Felling Good

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Ergui o corpo da cadeira ouvindo os pequenos estalos da coluna, acabei franzindo o cenho com o barulho, o setor estava em um estado silencioso de dar calafrios e os sons de ossos não pareceram agradáveis pelo ambiente.

A verdade é que, absolutamente tudo, parecia me dar calafrios hoje.

As coisas em geral pareciam tenebrosas, como se fosse pular um enorme monstro dos cantos escuros.

Aniversário de casamento.

Aí estão duas coisas que eu nunca me habituei totalmente, aniversários, ficar velho não era agradável a ninguém, e a ideia de estar casado ainda parecia utópica. De certo modo o contexto era agradável, comemorar mais um ano de união, cooperação e felicidades. Eu era feliz, extremamente feliz.

Não havia o que reclamar, eu tinha um emprego bom, o qual sonhei desde criança, e ele não era apenas estável como estava em completa ascensão, um casamento agradável e cheio de companheirismo, três filhos carinhosos e inteligentes, em suas individualidades, melhores amigos presentes e tantas razões há mais para ser um cara feliz, e bem, eu era.

Meu casamento com Draco Malfoy-Potter, sempre foi algo intenso, afinal Draco era uma pessoa intensa, ele era como o mar, totalmente imprevisível, profundo e você não saberia dizer ao certo o que há nas profundezas nem com anos de estudo. Mas eu também sou alguém difícil, tenho certeza que se perguntarem a qualquer pessoa que convive comigo uma definição sobre mim a palavra que viria seria impulsivo, mesmo que eu prefira imprevisível, mas Draco diz que não sou uma pessoa impossível de prever e sim de controlar.

E como sempre, ele está certo.

Mas, ele também era.

Desde o começo fomos incontroláveis.

Duas pessoas levemente inconsequentes, curiosas e ambiciosas.

Eu tinha acabado de completar vinte e três anos, um novato na polícia, um fedelho tentando sustentar um filho de três anos e cheio de sonhos, um em especial: me tornar investigador. E quando precisa se estabilizar em um emprego novo você tende a aceitar qualquer tarefa, então fui bem inconsequente ao ir sem pestanejar quando o chefe do departamento me chamou para acompanhá-lo.

Com meus dois anos apenas de casa, nenhum dos meus colegas se deu o trabalho de me avisar o buraco que estava me metendo. E sendo honesto, no lugar deles eu também não faria isso. Só me atentei a tudo isso conforme fui andando pela enorme mansão e lembrando, que diferente de outros casos, ninguém tinha pulado da cadeira por esse.

O lugar era imponente, beirando o macabro, havia uma figura esguia e elegante no topo da escadaria, parecia avoado olhando um prancheta. Lembro claramente de devorá-lo com o olhar conforme ele descia os degraus, recebendo um cutucão de meu chefe. Fui apresentado à Draco Malfoy, e mal consegui formular meu nome quando apertei os dedos compridos contra minha palma.

Apesar do nosso primeiro encontro ter sido digno de novela, eu estava ali para trabalhar, e o motivo não era tão doce, ou sedutor, quanto o homem de cabelo loiro. O pai de Draco tinha sido assassinado, sem muitas pistas, e o criminoso ainda deixou o corpo na divisa do jardim da mansão com o terreno ao lado.

Os procedimentos padrões haviam sido feitos, como reconhecimento do corpo, levada ao IML, o teste forense, estávamos ali para pegar o testemunho dos funcionários e do próprio filho, enquanto esperávamos a autópsia.

Foi um dia infinito, sempre aparecia mais alguém, um faxineiro, alguém da cozinha, ou alguma pessoa contratada para uma função muito específica, como a mulher que cuidava da preservação dos jogos de cama, nunca recolhi tantos depoimentos na vida, e pela cara de meu chefe, nem ele. Cada segundo naquele lugar me mostrava o motivo de ninguém ter feito questão de vir.

Boy to Heaven ♡ DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora