i sing my songs about you | xuexiao

i sing my songs about you

O relógio marcava onze da noite quando a última pessoa deixou o estúdio. Song Lan havia largado suas baquetas perto do kit da bateria e fechado a porta com um clique, A-Qing já havia ido embora há algumas horas, carregando um contrabaixo que era quase do seu tamanho nas costas.

O estúdio estava deserto, exceto pelos dois. Xiao Xingchen e Xue Yang ainda permaneciam no quarto de chão acarpetado e paredes acolchoadas. O estúdio era como uma segunda casa para eles, e quantas vezes já não haviam passado madrugadas ali, compondo ou apenas praticando suas músicas.

A banda alugava o pequeno estúdio no centro da cidade há um ano, e eram os donos do lugar durante os finais de semana. Xiao Xingchen ainda se lembrava da primeira sessão da banda naquele lugar, finalmente completa com os quatro integrantes. O estúdio não era grande, mas se tornava ainda menor comparado à presença gigantesca de Xue Yang cantando.

Na época, Song Lan e A-Qing tentaram discutir, mas Xiao Xingchen apenas respondeu com aquele sorriso insuportavelmente gentil, que mandava arrepios pelas costas de quem estivesse do outro lado daquele rosto. "Ele fica". E com essas palavras definitivas, Xue Yang entrou para a banda.

Xue Yang era um verdadeiro punk. Sempre fazendo as coisas do seu jeito, individualista, e acima de tudo, livre. Claro, o auge daquela cena já havia ido embora há algumas décadas. O estilo em que tocavam era rápido e agressivo, melódico e intenso. Não colocavam um rótulo em suas músicas, mas Xiao Xingchen sabia. Xue Yang era punk na sua atitude, e ele ria sempre que Xingchen dizia isso.

O fato de que Xue Yang ficava tão bem em suas roupas pretas e justas, as calças rasgadas mostrando um pouco mais que o necessário, era só um detalhe. As correntes que o menor sempre usava por cima de suas roupas, e o cadeado em volta do pescoço, pareciam prender os olhos de Xingchen. Ele imaginava onde estaria a chave daquele acessório.

De todos os jeitos que Xue Yang era livre e arisco como um gato de rua, era um milagre vê-lo daquele jeito. Sentado na cadeira de couro giratória, em frente à uma grande mesa de som, ele parecia um profissional. As dezenas de fileiras de pequenos botões eram todas iguais, mas os olhos atentos de Xue Yang conheciam cada função.

"Toque aquele acorde de novo, gege", Xue Yang mantinha os olhos na tela do monitor à sua frente, e seus nove dedos passeavam pelos botões, girando e apertando com destreza. Xingchen começou a dedilhar sua guitarra, um grande fone de ouvido pendurado em sua cabeça cobria apenas uma de suas orelhas, os óculos de grau escorregando por seu nariz.

"Vai ter que ser mais rápido que isso se quiser ficar no ritmo, gege...", Xue Yang disse, finalmente se virando. Xingchen estava sentado na ponta do sofá, seus pés descalços desviavam dos fios plugados em sua guitarra e amplificador. A guitarra descansava em seu colo quando Xue Yang se aproximou, usando seus pés para impulsionar as rodinhas da cadeira.

Xingchen ainda tentava se concentrar, enquanto sentia a presença de Xue Yang se aproximando. Sempre perto demais, invadindo seu espaço pessoal como se quisesse entrar embaixo da pele do mais velho. Xingchen apenas deixou um pequeno sorriso escapar de seus lábios, e encarou a figura que chegava deslizando na cadeira.

A primeira coisa que viu foram duas pequenas mãos espertas, uma tirava o fone de ouvido de sua cabeça, enquanto a outra arrancava seus óculos de grau. Xue Yang sabia que Xingchen era cego como um morcego sem eles, e que precisaria se aproximar ainda mais se quisesse ser visto.

Jogando aqueles objetos incômodos para longe, Xue Yang segurou o rosto de Xingchen com suas mãos. "Gege, acho que precisamos de uma pausa".

Xiao Xingchen sabia exatamente o que Xue Yang queria. Ele conseguia sentir em suas mãos trêmulas, em sua respiração rápida e impaciente. Xingchen tentou desviar os olhos, sabia que aquele era um caminho sem volta assim que desse o primeiro passo.