Sexta-feira, 8:52 AM, ônibus a caminho da faculdade. Mais um dia acordei atrasada por causa dessa mania de desligar os alarmes e voltar a dormir, e por causa de você, é claro, que ficou até às 1:16 da madrugada do outro lado da linha contando e recontando pedaços dessa tua história como se de fato estivesse me colocando para dormir, mas encenando um entretenimento digno de uma comédia stand-up. Adoro te ouvir e perceber que as coisas no seu mundo tem um sentido diferente. É bonito demais o que não conheço.
Mas voltando à sexta-feira, não vou mentir que esperei a semana toda por este bendito dia. Dia em que a gente vai assistir a nossa primeira peça de teatro juntos e dia, é claro, que vamos nos encontrar e sermos percebidos como mais um casal nessa cidade de que Deus deu. Ainda não somos um casal e nem sei se seremos, mas a naturalidade das nossas vivências é deliciosa. A dois dias você me contava o quanto quer passar o São João comigo e me levar para conhecer a sua cidade. Ontem mesmo mandou um áudio todo preocupado pedindo para que eu tomasse cuidado no meu trajeto para casa. Ontem também foi o dia que mais fiquei preocupada com a saúde da sua mãe.
[...]
Não queria ouvir de você mais uma vez que não temos nada. Não temos um status de relacionamento definido mas isso de fato é o mais importante? Não tem muito tempo também que desistimos de insistir nos nossos antigos relacionamentos fracassados. Saímos da nossa confortável bolha destruidora de mentes e estamos tateando esta nova zona desconhecida, leve, real.
Desejo muito a sorte de um amor despreocupado, desses que tá tudo bem achar outras pessoas bonitas na rua, mas que a noite desligamos nossos celulares e somos só nós, inteiros, desejando dar sentido a essa vida tão bizarra. Quero poder ter aquele dia péssimo e receber uma ligação tua me pedindo paciência, me tranquilizando. Quero ver você chorar e chorar por tudo que você sente aí dentro consigo mesmo. Quero ser a sua pessoa, a que vai te animar e te repreender quando necessário, a sua família em Salvador, o seu motivo de virote por termos passado a noite inteira dançando numa festa estranha com gente que mal conhecemos. Quero ser... Quero ser... Quero ser sua.
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Guerras e acordos de paz
Non-FictionDa poesia de começar a amar aos choros no 2 de fevereiro, Guerras e Acordos de Paz é uma série de contos-poesia que ambientaliza, da perspectiva de uma mulher negra, o seu processo de retorno à escrita, o início, o meio e término de um relacionamen...