Terça-feira

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Fui à escola de música no horário combinado. Decorar as notas musicais não foi algo difícil, se o resto das aulas forem assim, talvez realmente seja possível que eu aprenda a tocar piano.

Bati na porta duas vezes e ouvi uma voz vinda de dentro:

- Pode entrar!

Abri a porta e entrei. John estava usando um cardigã cor vinho, e o cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo baixo.

-  Bom dia! Decorou as notas musicais? - Ele perguntou enquanto terminava de regar uma das plantas.

- Claro! Você devia ter me passado uma tarefa mais difícil!

Ele parou, me olhou e disse sério:

- Tem certeza que você não vai se arrepender disso?

Engoli seco, isso era um desafio ou uma ameaça? Então ele disse rindo:

- Por que você está tão séria? Foi uma brincadeira. Mas o resto vai ser um pouco mais complicado mesmo.

Ele terminou de regar as plantas e se dirigiu à mesma sala em que estivemos ontem:

- Olha, separei uma música pra você: Ode to Joy de Beethoven.  Organizei ela de forma que seja mais simples pra tocar. Primeiro vamos treinar com a mão direita, se você conseguir dominar bem, passamos para a mão esquerda. Mas não se preocupe, a música ainda traz significado e é distinguível, mesmo que não seja tocada de forma completa com as duas mãos.

Eu devo ter olhado pra ele com uma cara confusa, porque ele apenas esboçou um sorriso com a boca fechada e disse – Vou tocar pra você, e aí você me fala o que acha, pode ser? - Acenei que sim com a cabeça.

Ele se sentou ao piano e começou a dedilhar as teclas, ele movia os dedos de forma lenta e suave.  As notas musicais se conectavam perfeitamente, e a doce melodia se espalhava por toda a sala. 

Ele terminou e olhou pra mim, querendo uma opinião sobre a música que ele acabara de tocar, então eu disse:

- Gostei. Ela é bem tranquila e acho que vai combinar com um casamento. Só não sei se vou conseguir tocar – eu disse esboçando um sorriso amarelo.

- Você vai conseguir, tenho certeza que sim. - Ele me disse sorrindo.

É, não seria fácil me concentrar nas aulas se ele continuasse sorrindo desse jeito.

O banco do piano era grande e cabia duas pessoas, ele se afastou, dando um pouco de espaço e disse:

- Senta aqui, vou te ensinar as primeiras notas – Obedeci e me sentei ao lado dele. - As teclas do piano começam com a nota "dó" e seguem aquela ordem que te passei, e vão se repetindo até as teclas acabarem. Essa música começa com esse "mi".

Ele pegou minha mão e a posicionou na tecla correta, pressionou meu dedo de forma suave até que o som saísse:

- Esse é o "mi", não precisa apertar a tecla com força, o som vai mudar de acordo com a intensidade que você pressionar.

Então ele continuou movendo minhas mãos para as teclas seguintes e me dizendo o nome de cada uma das notas musicais. Ele falava com tranquilidade e com muita paciência, tinha os olhos fixados nas nossas mãos, e tomava o cuidado para não se mover rápido demais.

- Essas são as primeiras notas, agora sua vez, tente tocar sozinha.

Respirei fundo e comecei. "Mi". O que era mesmo depois do "Mi"? Outro "Mi". E agora um... Talvez essa aqui?

- Você tocou "lá", o correto é essa aqui. - Ele segurou minha mão e a direcionou ao "fá" - Vou te ajudar a tocar mais uma vez.

Então ele guiou minhas mãos pelas teclas mais algumas vezes, até que eu me lembrasse de forma clara das primeiras notas. Ele se levantou sorrindo e disse:

- Ótimo! Você foi muito bem para a primeira aula, acho que podemos finalizar por aqui. Se você tiver algum tempo hoje, tente repassar na sua cabeça o que aprendemos, assim amanhã podemos continuar a música!

- Pode deixar! Muito obrigada John.

- Por favor, me chame de Johnny – ele disse com uma voz calma e um sorriso no rosto. Só consegui rir e dizer:

- Tá bom, JOH-NNY.

Ele abriu um sorriso mais largo ainda, seus olhos quase se fecharam para conseguir acomodar toda aquela alegria.

- Te vejo amanhã?

- Sim, até amanhã! - E saí pela porta. Toda vez que ele sorria daquele jeito meu coração errava uma batida.

Obs.: Beethoven - Ode to Joy

O Professor de Piano - AU JohnnyOnde histórias criam vida. Descubra agora