Vezes Sete

Capítulo 2 - "Um belo dia de sol"

Lilye colocou uma roupa casual, "própria para uma caminhada num lindo dia de sol", ludibriou. Pensava em andar pela cidade, já que havia sido uma noite muito produtiva e esperava encontrar desafios maiores.

Gostava de colocar seu corpo em repouso durante o dia e vagar com sua alma entre trevas, chamas e fumaça negras. Descia para visitar seus pares e escutar os sofrimentos de almas e angústias. Era prazeroso andar sobre os amontoados de prisioneiros fétidos implorando por um pouco de alívio e perdão.

Não era seu perfil sair durante o dia, tinha separado sua legião para trabalhos noturnos e diurnos. Enganasse quem pensa que não são organizados, talvez pela descrição do lado "mal" sempre dar a impressão de escuro, sujo e fedor. Não! Há uma preocupação do lado "bom" e isso já explica muita coisa.

Tinha a liberdade para trabalhar como queria e sentia a necessidade de mudar a maneira que buscava suas almas. Precisava ampliar seus horizontes e buscar por alternativas mais alcançáveis, amplas, que atingisse muito mais pessoas.

Havia tomado essa forma atual no tempo presente, tinha certo prazer em usurpar formas femininas e mesmo que se tomasse por homem, ainda assim mantinha algumas de suas atitudes mulheril. Estava no caminho dessa linhagem por gerações, induzindo seus antepassados a práticas pecaminosas e corruptas, se mantendo em uma maldição hereditária. Abusos emocionais e perturbações mentais eram algumas das características que os mantinham como heranças espirituais.

Enquanto caminhava entre presenças, energias, cheiros e desejos, sentia quando almas aflitas movimentavam ao seu redor. A confusão mental e a instabilidade podiam ser percebidas através de olhares e mãos inquietas, a partir daí, usava todos os sentidos a seu favor. Não podia ler pensamentos, então tinha o poder de observação sensacional, assim como a inteligência em estratégias. Procurava por algo para começar seus planos, entrar na mente com palavras, conquistar mais almas e trazer mais dos seus. Tornando o corpo habitável.

Não ia mais rodear igrejas em busca de almas que possam fazer trocas ou escutar orações desesperadas para mudar vidas e lhes oferecer facilmente a solução. Iria vagar e procurar almas suaves e limpas para ter um sabor melhor no final, mesmo que isso fosse um risco ou até mesmo uma perda. Tribulações e dificuldades fazem as pessoas quererem encurtar os caminhos. Talvez a persistência e paciência de Jó, não serviriam para todos. E realmente não serve.

Não passava despercebida em sua caminhada, sua aparência visual e seu comportamento eram próprios para atração. Se saciava com olhares de desejos e luxúria, mantinha uma postura arrogante e impávida. Não via a vontade do coração e sim da razão, da carne, do mundo.

- Você é uma delícia. Cantou um homem perto de meus ouvidos, dando um assobio no final.

Nenhum pouco atraída, olhou pelo canto dos olhos para a espécime que cuspia aquelas palavras, num conflito de decisões e optou por afundar ainda mais aquela alma. Devolvendo-lhe um olhar de desejo, incentivando seus atos, provando de sua alma falha e fútil.

- Típico. Sussurrou.

Vasculhou ao redor em seus sussurros e vozes, como se pedisse informação.

- Mulher e filhas, está aí uma alma fácil de ser conquistada e destruída. Principalmente quando esses desejos não são aceitos pela outra parte do acordo de amar, respeitar e felizes para sempre. Sorriu, confirmando o interesse com um leve aceno positivo com a cabeça. Nem precisava se dar ao trabalho.

Deu de ombros e continuou com sua caminhada, quando algo lhe tirou os pensamentos e chamou atenção, um alerta em especial. Um som alto de ferros torcidos e freadas bruscas, seguidas de passos e vozes misturadas com sons de almas aflitas e desesperadas. Buscou ao redor para entender da onde vinha a suplica e a uma pequena distância, ao virar o quarteirão, se uniu a um pequeno grupo que se aglomerava. Foi abrindo caminho, sentindo o sofrimento mais presente, seus pensamentos se organizando e entendendo as súplicas.