A Ciborgue Púrpura

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Bev caminhava pelas ruas de Nevada. Era bem frio apesar de estarem em um verão de hábito escaldante. Ela não estava mais transformada no que apelidou, em um momento de adrenalina, como o Calafrio.

Uns minutos após a fuga, retomou seu corpo pequeno e gordito. Enquanto voava, aquela forma gélida e azul começou a brilhar num forte verde e começou a se encolher e alargar-se, perdendo o aspecto magro e comprido e criando seus cabelos crespos.

Estava andando com as mesmas roupas. Um top preto com um rasgão enorme nas costas e uma cueca samba-canção que a beirava os joelhos. E, ainda numa péssima relação de medo com o seu Alien Watch.

Ela indagava muito sobre todo aquele dia. Testou por dias e mais dias aquela tecnologia que parecia tão inocente. Há tanta vida nesse universo? Humanos, os calafrios que lhe ajudaram, e ainda mais a espécie de Azmuth. Ele! O criador de todo este problema.

Bev decide seguir o que aprendeu sobre o Alien Watch. Aperta, com seus curtos dedos a ampulheta no centro do relógio. A primeira coisa que lhe aparece é um holograma de Calafrio sobre um losango. Nas primeiras semanas, o que ela via era a silhueta de Igor, o russo das roupas de slasher. Sob aquela projeção do extraterrestre, ficava um cilindro com vários fios de cor verde que se conectam ao círculo central.

Ela percebeu que aquilo era como uma câmera, que podia ter o filme girado. E então, tenta rodar. Virando alguns graus para a direita, Calafrio desaparece e é mostrada outra forma. Um homem careca de uns dois metros de altura e largura, afinal tinha ombros gigantescos e... Quatro braços. Roda mais uma vez e vê uma espécie de fantasma, com apenas um olho na cabeça que é apontado por várias linhas negras, com correntes presas ao pescoço e pulsos.

Ela não queria se transformar. Estava apavorada com todo aquele caos da manhã. Aprendeu que quando pressionar o cilindro, ela iria ter a forma mutada. Aperta então, dois botões laterais para que o relógio se feche.

Ela já estava perdida. Não queria ver ninguém, mas não estava em posição de querer qualquer coisa naquele momento. A sua frente, chegava uma motocicleta gigante, com muitos canos de escape em várias direções do veículo. A luz do farol era lilás, e iluminava bem o rosto de Bev, muito cansada. Ela para de andar e esconde o Alien Watch em suas costas.

O motoqueiro é revelado. Descendo de sua máquina, uma mulher com roupas roxas de couro e calças legging pretas. Usava botas marrons. De capacete, seu braço era o que mais chamava atenção. Com um grande revestimento metálico repleto de luzes brilhantes, provavelmente de neônio. Ela estala seus dedos um por um, dando crecks que podiam ser ouvidos por até um carioca a beber na praia.

Depois de segundos encarando, ela ergue o braço. Aponta dois dedos grudados para Bev. A soldada estranha aquela ação, sem muito direito de perguntar o que estava acontecendo assombrada pelo seu próprio temor. E então, da mão da motoqueira é disparada uma enorme onda de luz! Era roxa e rosada, e mesmo com cores amigáveis, a heroína percebeu aquilo como um ataque, se atirando ao chão agachada e virando uma cambalhota para o lado, com muita destreza. O raio púrpura atinge uma lixeira de alumínio ao fundo da rua, que tem sua forma destruída em uma espécie de magma magenta.

Bev sabe o que ela é e o que quer. Já que não viu seu rosto, tinha certeza que era sim um alienígena disfarçado. Mas ela seria párea para o conhecimento de combate corpo a corpo da militar? Ela corre para a poderosa mulher enquanto ela recarrega sua energia bisonha. Ao se aproximar, repara no quanto ela é alta. Mas isto não a assustou. A pegou pelos cotovelos, dando-lhe um susto. Depois, põe o pé pelado em sua virilha e se joga contra o chão, empurrando com um chute a inimiga para longe. Se levanta em um salto, fazendo uma breve massagem nas costas doídas. Então, começa a estugar em frente após derrubar a moto de lado.

Sai disparada pela rua. A ameaça fica para trás, demorando para se levantar, juntar seu transporte e voltar a corrida. Quando estava mais uma vez montada na motocicleta, Bev aproveitou um beco fino que dava na rua ao lado. Entrou nele, pois soube de olho que a mulher não seria capaz de a perseguir por ali. Cruzou uns vinte metros de paredes laranjas e apertadas, chegando em uma outra rua vazia.

Decide subir em um prédio, usando seus conhecimentos básicos de parkour. Contudo, o golpe que desferiu na inimiga lhe deixou com bastante dor. Ela não conseguia mais andar tão bem depois que perdeu aquela adrenalina.

Mas, mesmo assim, foi até a parede de um prédio. Observou com atenção todos os parapeitos, grades e varandas. Deu um salto para uma barra de ferro que cercava uma persiana e começou a subir, pé a pé, na parede. Se colocou acima da janela e foi escalando através de cada elevação de nível naquela subida íngreme.

Depois de uns minutos, estava na cobertura. Tinha muretas altas, que foram úteis para que ela se escondesse.

Ficou ali um tempo. O necessário para reerguer suas energias. Sua respiração era pesada ao olhar para as estrelas brilhantes. A lua era tão linda quanto a que via com sua filha, seis anos antes. A calmaria da noite com grilos a cantar notas congeladas.

A tranquilidade logo acaba. Uma grande explosão de raios, mais uma vez púrpuras, acontece ao lado de Bev. Ela se ofega com o susto, olhando por trás do muro e vendo a mulher, mais uma vez. Desta vez, seu braço tinha algo parecido com um canhão saindo de seu antebraço.

Naquele momento, não havia mais saída. Pressionou a ampulheta e foi girando a película, pensando em uma estratégia. Mais uma explosão acontece, desta vez deixando uma pequena faísca cair no ombro dela. Com um suspiro de dor, ela tenta refletir mais rápido.

"Ela usa uma moto" Bev pensou. Obviamente, isto lhe lembrou que ela não poderia a alcançar nos céus! Tentou achar o Calafrio de novo, contudo demorou muito para que ele aparecesse. Nisto, ela decide usar um outro que também tinha asas. Respira fundo, enquanto ouve mais um tiro sendo carregado. Ela pressiona o relógio.

Aquele brilho verde se faz uma vez mais. Desta vez, crescem dois chifres dourados em sua cabeça, que fica achatada e com olhos puxados e verdes. Dois relampagos negros se formam até o peito, que mostra o símbolo do Alien Watch. Sente seu sovaco ser puxado, e a forma começa a criar asas como se fosse uma arraia, mas amarelas e com o resto do corpo vermelho. De suas costas, cresce uma cauda longa e rubra que faz a cueca cair um pouco. O top é rasgado pelos braços. O brilho acaba, e ela acredita que está totalmente transformada.

Mais uma explosão rosa acontece. No entanto, não foi veloz o bastante para atingir o...

-Arraia-à-jato! - ela berrou com uma voz ranhenta.

Em um breve salto, ela sai voando. Em segundos ou menos, ela já se encontrava a uma grande distância da ciborgue. Bev continua ofegante, pois não teve muito tempo para retomar a respiração e tranquilidade. Em alguns momentos, ela se sente totalmente equilibrada em suas emoções.

Os chifres eram molengas e voavam contra o vento.

Um som começa a incomodar. Como o ronco de um motor bem estridente. E então, mais um tiro de laser roxo é disparado. O instinto de Arraia-à-jato faz ele desviar. Nisto, Bev percebe que ele irá ajudar bastante na ocasião.

Olhando para trás, percebe algo surreal. Ela está montada em seu veículo, com as rodas viradas para baixo com ondas de energia sendo guiadas e fazendo ela levitar, ainda numa velocidade absurda.

Vários tiros são lançados contra ela. E mesmo que eles não fossem um problema, a moto começa a chegar muito perto. A cauda vermelha seria uma desvantagem, já que é bem longa e por balançar no ar como se fosse uma minhoca tonta, pode acabar sendo pega no corpo-a-corpo.

Quando então, o seu instinto animal se desperta outra vez. Quando um dos disparos da ciborgue ia atingir seu rosto, Arraia-à-jato acaba gerando um potente raio de energia de cor verde através de seus olhos, atingindo a motocicleta.

Nisto, o pneu é furado. Mesmo que fora do chão, o veículo acabou sofrendo muitos danos, perdendo um pouco de altitude. Bev pensou que enfim, estava livre! Viu a mulher caindo como uma sacola pelas tentativas de reanimar a moto. Até que, enfim, desiste! Ela tira o capacete que lhe cobria o rosto, revelando cabelos cacheados de cor negra. Seus olhos eram puxados, mas ficavam cada vez maiores conforme após um salto, ela se aproximava do monstro alado. "Impossível que me alcance!" Foi o que Bev pensou logo. Contudo, vê a moça oriental projetando uma explosão rosa que a propulsiona aos céus.

Ela agarra a cauda de Arraia-à-jato. 

Bev 10 e a Sociedade AlienígenaOnde histórias criam vida. Descubra agora