Precisávamos chegar naquele carro. Não tínhamos tempo a perder. Não era momento para sanidade. K e eu nos mantemos na linha de frente. Aquela sua mão metálica veio a calhar. Parecia que ele nem lembrava que até minutos atrás, a carne de seu braço estava sendo rasgada, por aqueles dentes sujos e distorcidos. Estávamos a metros do carro. Os únicos empecilhos eram as 10 criaturas no meio do caminho.
Podemos correr pro carro e deixar esses infelizes aí.
Lógico que não faremos isso.
Ou podemos distraí-los enquanto eles correm e pegam o carro, e torcer para nos esperem.
Bem melhor, não concorda?
Não. Nunca. Tá maluco se eu concordaria.
Temos alguém estressado aqui.
As bestas inclinaram-se em nossa direção, preparando o ataque feroz. Entretanto, algo surreal aconteceu. Ao sentir o ataque iminente se aproximando, e o nível de tensão e desespero que se formava no momento, tudo se tornou lento. O tempo estava quase parado, porém eu me movia normalmente, como se nada tivesse diferente. Fiquei parado ao lado de uma criatura de pele esverdeada e protuberâncias ósseas saindo de suas costelas. Foi bem nas costelas onde acertei um chute, que fez com ele afundasse para dentro do chão.
Acho que alguém está bem rápido aqui.
E forte meu caro.
Sacando as minhas lâminas, decapitei cinco daquelas coisa antes que o que tudo voltasse a movimentar-se normalmente. Todos me olhavam espantados.
Khris foi a primeira a abri a boca.
— Cara! Cara! Cara! Você. Parecia. Um. Borrão. Cara!
— Não entendi Khris? – questionei enquanto K terminava de matar a última criatura, fazendo com que sua cabeça pegasse fogo e seus olhos derretessem.
— Seus olhos ficaram negros e tipo do nada você apareceu onde você tá e então, geral sem cabeça.
Aí garoto! Impressionou!
Calado.
Temos alguém estressado aqui.
— Alguém me diga, por favor, que sabe dirigir, porque eu não sei! –gritava K.
Utilizando a costa da sua mão direita, acertou a face de K, fazendo girar.
— Cala a boca idiota! Eu sei dirigir. Vamos.
O plano foi ótimo.
Cala a boca idiota.
Todo nós entramos no Ford Fusion. O carro queimou pneu na arrancada. Felizmente só precisávamos ir em linha reta até o portão. A parte ruim é que havia escombros na rua. E aquelas coisas malditas estavam pulando em cima do carro.
— Já dá pra ver o portão. Deve est-
— Caralho! O portão está quase fechado! – interrompeu K, enquanto subíamos em cima do teto do carro pra se livrar dos comilões.
Cabeças rolando, e o carro balançando. Estávamos em velocidade máxima. Mas não seria suficiente.
Se pudéssemos alcançar o portão. Se pudéssemos ficar ainda mais rápidos, ajudaria muito.
Eu entendi. E posso ser mais rápido.
Me concentrei. Precisava ficar... como disse a Khris... com olhos negros... sombrios.
— Cara... seus olhos ficaram negros novamente.
Eu pulei, e K começou a onda de insultos por larga-los ali.
Isso corra. Podemos no salv-
Calado.
Deve ser dif-
Calado, bitch!
Menos de um minuto depois, eu já tinha ultrapassado os portões. Portões do Olimpus. O paraíso dos imortais poderosos que aqueles meros mortais naquele carro não alcançariam.
Entretanto, se depender mim... eles serão imortais.
O espaço entre o portão já era menor que dois metros. Parei no meio deste espaço antes que fechasse.
O que está fazendo idiota?
Eu sempre fui o covarde. Sempre fugi. Sempre sorri pra não mostrar a dor. Não enfrentei nada. Mas hoje não.
Idiota! Você não pode segurar este portões. São gigantes!
Se depender de mim, eles entrarão e não permitirei que alguém os machuque. Confiaram em mim, enquanto eu queria fugir e desistir! Agora eu devo SEGURAR OS PORTÕES DO PARAÍSO!
— Vamos, bando de idiotas! Entrei logo.
Estava quase sendo esmagado.
Retardado!
Não tenho mais força. Morrerei aqui?
Uma massa negra envolveu meus braços e tórax. Consegui travar os portões. Não se moviam nem um centímetro.
— Aqui é a polícia de Olimpus. Solte os portões, se não iremos atirar!
— CALEM A BOCA!
Ao gritar, empurrei os portões com tamanha força que eles quase voltaram a posição original, que deixou minhas mãos livre para segurar o veículo que vinha na minha direção. Ao virar de costas para o carro, haviam dezenas de miras-lasers apontadas para nós. Acho que ainda não havia terminado.
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O Temível Circo do Senhor Erebus
Science FictionApocalipse, mutantes, ter que trabalhar em um circo para sobreviver enquanto a alta sociedade se delicia com fartos banquetes. Sem contar ter que fugir de canibais quase sempre.