O Sumiço do Pavê de Chocolate - Capítulo único

36 6 8
                                    

Era Véspera de Natal e, como todos os anos, a casa da Vó Sônia estava cheia... bem, do seu jeito. Eram as mesmas pessoas de todos os anos anteriores, cada um deles espalhados pelo velho sobrado da família Andrade apenas esperando as doze badaladas do relógio cuco do Vô Jorge - que a propósito já havia morrido há quase uma década mas sua presença não mudaria muito o clima da casa. Apenas se ouvia o barulho da TV ligada no Especial de Natal do Roberto Carlos e os roncos de Vó Sônia na poltrona.

Tamanho foi o susto quando se escutou um grito desesperado vindo da cozinha.

- AAAAAAAAAAAAH!

O grito feminino ecoou por toda a casa assustando todos os presentes, e em poucos minutos todos os seis parentes - até os que estavam no andar de cima - chegam à cozinha assustados.

- Lúcia, o que foi? - Pergunta Tio Nelson preocupado com sua irmã.

- O QUE HOUVE? MEU FILHO ESTÁ NASCENDO? CHAMEM OS MÉDICOS!! - Roberto chega do andar de cima tropeçando em seus próprios pés para acudir a esposa grávida.

- Calma pai! – adverte Jeferson, o neto mais velho - pelo visto nem sinal de bolsa estourada.

- O que foi Lúcia? Quer ficar órfã de vez? – esbraveja Vó Sônia com a mão no peito - Se você não está dando à luz o que te fez gritar desse jeito?

- Olha! - Lúcia ergue uma travessa quadrada de vidro vazia para que todos vejam - Não tem nada!

- Isso eu estou vendo - Ri Tio Nelson como se fosse óbvio, e era.

- Não acredito que me acordaram pra ver uma tigela vazia – resmungou Roberto.

- Vocês não estão entendendo - Lúcia diz incrédula - O pavê de chocolate sumiu!

- O QUÊ? - todos dizem juntos sem acreditar.

- O pavê? O pavê de chocolate sumiu? Como sumiu??? - Roberto pergunta para Lúcia que encolhe os ombros sem saber como lhe responder.

- E- eu o deixei aqui na mesa e fui ao banheiro, quando voltei já não havia mais nada - A esposa lamentou.

A família se entreolhou confusa. O pavê natalino da Vó Sônia era o prato mais esperado da ceia de natal dos Andrade, diria até que era mais importante que o peru. Não ter pavê na ceia era o mesmo que não ter ceia.

- Alguém comeu - Vó Sônia disparou - comeu, comeu sim! Olhe nas bordas, ainda tem chocolate não é como se tivesse desaparecido assim do nada.

- Bem observado minha cara Vó Sônia, disse uma voz infantil se aproximando.

Lipe, o filho mais novo de Lúcia e Roberto aparece na beira da mesa com seu livro do Sherlock Holmes embaixo do braço.

- Alguém comeu o pavê de chocolate antes da meia noite e o culpado está entre nós! – concluiu o garoto de apenas 11 anos com a maior convicção. Tio Nelson riu baixo.

- Beleza, se alguém comeu esse pavê é melhor falar agora porque se eu descobrir... – alterou-se Vó Sônia.

- Calma mãe - interveio Lúcia - com culpado ou não a gente está sem pavê, o que faremos agora?

- Só há uma coisa a fazer - Lipe virou seu boné para trás e olhou para a travessa de vidro nas mãos de sua mãe - todo mundo pra sala, vamos!

Lipe foi andando de volta para a sala sozinho, os familiares se entreolharam novamente sem saber se riam ou se choravam.

- Deram açúcar demais pra ele de novo? - provocou Jeferson com ironia.

- Esse garoto é inteligente - Tio Nelson cruzou os braços - não custa nada dar um voto de confiança pra ele, afinal todo mundo aqui quer saber o que foi que aconteceu com esse pavê.

O Sumiço do Pavê de Chocolate - Conto de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora