8 anos antes
As sombras cintilam do lado de fora da janela. Eu fico com minhas pequenas mãos e rosto pressionado contra o vidro frio. Minha respiração cria uma névoa branca no painel transparente enquanto meu peito sobe e desce.
Não, as sombras não estão cintilando; elas estão vivas.
Ouço um clique alto atrás de mim e espio por cima do ombro. Meu pai está de pé atrás do balcão de madeira da cozinha, com uma besta (antiga arma de flecha) na mão. Ele a carrega com outro clique e a coloca no balcão. Minha mãe paira ao lado dele, com seu rosto tenso de preocupação.
"Eu não pensei que ele viria tão cedo. Se eu soubesse ..." Meu pai para de falar, engolindo em seco. A mão da mamãe começa a tremer ao colocá-la no ombro dele, como se para tranquilizá-lo. Acho que o tremor dela só o fez se sentir pior.
"Quem é ele?" Eu pergunto, me afastando da janela e das sombras que se escondem do outro lado dela. Meus dedos se enterram na pele macia da palma da mão, um hábito que criei para aliviar o estresse.
Meu pai olha para mamãe, que balança a cabeça. "Ela tem apenas dez anos. Ela não vai entender ainda", diz ela. Papai me lança um olhar de desculpas. Posso perceber que ele quer me contar, que confia em mim e que sabe que eu irei entender, mas não vai contra o que mamãe diz.
Ela caminha em minha direção, coloca sua mão delicada nas minhas costas e me guia para longe da cozinha, até o corredor dos fundos e abre a porta do armário de vassouras. Tem cheiro de madeira podre. Eu torço meu nariz em desgosto quando ela me empurra para dentro. Ela se ajoelha diante de mim, agarrando minhas mãos. Seu olhar é firme quando encontra o meu.
"Eu quero que você fique aqui, entendeu? Mesmo se tudo ficar quieto, fique escondida. O silêncio mente, Kessia, não se deixe enganar." Ela dá um beijo suave na minha testa antes de fechar a porta. Eu fico parada em confusão e choque; Não sei nada além do fato de que a escuridão está se fechando sobre a casa, nos engolindo. Eu me movo sem rumo no escuro, procurando por qualquer coisa que possa ser usada como uma arma se eu precisar de uma. Minha mão bate em uma vassoura de madeira e a agarro com as duas mãos. Eu a coloco no meu joelho e a puxo pra baixo , fazendo com que ela se quebre com força. Faço uma pausa, na esperança que não fiz um barulho muito alto, mas não ouço ninguém correndo em direção ao meu esconderijo. Passo o dedo pela ponta quebrada e sinto rasgar minha pele, tirando sangue. Eu limpo na minha calça antes de me acomodar contra a parede de trás do armário, com minha lança improvisada em minhas coxas. Eu estabilizo minha respiração tanto quanto possível e ouço. Está completamente silencioso, não consigo nem ouvir o murmúrio das vozes de mamãe e papai na cozinha. Talvez não haja perigo? Será que eles estavam enganados? Silêncio mente.
Ouvi um estrondo ensurdecedor que soa como a porta da frente sendo arremessada das dobradiças, seguido pelo som de vidro sendo estilhaçado. Prendo a respiração quando minha mãe grita, me esforçando para não gritar também. Eu ouço a besta disparar um dardo, mas é seguido apenas por uma risada baixa.
A voz estala e diz: "Sério, Tibérius, você realmente pensou que aquela piada de arma poderia me machucar?" A voz é profunda, gotejando maldade. O leve movimento de seus R's revela o fato de que ele não é de Lyura, mas sim das Ilhas, o aglomerado de ilhas que circunda nossa pátria. Eu chego mais perto da porta, esperando ouvir mais.
"O que você quer, Leukos? Eu lhe dei minha resposta e você prometeu que eu poderia ir livremente. Ou você é tão patético que não consegue mais cumprir sua palavra? " A voz do papai é fria, mas firme. Não o ouço recarregar a besta.
"Silêncio", rosna o homem, Leukos. Dou um pequeno suspiro quando o nome realmente é absorvido. Eu achava que era familiar, que eu tinha ouvido em algum lugar, e já tinha ouvido Leukos antes. Ou devo dizer Príncipe Leukos, herdeiro do trono de Nightfell, o Reino com o qual estamos em guerra desde antes de eu nascer. Por que diabos o príncipe de Nightfell está em Direwood, quanto mais em minha cozinha? Nenhum bom motivo, isso é bastante óbvio.
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Ring of gold - tradução - PT, BR
FantasiaVingança. Tristeza. Trevas. Esta é a vida de Kessia desde que seus pais foram assassinados. Como uma plebéia que agora vive entre nobres que possuem poderes elementais, ela descobre que o sangue não define o poder. Quando ela e seu grupo de amigos u...