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Capítulo 01- A cidade cinza de outono: Hélios

ATENÇÃO; O dream cast dos personagens tá no " capítulo 42" pra quem quiser ver, é só procurar no sumário ( mas é melhor evitar os comentários se não quiser spoiler) ! :)

Por pouco Nicolas Kinsey não perdeu o último trem para Hélios, o que seria terrível já que teria aula no dia seguinte.

Quando era pequeno, ele se lembrava que existiam outras formas de chegar até a cidade, mas conforme os anos passaram, o local foi se tornando mais recluso- até mesmo seleto, como se intenção fosse justamente afastar os forasteiros. O garoto achava estranho, porque a tendência das cidades é a urbanização, mas Hélios parecia gostar de restringir o acesso.

Tudo isso trazia um ar pacato de cidade pequena, o que não era verdade. Hélios era uma típica cidade sulista de porte mediano e grandes construções. Também não era antiquada, como os de fora supunham. Tinha suas próprias rendas e a própria tecnologia.

Nick gostava do clima de lá, parecia estar sempre num tipo de outono cinzento. Outono era a sua estação preferida.

Ele enrolou o cachecol, que insistia em escorregar do pescoço, e abriu o livro que havia trazido para ler durante a viagem. Ao seu lado, as árvores passavam como borrões pela janela.

Seus pensamentos o levaram até a noite anterior, fazendo sua concentração dispersar por diferentes áreas enquanto tentava entender as palavras que estava lendo. Mais uma noite mal dormida, pensou. Sua cabeça estava pesada e latejando. Pelo menos, a dor havia passado.

Ele não sabia ao certo o que estava acontecendo. Tinha vezes que acordava mais cansado do que quando dormia, tudo isso porque suas noites estavam sendo conturbadas. O motivo, ele sabia: paralisia do sono. Costumava ter com muita frequência na infância, porém já havia anos que não acontecia. Para ele, não fazia o menor sentido, no auge dos seus vinte anos, ter que passar por aquele transtorno novamente. Tinha coisas mais importantes para se preocupar...

Como ter que voltar a conviver com o irmão mais velho. A priori, tinha ciência de que seria estressante.

Ambos passaram a infância juntos, mas após a separação dos pais, cada um foi para um lado, ficando Nicolas sob os cuidados da mãe e Cristiam sob os descuidados do pai. Ele e o irmão se viram poucas vezes depois disso- nem se lembrava qual fora a última vez, mas fazia muito tempo mesmo. Cristiam costumava ser muito resiliente... com tudo.

Nick não entendia direito porque, talvez tivesse sido privilegiado e o irmão se senti-se lesado por isso. Se fosse o caso, não o culparia. Michel sempre foi um pai relapso. Teve sorte por não ter sido obrigado a conviver com ele.

Nick chegou em Hélios as cinco da tarde. A cidade continuava a mesma, terrosa e sombria como uma tarde de outono. A arquitetura de todas as casas da cidade tinha algo muito próprio dali, era nostálgico. Enxergou sua antiga casa de longe, pedindo para o motorista do táxi parar na frente.

Estava feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por ter passado na Academia Montre Consolatrix, melhor universidade de cálculos do país. Triste, ou melhor, frustrado, por saber que teria que ser muito paciente dali para frente.

_ Pode me ajudar com as malas?- ele perguntou ao motorista, já sabendo que Cristiam não seria gentil a esse ponto.

Nick notou que a janela da casa foi fechada assim que saiu do carro. Era isso que chamava de uma recepção hospitaleira.

_ Isso, por aqui- ele guiou o homem, já do lado de dentro da casa.

O lugar tinha o mesmo cheiro de que se lembrava, mas sem o perfume adocicado da mãe que costumava circundar por cada canto dos cômodos, ou as flores que a mesma colocava em cima de tudo. Era o mesmo lugar, só que mais cru. Sem vida.