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S/N.

Estou me arrumando para minha nova escola. Eu não aguento mais isso. Sempre nos mudamos, sempre. Eu, minha mãe, meu padrasto e o filho dele — Josh Beauchamp.

Meus pais se separaram a exatamente dez (10) anos atrás. Na época, eu tinha seis (6) anos. Mesmo sendo uma criança, eu obviamente senti muita saudade do meu pai. Sempre nos lembravámos dele, principalmente mamãe. Então, nos mudamos. Minha primeira mudança.

A decisão da separação foi da minha mãe, pelo menos era isso que eu achava quando menor. Depois, com o tempo, descobri que minha mãe havia traído o meu pai.

Mamãe nunca deixou papai vir me ver, nunca. E por isso, sempre que ele finalmente achava nossa casa, ela e eu nos mudavámos.

Foi assim até os meus doze (12) anos. Depois, minha mãe nunca mais precisou se preocupar com meu pai.

Afinal, ele estava morto.

Ele morreu de overdose, num sábado (7) de novembro. Eu me lembro. Me lembro de quando minha mãe recebeu a notícia, me lembro dela me contando e chorando enquanto me abraçava. Eu podia sentir toda a culpa, dor e sofrimento dela em seu choro.

Eu nunca culpei ou fiquei brava com a minha mãe. Por mais que, eu saiba que isso aconteceu por causa dela e eu sinto falta dele. Sinto falta do meu pai.

Ele foi um homem bom. Amoroso, companheiro e bem-humorado. Mesmo depois de chegar cansado do serviço, ele sempre arrumava um jeito de brincar comigo. Eu amava. Era minha parte favorita do dia.

Meu pai nunca bebeu, nem fumou e muito menos usou drogas. Eu sei disso. Eu conhecia meu pai muito bem.

E eu fico triste por não ter passado tempo o suficiente com ele. Foram somente seis anos. Só.

Depois da separação meu pai ficou muito mal, eu imagino. Ele amava minha mãe e eu mais que tudo nesse mundo. Ele sempre falava que ela era a mulher da vida dele. Em meio de beijos sinceros, molhados e apaixonados.

Eu acreditava no amor dos dois, queria ser como eles. Até acontecer todo aquele rebuliço.

E o pior de tudo: A morte do meu pai.
Nunca mais conseguirei vê-lo. Isso me destrói em milhares de pedacinhos.

Quando eu ainda tinha treze anos, minha mãe conheceu meu padrasto e então, ficaram juntos.

Eu não sei se meu padrasto foi o homem com quem minha mãe traiu o meu falecido pai. Mas eu acredito que seja. Foi tudo muito rápido.

Por um lado foi bom, eu não fiquei tão sozinha. Eu tinha Josh. Por mais que ele me irritasse pra caramba eu gostava da sua companhia para brincar comigo, ler para mim ou simplesmente deitar comigo sobre a grama, olhar para o céu e decifrar as nuvens.

Na escola, eu não tinha muitos amigos. Eles me olhavam estranho, todos eles.
E as vezes, eu escutava uns burburinhos sobre mim.

O pai dela morreu. Ele usava drogas – um menino falou.

– Ela parece ser legal... – uma menina loira de vestido cor-de-rosa falou.

– Ela não é. Ela quer te contaminar, com drogas.

Mamãe disse para nos afastarmos dela.

Era horrível.

E então, nos mudamos. Dessa vez, eu realmente havia gostado da mudança. Pelo menos ninguém iria fazer piadas maldosas comigo novamente. E se fizesse, Josh estava lá.

Josh é três anos mais velho que eu. Então, todos os meninos da minha classe tinham medo dele e consequentemente não me zoavam. Uma vez um garoto da minha sala fez piadas sobre minha aparência.

Isso é para você aprender - Josh diz – A nunca zoar a minha irmã. Entendeu? – Ele jogou o menino no chão, o nariz dele sangrava, Josh deu muitos socos.

Hoje, tenho dezesseis anos.
É meu primeiro dia de aula na escola da nova cidade.

Eu já havia ido lá, para visitarmos e conhecer.
Era enorme. Um prédio com cinco andares. Gigante.
Nunca havia estudado numa escola tão grande assim.

Estava nervosa — confesso.

Tentei convencer minha mãe de me deixar fazer aulas em casa, ou com um professor particular. Sua resposta foi não. Ela disse que seria melhor eu ir para a escola de verdade. Que dessa vez, seria tudo diferente.

– Vai ficar tudo bem, amor. Só seja você mesma – Ela diz e em seguida, da um beijo molhado em minha testa.

Fui, com Josh.
Aquelas palavras não me deram conforto. Acho que naquele momento, nenhuma palavra faria eu me sentir menos nervosa. Talvez, só as palavras do meu pai.


✦𝙃𝙚𝙮𝙤𝙤𝙣 𝙅𝙚𝙤𝙣𝙜 𝙞𝙢𝙖𝙜𝙞𝙣𝙚 Onde histórias criam vida. Descubra agora