Apenas uma noite

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Era uma noite fria de inverno em Londres.

A neve caia torrencialmente, cobrindo tudo o que via pela frente. Edith estava sentada a lareira, fazendo algumas correções em seu livro. Enquanto escrevia, uma mãozinha pequena puxou a barra de seu vestido, fazendo-a voltar-se para seu interlocutor.

—Olá, meu amor.- a escritora falou, pegando a pequena criança no colo.

—Mamãe, a senhora pode ficar comigo? Estou sem sono e não queria ficar sozinho..- o pequeno garotinho falou deitando a cabeça no braço da mãe.

O menino estava na casa dos cinco anos. Tinha olhos verdes e o cabelo preto ondulado. Era uma cópia idêntica do pai. O pai que ele não pode conhecer, devido aos tristes ocorridos. Edith olhava com carinho para a pequena criança, lembrando de Thomas Sharpe, o único homem que ela realmente amara.

—Mas Thomas, meu bem, mamãe está ocupada agora. Por que você não vai brincar com sua babá? Ela gosta tanto de você.

Thomas ergueu a cabeça, com os olhinhos tristes já regados pelo choro. Ele olhou para o manuscrito encima da mesinha e suspirou:

—Tudo bem mamãe. Eu entendo.- o pequeno respondeu, descendo do colo da maior, caminhando lentamente em direção da porta.

Aquela cena partiu o coração de Edith. Ver seu filho triste nunca fora sua intenção, mas a medida que seus manuscritos eram publicados mais ocupada ela ficava, o que a tornava ausente na vida do menino. Meneou a cabeça. Isso não estava certo. Então após fechar a capa de seus textos, ela correu e pegou-o nos braços, surpreendendo a criança que agora gargalhava com vontade enquanto ela fazia-lhe cócegas.

Edith levou Thomas até a cama e pondo ele ao seu lado, deitou-se. Era impossível não olhar para a criança e lembrar de seu pai. Parecia que já haviam se passado tantos e tantos anos, mas fora algo tão marcante, um trecho tão significativo de sua vida, que tudo parecia ser recente.

Alguns anos já haviam passado, e ela ainda podia se lembrar claramente da noite em que consumou seu casamento. Da noite em que teve seu marido só para si.

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Nevava muito.

Eles haviam ido ao correio. Enquanto Thomas pegava algumas peças para sua máquina, Edith foi receber as correspondências. Enquanto olhava os remetentes, Thomas se aproximou:

—Edith. A tempestade está chegando. Temos que ir logo, senão temo que não possamos chegar em casa.

Ela o encarou. Não estava com pressa de retornar a mansão. Aquela casa a assustava, com suas assombrações e fantasmas. Tinha que ficar longe dali, ou acabaria ficando louca. Thomas a olhava com certa urgência. Ela sabia o quanto a casa era importante para ele, mas ela não queria perder chance de sair de lá e ficar a sós com seu marido, nem que por um dia.

Antes que ela dissesse algo, um funcionário falou:

—Se precisarem passar a noite, temos um pequeno quarto lá em baixo.

Thomas olhou indeciso para o rapaz, e Edith aproveitou a oportunidade para convencê-lo:

—Por que não? Podemos regressar a Allerdale pela manhã.- ela sorriu, e ele mesmo um pouco relutante, assentiu.

Assim que a noite caiu, eles se vestiram para dormir. Thomas sentou em uma cadeira, com o manuscrito de Edith em mãos. Ela sorriu ao observá-lo. Ele parecia tão concentrado na história, tão fascinado. Ela se aproximou e passando a mão por seus ombros, perguntou:

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