Beverly Thomas

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A base do exército americano em Oregon era estranha. Os corredores eram tão enormes quanto vazios. Não naquele dia, digo eu. Afinal pela primeira vez em anos, passava sob custódia e algemas a ex-agente Bev. Uma mulher que já nos auge de seus quarenta e cinco anos, tinha servido mais que metade de sua vida aos Estados Unidos.

Depois de uns metros andando por entre as paredes, ela foi levada a uma sala. Posta sentada de frente para o novo general, já que ela própria assassinou o antigo anos antes. Com os cabelos castanhos e pixains caídos para trás por uma cordinha preta, a mulher estava enlouquecendo naquela cela donde passou os últimos cinco anos.

-Beverly Thomas - a voz do superior era grave e bastante rígida, o que incomodou a senhora que ouvia palavras que não as suas pela primeira vez - Condenada por homicídio e atentado a autoridade. Contudo, decidimos soltar a senhora por algumas razões.

Ela não responde. Apenas concorda com a cabeça, a movendo para cima e para baixa.

-Demonstrou bom comportamento durante sua pena - o homem fingia que lia alguns papéis, que foram jogados a mesa depois de fazer de conta que concordou com o que disse - E porque quando esteve servindo, foi uma das melhores agentes que tivemos.

Naquele momento, ela sorriu. Mostrou os dentes amarelados e suspirou.

-Devo agradecer a meu sargento? - ela deu uma gargalhada de leve, escorrendo-lhe até mesmo uma lágrima que foi secada com ambos os seus punhos, presos pela corrente da algema.

O general tossiu. Afinal, tinha que tanto manter a imposição quanto colaborar para receber atenção da mulher.

-Já fazem alguns anos que os soviéticos vem se infiltrando no nosso país. Durante anos, este foi um grande problema, mas talvez tenhamos achado uma solução.

-Eu já tinha uma fazia muito tempo - ela dizia, já com um sorrisinho moldado na face enrugada - Oferece uma garrafa de vodca e um revólver. Quem acabar morto, é certamente um comuna.

O general tossiu outra vez.

-Tu acredita em alienígena.?

-Acredito em ti, portanto...

Ele já estava se aborrecendo. Mas, suspirou e entregou para a senhora um arquivo com fotos e dados anotados com uma caneta azul.

Na foto, havia algo surreal. Um bicho cabeçudo, com dois grandes olhos da cor do mel, tinha uma pele gelatinosa e rugas. Era um ser nojento que ela não associou a nenhum animal conhecido. Achou que não passava de uma ilustração, talvez a ascendente chamada de computação gráfica.

-Este bicho se chama Azmuth. A NASA interceptou um OVNI se aproximando da órbita terrestre - aquelas palavras pareciam tão estranhas quanto o roteiro de um filme de terror trash. A ufologia ainda era uma ideia bisonha que nunca esperou ouvir com tanta atenção e seriedade - Junto dele, uma tecnologia muito mais avançada do que qualquer arma já vista na América.

Várias dúvidas surgiam na cabeça de Bev. Ela não sabia se estava acreditando. Quem sabe, não era uma pegadinha dos oficiais. Mas decidiu perguntar algo.

-Ele é o único?

-Não sabemos. Desde que o capturamos, ele não disse uma única palavra - lembrou de um detalhe importantíssimo - Ele não é ameaça. Tem menos de doze centímetros e pesa vinte e cinco gramas. Os biólogos da Área 51 dizem que mesmo de onde ele veio, não passa de um fraco.

Algumas reticências se fizeram. O silêncio perpetuou naquela sala como a luz da lâmpada que batia nas paredes e criava sombras como as que ela nunca viu naquele tempo.

-E a tecnologia? - desfez a calmaria com uma pergunta que assustou um tanto o general.

-Chamamos de Alien Watch - dropou mais uma foto para a mesa. Era algo similar a um relógio. com uma ampulheta verde no centro de um círculo.

-Nome sugestivo.

Tossiu - Os engenheiros, também da Área 51, descobriram sua finalidade. Acreditamos que o objetivo de Azmuth era infiltrar sua espécie adentro da América. Talvez, tenha até envolvimento com as explorações espaciais feitas na União Soviética.

-Como esse escroto ambulante ia se infiltrar?

-Veja bem. Sem nenhum teste feito no momento, o pessoal julgou que a capacidade desta arma é alterar a forma física de quem o usa. Provavelmente, Azmuth e os outros ratos vinham se infiltrar entre os americanos.

Agora, a primeira pergunta que tanto ecoava na mente de Bev vinha a tona.

-E o que eu tenho a ver com isto? - coçava, com as próprias algemas os seus cabelos crespos - Querem que eu pise no bicho e faça ele entregar seus planos? Acho que até um recruta faz isto, mesmo com as mãos amarradas.

-Temos algumas pistas, vindas de relatos e boatos a respeito de soldados soviéticos aqui. Queremos que você os averigue e traga informações deles para nós.

-Acha que os metidos vão se entregar para uma mulher de um e sessenta? Eles matam ursos - deu uma risada leve, mas ainda assim com um pingo de susto.

O general começou a suar. Andou como um cavalo pomposo até a porta de saída, que abriu em um gesto tranquilo. No corredor, haviam vários soldados armados em posição de descansar e homens vestidos em jalecos. "Levem-na" disse o homem, como um real comandante de palavra dura e direta.

Bev 10 e a Sociedade AlienígenaOnde histórias criam vida. Descubra agora