O amor tem palavras mudas mais transparentes do que o rio.
Isabel Allende
Vendo o quanto suas mãos tremiam e o suor frio que descia por suas costas, Brooke podia dizer que estava nervosa. Mesmo depois de um dia inteiro na IFEX (International Flower Expo Tokyo) negociando novos contratos para sua rede de floriculturas, ver Tatiana Calderón, a garota que roubou seu coração onze anos atrás, novamente era o que mataria Brooke Hawthorne de nervoso. Principalmente porque ela estava vindo em sua direção naquele exato momento.Não se viam desde o fim do Star Mazda Championship de 2010 e Tatiana continuava tão linda quanto antes, se não mais. Os anos a fizeram bem.
Mas Brooke não esperava vê-la de novo, não depois do abrupto fim do relacionamento das duas. Mas lá estava Tatiana, em um pequeno restaurante em Shinjuku, fazendo seus joelhos tremerem com o mesmo sorriso que a encantou uma década atrás.
-Pensei que nunca mais te veria, Brooke Hawthorne.
Tatiana exibia a mesma confiança de sempre, agindo como se nada tivesse mudado.
-Às vezes a gente se surpreende, não é, Tatiana Calderón?
A risada meio sem graça e a desviada de olhar mostraram à Brooke que a colombiana também estava nervosa, e isso trouxe um pouco de alívio para a estadunidense.
-O mundo é menor do que parece. Mas e então, você se incomoda em sentar comigo? Não está esperando ninguém, está?
-Na verdade não, mas eu posso te agraciar com minha incrível companhia.
As duas caminham até uma das mesas do local e se sentam, esperando o atendimento.
-E o que te traz ao Japão?
Tatiana encostou os cotovelos na mesa de madeira e apoiou o rosto nas mãos, encarando a mulher à sua frente.
-Negócios. Eu sou dona de uma rede de floriculturas agora. - Brooke engoliu em seco e pegou o cardápio que estava na mesa, começando a folheá-lo. - Mas e você, o que faz por aqui?
-Eu moro aqui agora. Contrato com a Drago Corse para pilotar na Super Formula esse ano e tudo.
-Super Formula? Desde quando isso existe?
-Você abandonou mesmo o mundo do automobilismo, não? - disse Tatiana, tentando disfarçar a risada.
Mas Brooke não estava achando engraçado.
Qualquer coisa relacionada ao mundo do automobilismo ainda era como álcool na ferida. Uma ferida que nunca fecharia.
-Eu não acompanho mais nada, eu me afastei de tudo depois de 2010.
A vinda da garçonete interrompeu a tensão que pairava sobre a mesa, e após fazerem seus pedidos, a garçonete se retirou e as duas mulheres voltaram a se olhar.
-A Fórmula Nippon virou Super Fórmula em 2013.
-Mas eu pensei que você já estaria na Fórmula 1 a essa altura, sua carreira era promissora.
Brooke viu o suspiro que Tatiana deixou escapar e percebeu que havia tocado em um assunto delicado, e toda a tensão de antes caiu de novo em cima delas.
-Nem toda promessa vira realidade, não é? Mas vamos mudar de assunto. Desde quando você é dona de uma rede de floriculturas?
-A empresa era da minha mãe, mas ela passou todo o controle para mim assim que eu saí da faculdade. Longe de ser o sonho, mas eu aprendi a gostar com o tempo.
-Quanto tempo?
-Faz cinco anos que eu sou a orgulhosa presidente da Hawthorne Flowers and Co.
Tatiana sorriu para Brooke e, pela primeira vez naquela noite, Brooke retribuiu o sorriso sem receio.
-Se está te fazendo feliz, então é o que importa.
[....]
Brooke se encolheu em seu casaco ao sentir o vento bater em seu rosto. O inverno japonês era rigoroso, e, como vive em Los Angeles, a estadunidense não estava nem um pouco acostumada com o frio.
Mas estava satisfeita.
O jantar com Tatiana foi ótimo, ao menos depois que toda a tensão se dissipou, e elas conversaram sobre tudo e mais um pouco.
Agora estavam caminhando em direção ao seu hotel, já que a colombiana insistiu em acompanhá-la, e Brooke agradecia a todos os deuses existentes pela curta distância entre os lugares, pois seus dedos já estavam ficando roxos.
-Você tem alguém esperando por você em casa?
Brooke olhou para baixo - já que Tatiana envelheceu mas não cresceu muito - e viu as bochechas avermelhadas da outra garota.
-Você quer saber se eu estou namorando? É isso?
-Talvez.
Tatiana encarava um ponto fixo no chão, evitando olhar para a mais alta à todo custo.
-A resposta é não. Não tenho ninguém. Inclusive, meu último namorado terminou comigo há três meses. Mas e você?
-Eu não tive ninguém depois de você. Nada sério, pelo menos.
Se a confissão da colombiana abalou as estruturas da estadunidense? Sim, com certeza, mas Brooke fez o que sabia fazer de melhor: fingir.
-Já podemos fundar um clube do fracasso, olha. Lonely Hearts Club é nossa trilha sonora.
Brooke quase achou a expressão de confusão de Tatiana bonitinha, mas aquilo era um erro imperdoável.
-Lonely Hearts Club, da Marina and the Diamonds… Se bem que agora é só Marina.
-Continuo não conhecendo.
-Te falta cultura, Calderón. É isso que te falta.
Brooke nem percebeu que elas já haviam chegado à porta do hotel, e teria passado direto se Tatiana não a puxasse.
-Eu acho que nós chegamos.
-É… Chegamos. Quer subir?
Brooke se sentiu em uma daquelas brincadeiras de encarar a outra pessoa até que alguém piscasse pois, por mais que tentasse, não conseguia desviar o olhar das orbes castanhas da outra.
-Eu até subiria, mas tenho compromisso amanhã cedo.
-Então… A gente se vê por aí.
-É. Você tem meu número, vê se não some de novo.
-Não vou sumir.
As duas continuaram a se olhar até que Tatiana começou a rir, logo se virando e indo embora.
Brooke ficou parada na porta do hotel, mas gritou uma despedida antes de Tatiana desaparecer ao virar a esquina, sem saber se ela ouviria ou não.
Com um sorriso no rosto, Brooke entrou no hotel e seguiu em direção ao elevador, sem conseguir tirar Tatiana Calderón da cabeça e sabendo que nem o mais longo dos voos de Tóquio para Los Angeles seria capaz de acabar com sua felicidade.
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All These Years | Tatiana Calderón
FanfictionBrooke e Tatiana se conheceram - e se amaram - ainda na adolescência, mas se afastaram após Brooke abandonar, repentinamente, a carreira no automobilismo. Mais de dez anos depois, as duas se reencontram e, mesmo depois de tanto tempo, ainda sentem o...