Capítulo 2 A festa

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Arthur era um nome comum. Ele tinha 21 anos. Dânia analisava o convite que trazia as letras D&A muito bem desenhadas e lhe era graciosa a coincidência com que elas formavam a primeira sílaba de seu nome. Imaginava como poderia ser sua vida se não fosse um contrato ligando aqueles caracteres, quando sua mãe entrou apressada no quarto para se certificar de que estava tudo certo. "Eu não vou fugir. Não se preocupe, mamãe." Disse Dânia em tom irônico. Sua mãe desconversou enquanto ajeitava o enfeite de cabelo da filha "Você está linda!".

O vestido branco, longo e justo valorizava seu corpo e ela se sentiu bonita enquanto via seu reflexo no espelho. "Será que ele vai gostar?". O pensamento passou como um relâmpago de segundo por sua mente. Respirou fundo ao perceber uma lágrima que insistia em cair. Não podia desistir. Ela já tinha suportado tudo e continuaria até que a morte os separasse.

Apenas os familiares mais próximos estavam presentes. Ela pediu uma festa pequena e se admirou quando soube que Arthur compartilhava da mesma opinião. Não mais do que cem pessoas viraram seus olhares para vê-la quando ela surgiu ao lado de seu pai na porta do salão. Era estranho saber que as mãos que deveriam lhe dar segurança, eram as mesmas que a conduziam como um ovelha para o matadouro. Uma profunda tristeza crescia dentro dela a cada passo na direção do altar.

Seus olhos permaneceram baixos durante todo o percurso no tapete vermelho. Quando seu pai soltou sua mão, Arthur a segurou com um movimento seguro, levou até os lábios e a beijou entre os dedos. "Eu assumo daqui." Disse ele a seu pai. O timbre grave e potente fez seu coração bater num compasso diferente. Raiva, tristeza, frustração, atração. Aquele coquetel de sentimentos fazia seus joelhos vacilarem como o de um bêbado tentando chegar em casa depois da noitada.

Mal conseguiu se concentrar nas palavras do pároco, muito menos lembrar de ter respondido: "sim, aceito". Na troca das alianças, ela se viu novamente perdida no mar negro dos olhos de Arthur. Um arrepio correu em sua espinha quando, ao colocar o anel em seu dedo, ele sussurrou "eu vou cuidar de você, minha menina".

Raiva, tristeza, frustração, atração. O coquetel descia rasgando.

No "pode beijar a noiva" suas pernas amoleceram sobre o salto. Arthur passou uma das mãos em sua cintura como que percebendo seu desequilíbrio e com a outra entrelaçou seu pescoço suavemente. A contradição entre pegadas forte e suave provocava reações em seu corpo. Irresistível. Ela fechou os olhos e abriu um pouco os lábios. Esperou. Arthur subiu sua boca e de forma respeitosa beijou sua testa e ela pode sentir o calor da sua respiração, seu cheiro e a sua voz "eu não vou fazer nada que não seja da sua vontade."

RuínasWhere stories live. Discover now