feitos do mesmo molde

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Definitivamente não era isso que Inej esperava de sua sexta-feira à noite.
Nem mesmo em seus piores pesadelos. Talvez em seus melhores sonhos? Nem mesmo neles.
A pergunta a ser feita, antes de como conseguiram ficar presos naquele armário, era: por que infernos ela teve que ceder para ir a um jogo com Nina justo no dia em que ele voltara do banco?
Sabia que seu motivo era justamente por causa disso, mas se tornara especialista em ignorar seus próprios sentimentos. Não costumava ceder as suas vontades, pois quando cedia, esse tipo de coisa acontecia. E aqui estava ela. Vontade estúpida.
Em silêncio, encarou a parede à sua frente e testando todos os xingamentos possíveis que poderia dar a Nina quando saísse dali. Se saísse.
- Então, veio aqui para roubar minha blusa ou algo do tipo? - O menino ao seu lado falou, com uma expressão tediosa. Como se tivessem tempo. Como se tivessem espaço. Ele estava sentado como ela, pernas esticadas à sua frente, encarando a parede, o tempo passando devagar, a primeira frase que falavam depois de quase meia hora ali.
Apesar do lugar pequeno, não se tocavam. Ninguém nunca tocava os dois.
- Isso é um pouco narcisista. Você poderia ter vindo roubar uma blusa minha - Respondeu, sem pensar muito.
Inej não era uma medrosa quando se tratava de Kaz Brekker. Eles foram feitos do mesmo material, da mesma forma. Não havia motivos para temer alguém que era seu igual, bastava as pessoas entenderem isso. As mesmas pessoas que estavam o tempo todo sedentas de uma interação entre os dois, alguma migalha dos intocáveis da escola. Algo para falar deles, com eles.
Não que eles fossem iguais a todas as pessoas daquele lugar, mas o contrário. Eram diferentes, eram iguais entre si. Não havia o que temer naquele armário.
Apenas os segredos dos dois que pairavam sobre suas cabeças como palavras não ditas.
Aquela era a primeira vez na qual se falavam. Mas haviam se conhecido há muito tempo pelos seus olhares que diziam eu sei quem você é.
Eu vejo você.
- Eu poderia já ter feito isso. Quanto tempo faz? - Seus olhos castanhos em fendas a encaravam. Ela olhou de volta, tranquila. Estariam tendo essa conversa, então.
- Desde o começo do ano. Aliás, sua jaqueta de couro precisa de uma limpeza. Um emo pode ser limpo - A sombra de um sorriso passa pelo rosto dele antes de voltar para o tédio habitual. Olharam para frente, e um minuto se passou antes dele falar.
- Posso dizer o mesmo das suas sapatilhas.
- Minhas sapatilhas estão perfeitamente limpas - Disse, cruzando os braços.
- Não é isso que o cheiro que todas as segundas, quartas e sextas diz - Era inevitável o olhar de choque dela. Ele só podia estar de brincadeira.
- Eu vou ficar quieta sobre como isso aqui fica depois do treino, Brekker. - Queria ser infantil e falar coisas que apenas alguém do 5° ano seria capaz. Quem era ele para chamá-la de porca?
Ele não disse essas palavras, mas mesmo assim.
Sentiu um arrepio subir pela sua espinha quando ele virou-se para olhá-la de frente, com todos os movimentos contidos para não encostar nela. Apreciou a elegância dos seus movimentos, com o mesmo corpo que era o mais rápido da liga de futebol americano, o mesmo que fazia as jogadas mais sujas de toda rodada, o mesmo que agora tomava constante cuidado naquele pequeno armário para não tocá-la.
Ela bebeu cada parte disso. Cada movimento.
- O que veio fazer aqui hoje, então? Que eu saiba, é o meu dia.
- Não recebi sua agenda da semana, perdão, meu Rei - Respondeu, ácida. Não queria responder essa pergunta.
- Você sabia que eu estaria aqui, Ghafa - Não havia nenhuma emoção em sua voz, ignorando tudo o que ela havia dito.
A questão ali era que os dois eram algumas das pessoas mais populares naquela escola. Haviam conquistado seus lugares não por mérito, mas por sussurros, segredos repassados em voz baixa por todo o corredor enquanto passavam de cabeça erguida, sem olhar para os lados. Usavam coroas invisíveis que os tornara intocáveis, justamente por não usarem seus toques. Você não aperta a mão da realeza, você se curva.
Kaz Brekker e Inej Ghafa eram poderosos porque não havia ninguém que pudesse tocar neles, chegar na altura onde estavam sem perder o ar.
E o que matava ainda mais aquelas pessoas era que eles não se reconheciam. Ninguém nunca os viu conversando nem mesmo trocando olhares. O que poderiam conversar quando não havia nada a ser dito? Ou como começar a falar quando havia tantas coisas a serem ditas?
- Sim. Eu sabia - Inej decidiu que não havia motivos para mentir. Ela sabia.
Aquele era o armário deles. Os alunos normais tinham seus armários nos corredores da escola e os do vestiário. Não eles.

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⏰ Última atualização: Dec 15, 2020 ⏰

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