Valsa das Flores

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Quem diria que eu me apaixonaria pela minha melhor amiga, né? Acho que todo mundo... Ela é linda, inteligente, simpática, tem um senso de humor incrível e, bom, ela é hétero. E se você não entendeu o problema, eu sou mulher.

Hye Jin é apenas a dona de todos os meus pensamentos, e também quem maratona novelas comigo, além de zoarmos as descrições dos caras em sites de namoro. Essa última parte é em segredo, afinal não temos idade para isso.

O que é outro ponto, temos apenas dezessete anos, estamos no segundo ano do ensino médio. Somos, supostamente, todos héteros. O que é bem triste, gênero limita muito as coisas, acredito que todos tenham suas qualidades. E, no caso, a minha melhor amiga tem todas as que me conquistam.

Amiga. Tá aí uma palavra que me atormenta. Namorada soa muito melhor, mas não sou nem louca de tentar algo assim em pleno ensino médio. As chances disso destruir o meu futuro são absurdas. Afinal, não é "normal" ou é "coisa de estrangeiro", meio que, por eu ser mulher, acho que seria colocado como desvio de caráter e sem vergonhice também.

Ou seja, a minha vida é uma bela bosta. Preciso lutar pelas boas notas, tentar fingir que não sou uma aberração e, o pior de tudo, aconselhar Hye Jin enquanto ela flerta e tenta começar um namoro escondido com o Namjoon da sala A. Somos da B, ruins demais pra sermos as melhores, porém não o suficiente pra sermos as piores, como os da sala C.

Não que eu realmente acredite nesse sistema de classificação, todos temos nossos pontos fortes e nem todos eles vão se refletir em notas. Uma coisa que eu já percebi é que muitos alunos da sala C são bons nas matérias artísticas ou nos esportes, enquanto os da sala A são bons em passar em provas. Minha sala é um meio termo, somos muito bons em algo e péssimo em outras o que nos nivela no meio.

Hye Jin quer conseguir mudar pra sala A e ficar junto com Namjoon, eu só quero que esse inferno acabe logo porque eu acho que morro se ela trocar de sala. A real é que sendo gorda, eu acho que surto se ela não estiver comigo, afinal é por estar ocupada demais fofocando com ela que não presto atenção no que falam de mim.

– Bom dia! – A professora sobe no palco da sala de teatro e sorri animadamente. – Acredito que vocês saibam que esse ano vamos fazer uma peça temática de natal, então quero ver todos trabalhando duro em suas tarefas, que serão divididas hoje, para que tudo fique incrível. Esse ano, a peça será filmada e entrará em uma competição com as de outras escolas, isso pode ajudar no currículo de alguns de vocês que pretendem ingressar em faculdades como artes cênicas, cenografia e até mesmo letras.

Ah! Outro ponto importante, aulas como teatro, música e educação física juntam as três turmas, acho que por serem feitas em salas maiores ou por carência de professores, não sei. Só sei que é um pouco estranho ter que trabalhar com pessoas que não conhecemos muito bem, pelo menos para mim. Olho para Hye Jin e vejo que ela olha para Namjoon por cima de seu caderno, observo o garoto que ri com seus amigos. Pelas mãos colocadas dramaticamente sobre a testa, presumo que estão fazendo alguma piada sobre teatro, olho mais uma vez para minha amiga antes de suspirar.

– Tudo bem? – Ela pergunta, tocando meu braço.

– Acho que sim, pensando se vale à pena tentar pegar um papel importante de novo ou se já me ofereço para ficar só na cenografia de novo. – Comento vendo a professora escrever o nome da peça no quadro. – O quebra nozes, eu bem tinha medo do Rei Camundongo.

– Sério? – Pergunta rindo. – Você tem medo de umas coisas estranhas.

– Ele queria matar o Quebra Nozes, eu ficava nervosa. – Explico encolhendo os ombros.

– Pois bem, vamos fazer uma adaptação do Quebra Nozes, acredito que todos conheçam esse conto ou até mesmo o balé, mas caso ainda restem dúvidas a história conta sobre uma garotinha que recebe um soldadinho que quebra nozes de presente e então descobre que ele é um príncipe que foi amaldiçoado pelo Rei dos Camundongos. – Fala sorrindo, segurando um bolo de papéis, mesmo que os alunos não pareçam tão animados. – Eu imprimi um diálogo e quero que formem duplas para lerem juntos aqui no palco. Terão quinze minutos para se familiarizar com o texto. Mesmo que não queiram um papel na peça, acho que seria interessante tentar a dramatização.

Entre a Valsa e as Flores (fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora