Surtur Jormungand era o homem mais rico e poderoso de Vardo, também o mais inescrupuloso. Ele já havia visto Eirik, com o pai, na cidade e, desde então desejava possuir o garoto. Quando soube da situação financeira da família e de como o pai não se importava com ele, percebeu que tinha a oportunidade perfeita para satisfazer seus desejos. O garoto agora pertencia a ele, faria tudo que ele mandasse, além de satisfaze-lo.
Eirik pegou suas poucas coisas e, sem opção, seguiu com o homem. Bem rápido percebeu quais eram as intenções de Surtur e, mesmo com dificuldades, conseguiu durante muitos dias, fugir das investidas do homem, mas seu destino, como ele já sabia, não reservava coisas boas.
Era uma tarde chuvosa, o dia era cinza e começava a cair um pouco de neve, uma grande tempestade estava chegando, ele sempre teve medo delas, mas aquela tempestade ficaria marcada para sempre em sua alma.
- Que bom que você está em meu quarto. – Surtur falou quando o viu arrumando o lugar.
- Eu já acabei senhor. Com licença.
- Você não vai a lugar nenhum. Eu comprei você para me servir. Estou cansado de esperar. – Ele foi até o garoto e rasgou sua camisa. – Vou possuí-lo agora.
- Por favor senhor... – Eirik tentou fugir, mas foi agarrado pelo homem.
- Você me pertence e eu vou me satisfazer.
Sem se importar em machucá-lo, Surtur o jogou no chão. Arrancou sua calça e deu um tapa em sua bunda. Tirou seu membro, que já estava duro e, sem a menor delicadeza, começou a penetrá-lo. Eirik tentou gritar, mas o homem tampou sua boca e, como um animal doentio, estocava com força. Eirik sentia muita dor, lágrimas de dor, tristeza e desespero caiam de seus olhos.
Quando Surtur acabou, Eirik sentia dor por todo o corpo. Viu que sangrava. Ele chorava.
- Agora você vai me satisfazer sempre. A noite eu quero que você esteja aqui e não me obrigue a machucá-lo. – Ele saiu do quarto, largando o garoto no chão em prantos.
...
Os meses que se seguiram, foram de abusos constantes. Como Eirik era arredio, Surtur o trancou, ele era retirado do porão, apenas para satisfazer ao homem. O garoto apenas implorava pela morte, ele desistiu inclusive, de cantar a antiga canção de ninar, entendeu que ninguém nunca o ajudaria, só a morte poderia libertá-lo.
Com esse entendimento, começou a planejar como tiraria a própria vida. Essa era a única forma de salvação que enxergava. Para sua surpresa, algo aconteceu para ajudá-lo. Surtur não o abusou por três dias, ele pode ouvir, pela porta, que o homem estava ocupado, pois haviam relatos de uma criatura atacando os moradores do condado e como ele era o governante, era sua responsabilidade cuidar daquilo.
Eirik não acreditou que existisse uma fera, sabia que os homens eram os animais irracionais, desejou estar na floresta e ser ele a próxima vítima de quem quer que estivesse fazendo aquilo, mas pelo menos, ganhou tempo para arquitetar o que faria. Em uma das refeições, que foram servidas, conseguiu esconder uma faca, iria acabar rapidamente com sua vida, mas quando iria cortar sua garganta a porta foi aberta. Ele conseguiu esconder a faca e foi arrastado para satisfazer Surtur.
Quando chegou ao quarto, pegou a faca e tentou novamente, mas Surtur entrou nessa hora e o impediu. Alucinado, pois não suportava mais tanto sofrimento, ele tentou atacar o homem. Surtur era maior e mais forte que ele e o impediu facilmente. Ele o espancou e o violentou com mais força ainda.
- Eu já me cansei de você. Nem prazer você me dá mais. Você quer morrer? Pois bem, vou resolver isso.
A crendice do povo, dizia que a fúria da fera, só poderia ser contida quando ele matasse. Ninguém havia morrido ainda, apenas haviam sido feridos. Surtur não acreditava nisso, mas era evidente que algum animal estava atacando as pessoas, com isso, para satisfazer o povo e, quem sabe, acabar com os ataques, decidiu que mandaria Eirik para a floresta, assim se livraria do problema que o garoto se transformara.
Deu ordem para alguns homens o levarem o mais profundo possível, floresta a dentro, e que, antes de deixa-lo, deveriam dar mais uma surra, assim o sangue ajudaria a atrair a tal fera ou animal, como ele acreditava ser.
Eirik foi deixado, após apanhar muito, semiconsciente, ao pé de uma árvore. Quando conseguiu acordar, sem noção de tempo ou de onde estava, chorou por tudo que havia passado. Sem forças para se mexer, se ajeitou o melhor que conseguiu e implorou.
- Mãe... a senhora disse que me ajudaria... por favor... que essa criatura exista... que ele acabe com meu sofrimento... – Mesmo com muita dor, ele fechou os olhos e começou a entoar a cantiga, que sempre fora seu único alento.
"O lobo está uivando na floresta da noite
Ele quer, mas não consegue dormir
A fome rasga seu estômago úmido
E está frio em sua toca
Lobo, lobo, você não vem aqui". Não, por favor venha... – Ele disse
"Eu nunca vou deixar você levar meu filho". Por favor me leve...
"O lobo está uivando na floresta da noite
Uivando de fome e gemendo
Mas eu vou dar-lhe um rabo de porco". Pode se alimentar de mim...
"Que combina com um estômago de Lobo
Lobo, lobo, você não vem aqui
Eu nunca vou deixar você levar meu filho" Por favor, acabe com isso...
Eirik se sentiu observado e, quando abriu os olhos, viu, parado a sua frente a fera. Era uma criatura gigantesca, meio humanoide, mas com características de um lobo. Possuía calda e pelos, que eram cinza azulados. Seu focinho exibia seus dentes, suas presas. Eirik sorriu.
- Obrigado... você existe... por favor... acabe com isso... – Ele, sorrindo, começou a cantar novamente, mas dessa vez como forma de agradecimento.
A criatura se abaixou e o garoto pode ver seus olhos vermelhos, ele não teve medo, se sentia feliz por, finalmente, estar livre de tanta dor. A fera não o atacou, ele começou a cheirá-lo e, passou suavemente, uma de suas garras nas lágrimas que caíam, ele levou a boca e provou. Aproximou seu focinho do rosto do rapaz e passou a língua.
- O que você está fazendo? Por favor... me mate...
O homem lobo o segurou pelos ombros e olhou para o céu, soltando um uivo ensurdecedor. Eirik não conseguia entender o que estava acontecendo e por causa da dor que sentia acabou desmaiando novamente.
...
Quando Eirik acordou, estava deitado em uma cama simples, seu corpo ainda doía e, com esforço, conseguiu se sentar. Observou o cômodo, estava em alguma cabana, era evidente, mas de quem seria? Será que a criatura morava ali? Tentou se levantar e foi impedido por uma voz feminina.
- Você vai se machucar se tentar se levantar, ainda está muito fraco.
- Onde eu estou?
- Em uma cabana na floresta. Eu o encontrei e o trouxe para cá, estou cuidando de você a seis dias.
- Seis dias? Quem é você?
- Sou Eir Syn, mas as pessoas me chamam de a velha da floresta.
- A criatura... eu a vi... por que ela não me matou?
- Talvez ele tenha achado que você morreria logo.
- Eu gostaria disso...
- Não diga bobagens meu rapaz, toda vida é importante. Qual o seu nome?
- Eirik Bálder... minha vida não vale nada senhora....
- Me conte o que a criatura fez? – Eirik contou os flashes que se lembrava. – Interessante, muito interessante...
- O que é interessante?
- Ele não te matou, não por achar que você morreria e, sim, por causa da canção que você cantava.
- É só uma canção idiota... mas ela é tudo que eu tenho...
- Ele também. É tudo que ele tem.
- Ele?
- Você pode ficar aqui, ninguém se atreve a vir aqui, você estará seguro. Enquanto se recupera eu vou te contar uma história e você me conta a sua.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A canção do Lobo - Conto LGBT
ContoAo norte dos países nórdicos, fica localizado o condado de Vardo. O pequeno povoado conta com um dos únicos portos da região ártica, favorecido pelas correntes do Atlântico Norte, que impedem que suas águas fiquem congeladas, como o restante da regi...