As mãos de Yoongi tremiam, sua garganta queimava num constante lembrete da náusea que ele sentia ao olhar para o rosto do Jung e não encontrar a alegria costumeira. O rosto do mais novo estava banhado nas lágrimas grossas que deslizavam pelas bochechas macias e caíam silenciosamente no carpete bege, o nariz vermelho pela quantidade de vezes que o moreno o apertou, contendo a respiração e tentando se acalmar diante das palavras do Min, e pelas vezes que o limpou na manga do suéter esverdeado num gesto porco que não captava sua atenção no momento. Sua atenção estava toda no mais baixo e em suas palavras suaves. Hoseok nunca achou que a calma do mais velho pudesse algum dia o machucar tanto, mas o carinho implícito em cada sílaba que deixava os lábios avermelhados do outro o cortavam como facas cegas, demorando para atingir o propósito de o fazer sangrar, mas igualmente eficaz em o causar dor.
O lamento estava completo e ambos sabiam que era o começo do fim.
As mãos do mais baixo ainda tremiam, sendo apertadas uma na outra, impedindo-as de irem de encontro com as do rapaz a sua frente e o obrigando a se manter em silêncio, enquanto o outro não poupava em suas perguntas, se engasgando com os soluços e dúvidas que rondavam sua mente. As lágrimas continuavam a rolar pelo rosto do Jung, e Yoongi continuava parado no mesmo lugar, o encarando sem expressão, guardando toda a confusão de sentimentos dentro de si e torcendo para recobrar os movimentos de suas pernas logo e conseguir sair dali. Precisava de ar e as lágrimas do outro o sufocavam, como se o afogassem na culpa de ter sido o único a ter a coragem de colocar o ponto final na história dos dois.
Em dado momento, quando o moreno se aproximou, cobrando explicações do menor, o Min sentiu sua língua arder em vontade de pedir para Hoseok o socar, forte o suficiente para quebrar ao menos seu nariz. Mordeu a língua, deixando-se ser sacudido pelo outro que ainda o encarava com os olhos vermelhos, as mãos apertando seus ombros fortemente não escondiam o tremelicar naquela região, e Yoongi implorou mentalmente para que o maior parasse de o fazer tantas perguntas e o mandasse embora. Desamarrar os laços que havia os amarrado por anos não era tão simples como um "caia fora daqui" jogado ao vento.
Não havia como explicar o que sentia, em um momento estavam deslizando calmamente pela pista, e em outro, o carro perdia o controle e caía de um desfiladeiro. Não havia como explicar o que tinha os levado até ali, porque Yoongi sempre esteve muito ocupado prestando atenção em cada detalhe em Hoseok para perceber quando seu coração parou de acelerar quando o via, e que o fato de nunca prestar atenção no que o outro dizia não era porque ele se distraía com o amado, e sim, porque ele não se interessava mais com o que o Jung falava. Seus sentimentos se perderam em alguma curva entediante que os dois haviam feito, e ele só pôde notar muito depois que eles já não estavam ali.
Não era justo continuar em algo que já não era mútuo, o menor sabia disso, mas nada o preparou para a dor que sentiu ao ver o estrago que suas palavras haviam causado no mais jovem. Não queria ser o causador da dor na pessoa por quem tanto nutria carinho e respeito, mas não conseguia achar outra forma de acabar com aquilo, mesmo sabendo que existiam muitas. Sua cabeça doía e rodava, o som do choro de Hoseok ainda podia ser ouvido e a maldita chaleira apitando também. Suas mãos continuavam trêmulas e o nó em sua garganta parecia querer rasgar sua carne de tão grande e incômodo que estava.
Sentia vontade de abraçar o Jung, sussurrar em seu ouvido que tudo ficaria bem e o mimar e cuidar até o ver pegar no sono, como muitas vezes já havia feito, mas não seria justo com Hoseok, e mais uma vez Yoongi torceu para que o maior largasse seu espírito pacifista e o desse um belo soco no meio da cara. Queria pelo menos ter algum motivo para dizer a si mesmo que não havia sido o único a sair ileso daquela relação, mesmo que ver o mais novo naquela situação o doesse mais do que todos os socos que o moreno pudesse o dar.
Não soube quanto tempo passou ali, horas, dias e talvez até semanas. Mesmo que tivesse consciência de que provavelmente foram apenas minutos, cada segundo ali parecia uma eternidade e quando finalmente pode deixar a casa do outro, sussurrou debilmente um "se cuida" cansado e com toda a sua sinceridade para o dono da casa, acenando cabisbaixo e dando um de seus sorrisos falsos, ainda ocultando o mal estar que também sentia. Hoseok era importante pra si, afinal. Não havia como ficar impassível sabendo que era o motivo da tempestade que agora assombrava seu sol.
A primeira lágrima rolou quando já estava no banco do metrô, encostando a cabeça na janela e lembrando da feição perdida de seu garoto ao lhe dar adeus ㅡ um definitivo dessa vez ㅡ , e as outras lágrimas não demoraram nada a acompanhar a outra, recusando-se a deixá-la rolar solitariamente pelo rosto pálido de Yoongi. O fardo em suas costas era pesado demais para segurar, e ele nem ao menos tentava o segurar naquele momento.
O Min só queria chegar logo em sua casa, tomar um banho e dormir. O dia seguinte era um novo dia, e com sorte, Hoseok estaria bem. Ou ao menos disposto a fazer um favor para Yoongi e quebrar seu nariz, num claro sinal de "estamos ok".

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ME FAÇA UM FAVOR
Fiksi PenggemarYoongi só queria que Hoseok o fizesse o favor de socar sua cara e o fizesse esquecer sua dor emocional com a dor física. Inspirado na música "Do me a favour" da banda Arctic Monkeys. AU | ONESHOT | ANGST | YOONSEOK