O Yule aqui é em dezembro e é aqui que começa nossa roda, ele é decorado de verde e vermelho, o verde trás pra dentro da nossas casas tudo que há de bom e o vermelho afasta das portas e das janelas tudo que há de mal. No Yule a mesa fica cheia, ainda mais que em qualquer outro momento do ano, farta de comidas, bebidas, doces e coisas quentes. O pinheiro é decorado com bolas pintadas à mão, enfeites do Homem-Verde, um homem de folhas, e um pentagrama, uma estrela trançada de cinco pontas, no topo. Na lareira queima a lenha crepitante e na porta uma volumosa coroa de galhos trançados com barbante e adornada por folhas e flores dá a permissão para que espíritos bondosos venham festejar conosco.
Lá na floresta tinha uma casinha de bruxa, a casinha parecia uma peça de brinquedo de tão colorida e pequenina, cheia de plantas pendentes penduradas no alpendre da frente e rosas-trepadeiras se agarrando as colunas a ponto de subir no telhado, o frio era intenso, a neve caía a todo instante, mas a bruxa que ali morava era jardineira e as rosas estavam sempre floridas, independente do tempo, e a grama ao redor da casa estava sempre verde. A casa era um pontinho alegre no meio do mar branco do inverno.
A bruxa que ali morava era velha, mas cheia de energia e naquele momento cantarolava uma música de quando ainda era moça enquanto batia os ovos para fazer o bolo na cozinha. Na sala, Lusan, a gata da senhora, esticou-se pela sala com seus membros alongados e elegantes, abriu a boca ao máximo, bocejando, e foi se ajeitar no tapete grosso perto da pequena estantes cheia de livros e enfeites delicados ao lado da lareira. A luz tremulante das chamas faziam o pelo preto do felino brilhar avermelhado e os olhos verdes parecerem amarelos, à suas costas era lançada uma sombra esticada que se misturava com a sombra dos floquinhos de neve que caíam lentamente lá fora, na janela. A gata amassou pãozinho, puxando de leve uns fiapos do tapete, enrolou-se ao redor do próprio tronco e fechou os olhos, tranquila.
Mal o animal acalmou a respiração, a porta da frente foi escancarada com um estrondo, fazendo o animal sobressaltar-se e sair correndo pelo corredor com o susto. De lá, as costas iluminadas pela luz pálida do fim da manhã gelada, veio alvoroçada a menina, com seus cabelos alaranjados presos em uma trança simples, capa preta e botinhas de neve felpudas. Ao entrar, ela arremessou a capa e as botas para o alto, usava um agasalho de tricô verde-escuro e meias longas com listras coloridas com barras que se escondiam por baixo do vestido branco de tecido grosso que pairava acima de seus joelhos.
A garotinha deu pulinhos de empolgação, batendo as palmas, mal tinha conseguido se despedir corretamente do pai antes de sair correndo e agora não poderia esperar a mãe chegar a porta, saiu pelo corredor para a cozinha, meio correndo, meio saltitando, um pouco de lado, como um macaquinho.
— Vovó, eu cheguei! — Ela escalou uma das banquetas da cozinha e se debruçou sobre o balcão, o sorriso esticando as bochechas rosadas mostrava a abertura entre os dentes da frente recém trocados.
A senhora não se impressionou, sabia que era Gwen no momento em que viu Lusan correr atrapalhada para o quintal, não gostava quando a menina perturbava o animal, mas não resistiu em mostrar um sorriso quando a criança começou a se esticar pelo tampo, tentando alcançar um pouco da massa na tigela. Gwen era uma peste, mas era uma gracinha de peste.
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Contos de Solstício e Equinócio
Short StoryÉ época de reunir toda a família para comemorar, é a época do ano favorita de Gwen, e não é porque pode usar encantos a vontade, obviamente. Estava indo tudo bem, mas... espere, o que é isso? A Tora de Yule, um dos objetos mais importantes desse dia...