O Deus desconhecido

1. CONFUSÃO NOS PRIMEIROS PASSOS

    Gosto de pensar na pessoa de Jesus como um irmão mais velho, alguém bem próximo, um confidente, com quem eu posso conversar sempre que preciso. Sinto como se Ele morasse no quarto ao lado do meu. Quando necessito é só bater na porta e entrar. Sempre que desejo conversar com Ele, gosto de começar com: Sabe Pai..., ou Sabe Jesus..., raramente uso formalidades, não por falta de respeito ou reverência, mas porque sei que Ele me conhece de tal maneira que me sinto totalmente a vontade para estar com Deus.

O medo de Deus

Mas nem sempre foi assim, houve uma época que tinha muito medo de Deus, achava que ele era um carrasco, pronto para me punir por qualquer deslize que tivesse. Lembro de uma ocasião em que me esqueci de orar após acordar pela manhã, e quando já estava na rua, lembrar de não ter orado, então comecei a pedir perdão com insistência com medo de que algo ruim acontecesse naquele dia como forma de castigo ou punição, eu era uma pessoa extremamente legalista, que acreditava que deveria seguir à risca uma cartilha que tinham me ensinado: "faça isso, não faça aquilo, seja assim e quem sabe Deus possa se agradar de você."

A convivência com pessoas legalistas pode ser altamente destrutiva, te levando a uma vida de privações e encarceramento espiritual, onde tudo é pecado e errado, praticamente você não tem o direito de ter lazer pelo simples prazer de tê-lo, afinal tudo é para agradar a Deus, e sendo assim agradar a si mesmo é errado. Pode parecer loucura, mas essa era a vida que eu levava graças aos ensinamentos legalistas, e absurdos, que obtive no meio cristão com determinados grupos evangélicos.

Legalistas de plantão

Esses grupos têm certas características bem comuns: possuem muitos jargões e um linguajar que alguns chamam de "evangeliquês,", são pessoas com pouca ou nenhuma cultura, e muitos tem aversão a estudar, inclusive teologia, dizem que o que precisarem saber o Espírito Santo vai ensinar. São bastante apegados ao Antigo Testamento, gostam de falar sobre maldições, e como o "Senhor dos Exércitos" derrotam e destroem (matam) seus inimigos. Adoram fazer ou participar de campanhas, que supostamente foram reveladas por Deus, quero deixar claro que não tenho nada contra a campanhas na igreja (templo), apenas não concordo com o uso abusivo delas, onde as mesmas, na maioria das vezes é usada fora de um contexto bíblico mais amplo. Confundem avivamento bíblico e histórico, com um culto onde a ênfase é dada para músicas em ritmo de forró, os tais "corinhos de fogo." Como disse antes nada contra esses cultos, porém há muito mais a se aprender em relação a Bíblia e o relacionamento com Deus. São grupos que supervalorizam dons como, curas, milagres e profecias, e pouco estimam a sabedoria e o conhecimento. Falam de discernimento, mas este é um discernimento baseado em emoções, arrepios e sensações, pouco tem a ver com o entendimento que é adquirido através do estudo da Bíblia e a comunhão com o Espírito Santo.

Este é um grave pecado

Nesses meios a hipocrisia é uma característica muito evidente, por motivos óbvios: geralmente somos muito mais exigentes com os pecados dos outros do que com os nossos. Se o outro peca, deve ser castigado e disciplinado, mas se sou eu que peco, quero o perdão e a compreensão por parte das pessoas, e geralmente o pecado do outro é sempre visto como maior que o meu. É muito comum nestes grupos, pessoas saírem, porque foram machucadas ou mal compreendidas, dizem que a igreja é um "hospital", mas quando alguém esta doente, geralmente não é tratado, é excluído (deixado de canto), como alguém que tem uma enfermidade contagiosa e precisa se manter afastado dos outros. Amo a igreja de Cristo, mas percebo que só iremos avançar verdadeiramente quando reconhecermos que todos estamos em alguma área de nossas vidas enfermos e que precisamos uns dos outros, e que todos fazemos parte de um mesmo corpo: "O Corpo de Cristo."