Já que ficamos sem lugar para ir, deixe nevar

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Dezembro é um mês de época belíssima na Alemanha, com seu período de advento e as compras nas Weihnachtsmarkt enquanto a neve cai felpuda no telhado das casas e das catedrais.

Chaeyoung era a mais nova estrangeira do país, que visitava todas as atrações até sua estadia acabar e procurar outro lugar para conhecer. Acabando de sair da Ópera do Estado Bávaro e realizando o seu desejo de assistir O Quebra Nozes, ela andava pelas ruas fotografando as belas atrações e árvores de natal enquanto a neve cobria seus ombros.

Adorava fotos e adorava o natal.

Geralmente os adultos não ligam tanto para o natal visto que não são eles que saem de férias escolares sem preocupação alguma, e o espírito infantil revigorava o feriado de uma maneira tão amena que torna a festança ainda mais mágica. Esse argumento não se encaixa no perfil de Son, afinal, ela era diferente dos outros adultos, porque sua paixão pelo natal era a mesma de quando tinha seus cinco anos de idade e era uma mini colhedora de morangos.

Por mais que todo esse "espírito natalino" seja uma farsa capitalista que nos faz esquecer de todos os problemas e dar sorrisos falsos para parentes que odiamos, a melhor parte era poder ficar em casa ouvindo as melhores músicas do Michael Bublé ou maratonar todos os "Esqueceram de Mim" para no final se sentir velho porque o Macaulay Culkin já é um marmanjo de quarenta anos. Pois é, o tal do espírito natalino.

E ela estava lá, fotografando as pessoas apaixonadas nos parques, as tão lindas árvores forsythia que se enchiam de neve e as florezinhas roxas intactas varrendo o chão das praças. Uma linda cena, principalmente com a iluminação do sol e não dos postes típicos coloniais. Era de encantar qualquer amante da fotografia, certamente ela teria uma bela coleção de recordações alemãs para a sua próxima viagem.

E no meio de tantas igrejas de construções góticas e barrocas ela não achava que poderia ter seu dia – por mais que solitário – completo, não até olhar para o outro lado da avenida no único estabelecimento aberto de Munique, uma cafeteria, e mais que isso, uma mulher dentro dela.

Uma moça de beleza tão exorbitante quanto qualquer coisa que já vira naquele país. De cabelos curtos e pelo menos três camadas de casaco, ela olhava para baixo mesmo estando completamente sozinha naquele fim de mundo em plena véspera de natal, mas ainda assim, absurdamente linda.

Como se não pudesse controlar seu instinto – e não podia mesmo –, levantou a câmera até os olhos brilhantes e deu um clique rápido, atravessando a rua logo após isso e tomando muita coragem e pedindo aos céus para que sua mais nova modelo não fosse uma européia arrogante. Não perecia ser.

Seu rosto angelical se iluminou quando viu Chaeyoung entrar pela porta fazendo o barulho de que havia entrado ecoar por toda parte, mas esta não se reprimiu em se aproximar da mesa de quatro cadeiras onde só uma era ocupada.

— Com licença, senhorita  — disse baixo, mas bom tom o suficiente para que não saísse como um sussurro. — Acabei de te ver do outro lado da rua e não pude evitar e te fotografar, você é realmente muito bonita.

— Ah, muito obrigada... — disse em seu alemão experiente e soltou um sorriso pequeno. — Posso ver como ficou a foto?

A mulher a olhou bem com um daqueles olhares tão intensos que te deixa perdido na imensidão do castanho, coberto de cílios e um mar de brilho totalmente encantador. Passou alguns segundos admirando.

— Claro!

E ao lado dela passou a foto no visor da câmera.

— Eu não sabia que podia ter uma foto minha tão bonita — sorriu ainda mais aberto. — Eu pareço uma modelo!

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