Sinto, e provo a água
O gosto é inesperadamente horrível
Mas bebo mesmo assim
Bebo como um cachorro
Enfiando minha cara em busca dela
Sinto gosto de sangue
Meu sangue
Mas não paro
A sede é tanta que sinto que nem toda a água do rio seria suficiente
Até que é
Por um tempo não sei o que fazer,
Então começo a me molhar
Sindo a sujeira sair
E com ela minha dormência
De repente a dor volta
Meus ferimentos se abriram ao molhar
E a dor é tanta que tudo gira e eu Caio
Quando toco o chão sinto a pior dor que já sentir, não consegui nem mesmo gritar,
A dor é aguda,
Algo está preso no meu tornozelo
Aquele ao qual eu estou em cima
Não consigo me mover
Nem fazer nada
Preciso fazer algo mas o que?
Doi, doi como....como o que?
Não há palavras, nem pensamentos
Meu mundo gira
Mas não vou ceder a escuridão dessa vez
Doi, mas eu estou consciente
Me arrasto e cada movimento é como se estivesse sendo rasgada de novo, urro e grito,
Tento me levantar agarrando uma árvore, mas mal consigo elevar meu tronco e toda a força que tinha até aquele momento se foi, com muito esforço, consigo me sentar escorada nela, o sol queima minha pele, mas esse é o menor dos problemas quando fechei meus olhos
Mas não consegui descansar,
Como poderia? Com uma dor infernal daquelas?
Me levantar foi uma luta,
Em vão por dois dias,
Sei que foram dois dias pois é a segunda vez que escurece, a primeira noite foi um inferno, com certeza há mais animais a noite, barulhos assustadores, bem diferente dos alegres de dia, alegres? Como posso pensar numa besteira dessa? Sons de pássaros, admito que irritantes o suficiente para eu achar que eles estavam zombando de mim, eu? Que diferença faço nesse lugar? Para que os animais venham prestar atenção? Provavelmente estão avisando aos carnívoros que há uma presa disponível, passei a noite entre a consciência e inconsistência com essa possibilidade, delirava que algo estava vindo, algum felino, uma cobra, ou qualquer outra coisa, é sentia, ouvia, e via algo em frente a mim, mas quando olhava de novo, ou melhor, acordava, não havia nada lá, talvez não houvesse nada me perseguindo quando entrei nesta floresta também,
Imóvel
Eu mal respirava
Talvez por isso
Algo passou do meu lado
E eu agarrei, não ia morrer sem lutar depois de tudo isso
Parecia um gato, mas bem maior, um filhote talvez, ele debatia e arranhava meu rosto mas eu segurava a cabeça e mantinha sua boca fechada, não antes de ele morder meu dedo indicador, dois, ele estava lutando pela vida tanto quanto eu, no desespero bati sua pequena cabeça na raiz da árvore o mais forte te consegui, quantas vezes consegui, e só percebi que o animal não se movia quando já não aguentava mais bater, sangue escorria da sua cabeça e manchava a raiz, o chão e minhas mãos
Olhando para seu corpo morto, cheirando a sangue, eu soube que ele não era nenhuma ameaça,estava escuro mas parecia só um gato, como aquele que eu levava comida de vez em quando, pensar nisso, me fez vomitar, e eu continuei vomitanto até que realmente não tinha nada no meu estômago, fazia dois dias e pouco...ou talvez mais que eu não comia, de onde veio tudo isso?, me arrastei ao lago com o corpo do gato, depois de beber novamente toda a água que eu pude comecei a limpa-lo queria enterra-lo dignamente, Mas minha barriga roncava, eu não sou idiota, sabia que tinha que comer ele, eu chorei mais ainda e continuei chorando mesmo quando com as mãos e um pedaço de madeira comecei a abrir ele, chorei e comitei quando comecei a tirar as parte de dentro como vi alguém fazer com um coelho uma vez, tirei o máximo que consegui, cherando comi o coração, mas o resto não sabia o que podia comer ou não, queria tirar a pele, não consegui, comi o que consegui e engoli meu choro e vômito também, depois enterrei o que não comi, senti que poderia ter comido mais, como o cérebro, mas deixei a cabeça intacta, o quão intacta ela poderia estar depois do modo como ele foi morto, morto por mim,
O resto da noite, não consegui me mover, dessa vez não de dor, mesmo que a dor ainda estivesse lá, ainda que agora eu acho que minha perna inteira está dormente,
Não me movi pois não sabia o que fazer, ou o que pensar, eu matei ele, e comi, é diferente ver uma galinha ser morta em um corte limpo que arranca sua cabeça, eu já vi, e na hora só pensei que "as do mercado são o mesmo" "eu preciso comer", "é o ciclo da vida", "ao menos ela não sofreu", é diferente quando o animal luta pela vida, mesmo agora tento repetir, "eu preciso comer, se não agora seria depois", tento pensar que dei um enterro, ao mesmo tempo que penso que isso são valores humanos, se não culturais, e então penso se não devia ter aproveitado o máximo pocivel se isso seria mais honrado, mas depois pensei, "ele já está morto"
E dormi com isso em mente, isso e a convicção de que eu não posso morrer, para não desperdiçar a vida que esse pequeno animal me deu, ele e todos os animais que foram mortos sem nem mesmo a chance de lutar para que eu pudesse viver até aqui
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tudo começou quando eu vi a floresta
HorrorQuando eu era menor, costumava me esconder nos seus arredores, isolada, observava, observava aqueles que não se aproximavam, me escondia pois tinha medo, pois tinha raiva, inveja, admiração, me escondia por qualquer mínimo motivo a floresta se torno...