecimento, aparentemente.

- Você parece nervosa - Apontei quando a revista foi coletar fotos do espaço.

- Meu filho está para nascer, segundo as previsões, entre hoje e amanhã - Proferiu devagar tentando evitar o eminente enrolar das palavras quando estava diante de mim, com as mãos suadas tocando o próprio celular que não desgrudou um único minuto desde que começaram as entrevistas.

Deliciosamente proibido  -  Versão RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora