Humilhado

Capítulo 1 - Thomas (Antes)

Eu não entendo o porquê de existir tanto bullyng e preconceito. Eu sofro dessa merda desde os meus nove anos de idade.

Desde muito novinho. Minha mãe diz para eu não me preocupar com isso, eles são apenas invejososos.

Mas mamãe não sabe nem da metade do meu sofrimento. Minha irmã diz que sempre que eu precisar eu poderei ir para sua casa. Ela é casada, e está planejando engravidar, minha única amiga de verdade.

Ela saiu de casa assim que acabou a faculdade, e o melhor (para ela claro), ela mudou de pais, encontrou um marido americano e vive nos estados unidos desde então. Minha família sempre foi muito humilde. Ela conseguiu terminar a faculdade com muita força de vontade e força dos nossos pais também.

Eu admiro a mulher que ela se tornou. E eu pretendo virar um homem tão bem sucedido na vida quanto ela.

- Filho se apresse! Hoje é seu último dia na escola.- minha mãe me chamou.

Desci as escadas o mais rápido que pude. Nunca esperei tanto por esse momento. Minha vida nunca foi fácil, quando se estuda em uma escola preconceituosa é muito tenso.

É tão triste uma pessoa sofrer tanto por causa de sua orientação sexual. Eu ainda não tive a coragem necessária para contar para meus pais. Mas sei que eles vão me entender, e me apoiar, eles são bem "liberais" em relação a isso, e abraçam a causa.

Mas as vezes eu também sinto medo, medo de contar á eles.

O medo é o quê mantém os animais vivos, e às vezes eu me sinto como um animal. Encurralado e machucado.

Agarrei a alça de minha mochila, a colocando nas costas, e desci as escadas indo em direção á nossa cozinha.

Minha casa é de dois andares. Mas não se engane, apesar de ser dois andares, nossa casa é bem simples e pequena.

No andar debaixo, fica a cozinha, que é um lugar não muito grande, mas dá para se deslocar direito no ambiente. Um fogão de quatro bocas, uma pia, alguns armários e um micro-ondas que ganhamos em um sorteio no natal passado.

Temos uma sala de jantar, onde fica a mesa, e mais algumas tralhas dentro de alguns armários, e a sala. Onde tem um sofá de três lugares e duas poltronas, e apenas uma tv de 32 polegadas, meu pai ralou muito para conseguir compra-lá.

No andar de cima, tem os nossos quartos, do meu pai e de minha mãe, o meu, e um quartinho de tralhas e coisas sem sentido. Antes o quarto era de minha irmã, mas agora que ela não mora com a gente mais, o quarto passou a ter essa utilidade.

Me sentei na cadeira, e peguei uma torrada de cima da mesa. Passando geleia de morango, e a comendo em seguida.

- Aí está você! Olhe as horas Thom, já são quase sete horas.- bufei e revirei meus olhos, olhando as horas em meu celular.

Ainda são seis e meia!

Mães são sempre tão exageradas.

- Já estou indo.- murmurei contente. Dei um beijo em sua bochecha e fui caminhando para o colégio.

Meu último dia neste inferno pessoal. Eu não poderia estar mais feliz.

Consegui uma bolsa para a faculdade, irei cursar Administração, é tudo o quê eu sempre quis, administrar uma empresa.

Eu sei que isso não é a faculdade que meus pais queriam que eu fizesse, eles queriam algo mais grandioso para o filho, como ser um advogado bem sucedido, ou um chefe de polícia... Mas não é isso que eu quero, e eles entendem, com algumas reclamações mas entendem.

Meus dias nesse colégio idiota estão contados, e se o universo permitir, tudo será melhor e mais fácil na faculdade.

Suspirei contente por ter que aguentar apenas mais um dia no meu inferno pessoal, até ter meu corpo sendo jogado para frente com certa força. Me desequilibrei e quase caí no chão.