- Capítulo 3 -

172 7 8
                                    

Quando chego à esquina do corredor do Salão das Mulheres, vejo logo Celeste, resplandecente em seu vestido azul-escuro com decote em V, examinando as unhas como se alguma vez houvesse alguma imperfeição nelas.
Não acredito que estou fazendo isso, penso. América respira fundo e anda em sua direção.
— Demorou o suficiente. — disse Celeste com uma voz entediada, sem nem mesmo olhar para mim.
— Sinto muito se me atrasei por um minuto, e você não consegue esperar pelos outros.
— Alguém está de mau humor. — Celeste diz ao sorrir maliciosamente em minha direção. — O que houve, querida?
Querida. Aquela palavra que sempre a incomodava quando outras pessoas falam. Mas agora somente a fez corar.
— Não me chame de querida. — disse, mas apenas não teve muita vontade por trás da frase.
Celeste, como se sentisse a minha mentira, sorriu abertamente.
— Ao que devo esse encontro, América? Não estou reclamando, mas tenho que saber no que estou me metendo. Eu tenho uma reputação a manter, e me encontrar com inimigas não ajuda.
— Quer saber? Esqueça que eu te chamei. Eu iria aceitar a proposta de ontem a noite, mas percebi que foi uma péssima ideia.
Celeste arregalou os olhos, como se não acreditasse no que eu tinha dito. Antes que América pudesse dar um passo em direção à porta do Salão, Celeste entrou na minha frente.
— O que você quer, América?
Levantei meus olhos para os dela, e encontrei curiosidade e algo que não conseguia descrever em seus olhos. O que passava na mente dela?
— Quero sua ajuda. Mas é um plano ousado, não posso falar aqui onde alguém pode ouvir.
Celeste sorriu maliciosamente, aproximou-se do meu ouvido e sussurrou: "Vamos para o meu quarto então."
América virou o rosto e acenou que sim com a cabeça.
Celeste murmurou algo que parecia muito com "O que eu estou fazendo?", mas quando perguntei o que havia falado, ela simplesmente fez que não com a cabeça e andou em direção ao seu quarto.

*****

Ao chegar no meu quarto, pedi para que Eve saísse, e não dissesse para ninguém que estávamos aqui.
Todos acreditam que eu sou péssima para minhas criadas, mas na verdade, elas são as únicas pessoas que eu realmente me aproximei.
— Eu pensei que você era má com suas criadas. — disse América, olhando boquiaberta para a porta fechada. Adorável.
— Cada um acredita no que quer. Não é porquê um boato se espalha que ele seja verdade.
Um boato horrendo que eu tinha batido em uma criada! Hannah caiu ao limpar o topo do meu guarda-roupas, e assumiram, por causa dos hematomas, que eu havia batido nela. Hannah tentou explicar, mas ninguém acreditou. Ótimo. Menos risco de me machucar ao saberem que meus atos são uma mentira.
América, como se assustada com minha honestidade, me olhou com seus olhos azuis arregalados.
— Então o boato era mentira?
Dei de ombros e perguntei: "O que você quer, América?"
— Quero que você me beije.
Pisquei. Pisquei de novo. América me olhava como se esperasse que eu risse. Mal sabe ela que eu sonhava com isso. Mas como eu tinha que fingir indiferença, perguntei:
— Agora? Não vai me chamar para jantar antes? O romantismo morreu mesmo.
— Para de ser sarcástica! Estou falando sério! Preciso que você me beije em algum lugar que apenas Maxon veja, para que fique com ciúmes e pare de paquerar com todas.
Então ela iria me usar. Para causar ciúmes no Príncipe Tolo!
— E o que tem nesse plano para mim?
— O que você quer? Você já tem tudo.
Minha Celeste interior riu tão alto, que fiquei surpresa que América não ouviu.
— Tem uma coisa que eu quero, mas pode ser considerado um favor para você também...
América me olhou com suspeita nos olhos. Garota inteligente. "O que você quer?"
— Um beijo.

*****

América tinha que ter ouvido errado.
Um beijo?
— M-mas esse já é o acordo! — Sua voz tremia. Não por medo. Mas ansiedade. Curiosidade.
— Podemos chamar isso de treino para os outros, se você quiser. Não me importo. Mas quero um agora.
— A-agora?!
— Não aja como se nunca tivesse pensado com isso, querida. Eu sei mais do que você sabe.
— S-sabe o q-quê? E-eu não estou escondendo n-nada.
Celeste, como uma leoa andando em direção à sua presa, parou à 2 metros de mim.
— Eu reparei como você olha para mim. — Um passo.
— Eu reparei como você cora quando te chamo de querida. — Os pelos do meu pescoço arrepiaram-se na palavra maldita. Celeste deu um passo.
— Eu reparei como você olha para meus lábios. — E por fim, Celeste deu um passo e estava ao meu alcance.
Um passo e nossos lábios se encontrariam. Ela me deu a chance de aceitar ou rejeitar sua proposta.
Eu deveria dar um passo para trás. Chamá-la de louca. Sair desse quarto.
Mas os olhos de Celeste apenas continham desejo. E eu tinha certeza que os meus demonstravam o mesmo.
Eu dei o último passo. Meu corpo e o de Celeste estavam a um fio de distância.
Celeste pôs as mãos dos dois lados do meu rosto. Estava analisando cada detalhe. Quando chegou mais perto, e nossos lábios quase tocavam, sua voz estava rouca quando disse:
— Não se esqueça disso. Eu certamente não vou.
E então me beijou.

*****

                 Não foi um beijo agressivo. Foi um beijo que mostrava a minha necessidade de tocá-la. Tê-la só para mim. Um beijo que mostrava o quanto eu a quero, mas ao mesmo tempo, esperava que ela me quisesse o tanto quanto.
                  No começo, o beijo foi delicado, assim como ela. Quanto me afastei, pensando que América não queria continuar, ela me puxou pela nuca, e aprofundou o beijo.
                  Depois de um tempo, quando ambas estávamos respirando irregularmente, me afastei. Foi um exercício de autocontrole.
                   Não podíamos continuar com isso. Não hoje, pelo menos. Estava ficando tarde, e logo alguém procuraria uma de nós duas.
                  — Uau... — América disse, corada de uma maneira que realçava ainda mais seu cabelo ruivo.
                 — Uau... — Ri. Dei-lhe um selinho, não consegui controlar.
                 América tentou aprofundar o beijo novamente, mas desenlacei seus braços de meu pescoço.
                — Você sabe que não podemos ficar aqui por muito tempo. Alguém vai nos procurar logo.
                  Pensei ter escutado um barulho parecido com um "Argh" vindo dela, mas quando olhei, ela estava olhando para mim.
                 — O quê? — perguntei, preocupada que ela estava tendo segundos pensamentos.
               — Isso não acaba aqui, Celeste.
                E assim, o furacão vermelho saiu do meu quarto, me deixando com minha mente em pedaços.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 07, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A DecisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora