Capítulo 1; Enfeitiçado

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As manhãs eram sempre o período do dia que Bokuto Koutarou mais adorava.

O ar limpo e fresco que corria pelos ares enquanto os automóveis poluentes ainda não se faziam presentes em quantidades excessivas, o céu azul por onde passeavam pequenas nuvens serenas e desencadeavam as melhores das sensações de tranquilidade em seu interior, o soar dos pássaros que ainda não se incomodavam com os barulhos do ser humano e aproveitavam as primeiras horas do dia para cantarem as mais belas melodias. Melodias essas que Koutarou sempre dizia que apenas os sábios saberiam apreciar.

Era disso que ele gostava a todo amanhecer das 5 horas e aquela manhã de primavera lhe parecia perfeita, a cada mínimo detalhe mudo da natureza que tornava o ambiente mais vívido e pleno. E, para ele, não haveria momento melhor para correr.

Porque esse era Bokuto Koutarou, aquele que se vislumbrava fácil com pequenos atos do meio ambiente e os usava sempre em prol da sua vida esportiva, que sempre resultava em uma evolução positiva a quaisquer quesitos de sua vida.

Além de gostar tanto do âmbito natural das manhãs, o bicolor gostava de sua rotina.

Após se formar definitivamente como Educador Físico, Bokuto não via mais barreiras para construir seu futuro totalmente entre o esporte e ambiente livre que transmitia as melhores sensações para todo o seu ser. E era isso que ele prezava em todas as suas 24 horas por dia. Tanto que às manhãs era hábil a correr sem rumo pelas ruas que lhe proporcionavam o melhor daquilo, e às tardes, buscava trabalhar com os garotos da escola pública o esporte e a natureza.

Sim, ele havia suas próprias crianças para educar. Proposta de emprego melhor nunca haveria na vida de Bokuto, afinal, aquilo juntava seu carinho pelos pequenos e experiência no esporte, enquanto buscava da mesma em seu cargo. E ele admitia, os estudantes da pequena creche davam trabalho, mas acima de tudo, o enchiam de orgulho quando as garotas pulavam corda e giravam bambolê e os garotos se dividiam entre o futebol e aprender com o "Tio Kou" sobre o vôlei. Entretanto, lhe soava ainda mais satisfatório quando meninas impunham que iriam jogar futebol e garotos pediam para jogar algo mais tranquilo e intelectual, como dama ou dominó.

Todavia, eram ainda mais cuidados quando se tratava de uma disciplina que necessitava de contato, o que não poderia haver, afinal, ainda havia uma pandemia crescendo mundo afora e essa era mais uma missão na vida do jovem professor de educação física; manter suas crianças saudáveis, tanto cuidando de suas prevenções, quanto de seu bem estar no esporte.

Parecia ser difícil, mas Bokuto dava conta, tendo em vista que era para poucos juntar suas maiores fascinações em tardes que sempre terminavam em "Obrigado, tio Kou!", "Eu me diverti muito, tio Kou!", ou cochichados de "Já 'tô ansioso para a próxima aula do tio Kou!", "Mamãe a aula com tio Kou foi a melhor". Só de pensar naqueles pitocos gostando tanto de si, as lágrimas surgiam involuntariamente nos olhos do bicolor.

Contudo, antes de momentos como estes citados, vinham as manhãs que também se listavam entre a rotina amada de Bokuto.

Tudo começava com o som animado e engraçado de seu despertador ㅡ no qual ele também trocava mensalmente para não ficar repetitivo e enjoativo ㅡ, que sempre era responsável por seu despertar, logo bem humorado. O café da manhã era tranquilo, enquanto folheava as páginas do jornal de papel ㅡ em que ele era o único que ainda os recebia, tendo em vista que todos já acompanhavam por sites e blogs. Ah, mas sobre isso ele deveria mudar, afinal, ainda se tratava de tempos delicados e toda vez que buscava higienizar o jornal, acabava por danificar alguns escritos ao jogar álcool, porém quem podia culpá-lo? Precisava mesmo prevenir-se daquela forma, ainda mais quando pensava que em circunstância nenhuma queria transmitir aquele maldito vírus às crianças.

No encanto de seus olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora