Capítulo 02

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Eudora havia chegado na mansão da Duquesa de Clemont em Laranjeiras a tempo de não virar mexerico no próximo dia e trancara-se nos aposentos até poder acalmar seu coração agitado pelo pequeno interlúdio que vivera ao lado do Barão de Vilar, um homem enigmático e com o sorriso mais sedutor que já havia conhecido.

Jonas Barros Cabral era um nobre e a fidalguia lhe cairia muito bem não fosse o fato de que era um mestiço naquele país que ainda enriquecia pelas mãos dos escravizados. Eudora, apesar de estar pouco mais de um mês em terras brasileiras, havia observado algumas peculiaridades da sociedade local e entendido muito bem que a mancha do nascimento estava na cor da pele do homem e não em sua origem. Visitara com a duquesa algumas senhoras que não se importavam em educar os filhos do marido com outras mulheres ao lado dos seus.

Mas não competia a ela julgar costumes tão incomuns para sua cultura. Ali, era uma forasteira e respeitava seus anfitriões. Assim havia lhe ensinado o pai para que pudessem viajar por todo o mundo em busca de conhecimento; esforçara-se sempre para se acostumar com o estilo de vida dos lugares em que faziam paradas nos últimos dois anos. E apesar de ter perdido duas temporadas em Londres, sentia-se mais livre vivendo as aventuras do pai do que procurando marido ao ser patrocinada por sua tia Belinda, irmã de sua falecida mãe.

Era claro que Eudora sonhava em se casar, mas cuidar do pai desde a morte da mãe lhe pareceu uma missão mais importante; e lhe deixar percorrer o mundo sem uma companhia feminina a fez considerar a ideia de se juntar a ele. E assim tem feito, zela pelo bem-estar do pai e cuida de suas necessidades como uma boa filha.

— Obrigada por me ajudar com o cabelo – agradeceu Eudora à empregada da duquesa. Luzia era uma jovem mestiça que havia crescido nas fazendas do pai de Abigail Chantal e trazida à Corte assim que a nova patroa decidira alforriar todos os escravizados que o pai lhe deixara como herança.

— Sinhá Eudora tem os cabelos mais lindos que vi – elogiou-a Luzia, admirando os caracóis dourados que terminavam em pontas mais avermelhadas por terem sido queimadas pelo sol do Rio de Janeiro.

— Não se pode comparar à cor dos teus – retrucou Eudora. — Mas me conte sobre nosso convidado – pediu sorridente, levantando-se de diante da penteadeira para ir atrás de seu xale.

— É o Barão de Vilar, o convidado especial – afirmou Luzia com euforia.

Eudora se engasgou com a própria saliva, considerando a ideia de inventar uma dor de cabeça para evitar encontrá-lo. Seria constrangedor encará-lo depois de ter sido salva por ele. Aquele homem era perigoso e fugir dele poderia lhe evitar complicações no futuro. No dia seguinte, todos comentariam sobre seu pequeno acidente pelo fato de seu herói ter sido convidado para jantar na casa de sua anfitriã no mesmo dia em que a salvou de ser ferida mortalmente por cavalos sem controle.

— Não sabia que a duquesa conhecia o Barão de Vilar. – Jogou a isca para tentar saber mais sobre aquele convite incomum. Desde que chegara ao Rio de Janeiro e o pai pedira para que a esposa de um grande amigo oferecesse estadia e proteção à filha, não a escutara mencionar sobre o barão.

— Do jeito que sinhá fala, devo dizer que já o conhece – retrucou Luzia, muito esperta.

— O conheci hoje à tarde em razão de um infortúnio que me aconteceu... Contei a você sobre o acidente com a carruagem desgovernada – explicou.

— Ah, sim! E o Barão de Vilar foi seu herói – debochou a mestiça. — Apesar de ser lindo como um anjo, sua reputação é pior do que a de um demônio. Não lhe daria confiança se fosse a senhorita – avisou-a e Eudora notou um leve sentimento de ciúme no modo de se referir ao cavalheiro. — Vive como um libertino.

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⏰ Última atualização: Jul 10 ⏰

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Um Barão Apaixonado *AMOSTRA*Onde histórias criam vida. Descubra agora