Se eu me esforçar, eu consigo me lembrar exatamente de como me senti durante meu divórcio com Meaghan. Eu já estava prevendo, o nosso amor já estava esfriando, mas não gosto de pensar que acabou, apenas foi um ciclo concluído. Lembro-me dos jantares silenciosos, do adormecimento da nossa vida sexual, a falta de passeios juntos e a troca de palavras diminuindo cada vez mais. Não aconteciam brigas, creio que tenha sido melhor dessa forma.
Seu perfume já não me encantava mais, sua risada não me divertia e seus toques não me causavam arrepios. Dentro de mim, eu sabia que o mesmo acontecia com ela. Minha tão doce Meaghan, que com o tempo ficou tão sem açúcar e aquele entusiasmos que eu sentia ao comer algum de seus bolos de festa.
Foi o meu primeiro amor, nos conhecemos na infância, na escola. Ela usava seu cabelo preso em rabo de cavalo alto, as vezes colocava um pompom rosa, eu achava tão charmoso. Minha princesa. Mas era triste, ela me odiava, assim como odiava todos garotos. Tão delicada e nós tão desajustados, nojentos e sujos de lama. E eu tão barulhento e arteiro.
Quando fizemos treze anos, eu me declarei. Foi antes da aula, em uma praça próxima da escola. Meaghan não disse nada, apenas se inclinou e me beijou. Foi um simples selar que melecou meus lábios com o gloss, o sabor era de tutti-frutti e eu lembro bem o gosto dele.
Meaghan ainda usava cabelo preso no topo da cabeça e estava ainda mais linda, agora ela odiava garotos, menos eu.
Não prestei atenção em nenhuma das aulas, só pensei nela, em seu cabelo e em seus lábios cheios de gloss. Ah, eu também pensava no seu perfume e na sua voz, pois ela era tão participativa, tão inteligente. Talvez eu deva ter passado a aula toda a observando, tão linda e naquele momento se tornando tão minha.
No intervalo ficamos juntos, de mãos dadas. Estávamos com seu grupo de amigas, eu completamente deslocado sem entender aquele papo de maquiagem, boybands e fofocas de garotas. Isso me rendeu uma série de piadas vinda dos meus amigos, principalmente de Johnny, mas ignorei. Eu não me importava, ainda mais que a partir daquele dia, minha doce Meaghan me levava biscoitos ou bolinhos cozinhados com todo seu amor. Meaghan me fazia me sentir bem, pleno e leve o suficiente para enfrentar tudo o que viesse naquela fase terrível chamada adolescência.
Ficamos juntos desde então, passando pela formatura da faculdade, até entramos nas faculdades. Meaghan seguiu seu sonho e foi estudar gastronomia. Eu? Eu não sabia exatamente o que fazer, então decidi estudar ciências contábeis, até hoje não sei se foi a escolha certa, mas se não fosse essa, não teria outra, pelo menos não naquela época. Foi um período conturbado, mas eu tinha minha amada ao meu lado, sempre me dando apoio e cozinhando ótimos pratos para me animar.
Assim que terminei a faculdade, fiz uma entrevista na American Airlines, entrevista conseguida através de uma indicação do meu pai, que trabalhava como piloto de avião para a companhia desde que me conhecia por gente. Isso fez com que ele não participasse tanto da minha vida, porém eu via esforço da sua parte em ser presente em todas suas folgas. Ele perdia todas minhas apresentações de dia dos pais, mas assim que voltava para casa, eu me apresentava em um show particular somente para ele. Meu pai batia palmas, me abraçava forte e dizia que eu era o amor de sua vida. Logo depois, minha mãe saía da cozinha com uma bandeja de lanches e colocava na mesa de centro, pegava a fita da minha apresentação original, colocava na televisão e assistíamos juntos enquanto comíamos pão de forma com frios. Quando o vídeo terminava, meus pais me elogiavam, meu pai finalmente me liberava para ir até meu quarto buscar seu presente de dia dos pais, geralmente algo artesanal feito na escola. Em um ano específico, eu fiz um boneco feito de cubos de papel, desenhei seu uniforme de piloto e coloquei glitter dourado nas quatros faixas das berimbelas de seu traje, ele chorou muito. Não me recordo muito bem, mas se não me engano, nesse ano ele tinha ganhado suas tão sonhadas berimbelas com quatro faixas e a partir daquele momento, ele seria sempre capitão da tripulação. Ele tem esse boneco até hoje, fica no móvel ao lado da cama.
O entrevistador era um homem por volta dos seus quarenta anos, tinha cara de tédio. Sei que ele não queria me contratar, mas eu era filho de um piloto com anos de casa. Se passaram vinte dias até ele entrar em contato comigo me convidado para me unir a equipe de contadores daquele polo.
Nesse dia, Meaghan fez um banquete no seu pequeno apartamento dado pelos seus pais, com direito a vinho e um delicioso bolo de chocolate branco e abacaxi.
Terminamos o dia na sua cama, nos amando até transbordamos em suor e gozo. Nesse dia, depois de termos nos envolvido pela segunda vez na noite, a pedi em casamento. Como resposta, Meaghan sentou em meu colo e me beijou até nos envolvermos de novo, nos entregando as sensações e sentimentos, e por fim, chegarmos ao limite pela última vez.
Foi único e eu lembro de todos os toques e de tudo o que senti naquela noite. Lembro dos meus pelos se erguerem quando as curtas unhas de minha amada marcavam minhas costas e braços, lembro dos suspiros, dos beijos de "sim" e do doce sabor de tutti-futti de seu gloss.Lembro disso tudo com muito carinho, e apenas carinho, é uma boa memória, Meaghan sempre será uma das minhas memórias favoritas, pois ela sempre foi uma das pessoas que me trazia vida.
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Céu de tutti-frutti, nuvem de canela
FanfictionApós o fim de um grande amor, Zachary Baker se divorcia e enfrenta uma vida sem a doçura dos sentimentos que tinha por sua ex-esposa. Abalado com o término, Baker se entrega a solidão e a falta de sabor do mundo, mas o forte gosto de canela de Brian...