Capítulo 8

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Sua voz não estava saindo. Tentara toda sorte de aquecimentos ao redor do dia e nada. Tinha marcado de ensaiar com Li naquela tarde, a Live estava perto e teriam poucas oportunidades. Ainda estavam decidindo o repertório.

Tinha noção do porque. Nos últimos dias andara lutando contra si mesma, reprimindo qualquer sinal de que sua mente a levaria de volta pra aqueles momentos com Fantine. Estava decidida, aquilo tinha que acabar.

Como consequência de sua luta interna e não verbalizada, havia perdido a voz. Não totalmente rouca, mas não conseguia cantar, não conseguia extensão, não conseguia encaixar a voz, não conseguia alcançar as frases melódicas. Era tudo o que lhe faltava.

Fantine já tinha lhe roubado a paz, agora lhe roubava a voz. Riu de si mesma, imaginou-se mandando uma mensagem pra ela naquele momento dizendo Tá feliz agora?! Além de não conseguir parar de pensar em você, graças a isso estou sem voz e preciso me apresentar! Valeu! A culpa é sua!

Ela me chamaria de louca com toda a certeza.

Tentou manter a calma e fez os exercícios de respiração enquanto saía de casa, o ensaio seria na casa de Ciro Viscontti, um amigo de longa data que estava com ela em mais essa etapa de sua vida.

Máscara, álcool em gél. O novo normal.

Li estava de fato animada quando chegou, pouco depois da própria Lu. Antonella havia ficado com o pai em casa dessa vez.

Quando começaram a compartilhar ideias, começou a relaxar, sua voz voltou aos poucos, Lu desculpou-se pelo cansaço com Li e Ciro, mas nenhum deles parecia se importar, estavam afinal, entre amigos e ela sentia uma brisa de alegria voltando enquanto testavam as músicas e Lu ajudava Ciro a aprender as que ele não sabia tocar.

Começaram a falar sobre as músicas do Rouge que cantariam. Ainda não tinham se decidido ao certo, tinham algumas possibilidades que gostariam e que ficaria bom apenas com as duas. Era complexo escolher.

- A gente podia fazer essa. - Li propôs colocando-a pra tocar.

Quando os primeiros acordes do violão começaram, o coração de Lu apertou.

Sua força de vontade falhou. Sua mente foi mais rápida.

O palco. Fantine com um violão em mãos, se esforçando pra alcançar o microfone que estava um pouco alto demais. Luciana se debruçando pro lado pra consertá-lo. Ela lhe dando um olhar e abrindo um sorriso radiante enquanto tocava e cantava sua parte. Luciana desviando o olhar e seu sorriso se abrindo involuntariamente feito boba. O público vibrando...

- Lu! Lu! O que você achou?

- Essa não! - seu tom saiu urgente demais, exasperado demais, beirando a rispidez.

Recebeu de volta um olhar surpreso de Li.

- Mas essa é tão linda! E tem aquela parte da harmonia...

- Patty, qualquer uma menos essa. - Lu respondeu sem esperar ela defender a escolha.

Levantou-se e se afastou procurando uma água e um pouco de ar.

Tinha consciência de que tanto Li quanto Ciro, estavam de olho em seu comportamento. Tomou água, sentiu-se claustrofóbica, de repente. Sentiu o nariz começar a irritar.

Ah, não, vou ficar sem voz de novo! E essa maldita quarentena nem me permite sair pra tomar um ar!

Teve consciência de que Li estava se aproximando dela.

- Amiga, você tá bem? Parece meio cansada. Meio... irritada.

- Tem meses que estou sozinha dentro de casa e hoje está sendo um dia decididamente ruim. Desculpa, Li, eu preciso de um minuto, minha voz não está boa.

Na QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora