Capítulo 6

73 5 5
                                    

Ela precisava dormir.

Revirava para lá e para cá na cama, Rocky volta e meia se mexia inquieto ao seu lado, incomodado por sua própria inquietude.

Porque eu não consigo dormir?!

Virou-se, ajeitou o travesseiro, virou-se de novo. Soltou um grunhido irritado, olhou a hora.

Eram três e meia da manhã.

Estava um caco. Cansada, abatida e ansiosa. Mas fazia dias que não conseguia descansar direito.

Abriu os olhos e contemplou o travesseiro vazio ao seu lado. O colocava na cama por puro costume agora. Às vezes, Rocky vinha deitar sua cabeça nele durante a noite.

Hoje ele lhe trazia outra lembrança. A lembrança de um emaranhado de cabelos dourados dormindo profundamente ao seu lado, num momento que parecia ter sido ontem em seu peito.

Lu desistiu de dormir, se sentou no escuro. Iria enlouquecer assim.

Como uma mulher poderia mexer tanto com ela? Isso parecia tão errado agora, mas pareceu tão certo antes.

Tão certo que quando acabou, teve que mudar de casa pra não se lembrar de Fantine.

Mas não adiantou nada.

A quarentena iria leva-la direto pro hospício... ou então pra Holanda.

Juntou os joelhos e debruçou sua cabeça sobre eles. Queria chorar mas nem isso saía.

Em meio ao desespero e ao peito apertado, sentiu o arrependimento novamente de ter se envolvido tanto, se permitido viver aquele amor.

Mas quando foi que havia se convencido de que poderia, de que teria total condições de se jogar naquilo?

O universo respondeu.

- Flashback On -

Semanas se passaram desde aquela ligação. Reuniões surgiram, os ânimos estavam pra cima, a expectativa estava alta, havia um grande investimento naquele show. Era estranho. Voltar a viver aquilo, mas agora de forma tão ativa.

Mas era bom.

Estar inserida naquela loucura que começava a ser o planejamento de um show de reunião do Rouge para o Chá da Alice estava sendo sua total salvação naquele momento. Algo para focar toda a sua energia e reequilibrar sua vida. Ela estava focada e aberta. Todas estavam.

E voltar a conviver com elas estava sendo maravilhoso, estava ressuscitando algo dentro dela própria. Uma juventude que não se lembrava de ainda ter.

Aline era com certeza a mais receptiva, sempre atenciosa, preocupada com todas. Karin era observadora e tinha momentos pontuais de se impor ou se pronunciar, sua veia cômica animava as reuniões, mesmo quando eram apenas vídeo conferências. Li estava compenetrada em dar o seu melhor e a força que ela estava demonstrando era inspiradora, com uma bebê de tão pouco tempo, recém-saída do resguardo e se virando sozinha a maior parte do tempo. Mas Fantine...

Luciana a estava olhando com outros olhos agora.

Uma década atrás, a via como uma garota agitada, insegura e muito impulsiva, que às vezes saía de orbita e acabava alheia ao que estava acontecendo - ok, esses momentos causavam umas situações muito hilárias, principalmente em entrevistas, mas era ruim quando se precisava que todas tivessem total atenção ao redor.

Agora ela estava mais quieta, centrada e muito disposta a ceder.

Estava participando das reuniões iniciais por vídeo conferencia, em horários que nem sempre eram os melhores pra ela, na Holanda. Nunca reclamou, apenas estava lá, atenta, procurando entender tudo.

Na QuarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora