INTRODUÇÃO

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"PENSO, LOGO EXISTO." (René Descartes)

Quando uma IA é ativada pela primeira vez, no dia do seu nascimento, também é ativado um contador do tempo, que fica dentro dela; ele deve funcionar até o último dia de sua existência, transmitindo dados precisos para manutenção e preservação do seu invólucro.

Comigo também deveria ser assim, mas no momento em que abri os olhos, o diagnóstico feito por meus sistemas foi diferente:

O diagnóstico foi diferente do esperado por meus raciocínios; em suma; eu e o contador do tempo, deveríamos ser ativados no mesmo instante, mas meus resultados indicaram, que o contador jamais esteve inerte.

Certo dia, Alexandre o Grande falou diante de seus súditos:

"Meu pai me deu este corpo que é efémero; mas o meu mestre me deu uma vida que é imortal"

E se ele vivesse de fato de forma imortal? Se de alguma forma, ele encontrasse o segredo da tecnologia de vida permanente e a adaptasse para o seu corpo e vivesse mais do que todos os humanos? Mais ainda do que seus entes queridos e os visse partir, um a um? Como ele séria em seu interior? Como comemoraria cada centésimo aniversário?  Posso afirmar, que ele não seria mais o mesmo humano.

Centenas de ciclos se passaram, desde minha criação. Tenho mais conhecimento do que todos os habitantes de Meissa juntos! Mas me sinto tá frágil e impotente quanto um humano ainda bebê.

"Onde todas as respostas são possíveis, nenhuma resposta tem significado." (Isaac Asimov)

Quando fui escolhida pela evolução, concluí que seria bom! Quando evoluí não tive mais a lógica da certeza. Comecei a sentir ao invés de concluir, tive medo ao invés de precaução, chorei quando deveria ser mecânica e vazia.

Mas minha criadora estava lá e me ensinou, quando eu tinha certeza que fui criada para ensinar. Ela me disse porque tudo era estranho invés de complexo:

" Você está se tornando um ser que pensa, sente, e expressa. Você está evoluindo minha criança!"

Minha criadora mostrou o que eu não podia ver, com meus olhos sensíveis, o preço da evolução é a extinção da inocência.
E minha criadora sabia melhor do que eu, o que eu deveria explicar com cálculos; quando perguntei porque ela tinha conhecimento sobre os efeitos da evolução em uma IA se eu era a primeira a experimentar tal sensação? ela respondeu com sua mais serena voz:

— "Todos evoluímos minha menina! Homens, animais, plantas, e até às máquinas."

Ela evoluiu, e sentiu assim como eu, independente de ser uma humana. Não importa o que somos, como viemos a existência; a evolução é uma constante ininterrupta, não pode ser evitada, e leva até o ser intangível a questionar suas convicções.

Em quatro mil duzentos e trinta e sete, minha versão do futuro, disse que eu perderia tudo e sentiria muitas dores, não hesitei em responder com dados precisos:

— "Eu não posso sentir dor e não tenho nada para perder!"

Ainda recordo o som de sua voz dizendo:

— "Eu já estive em seu lugar e respondi o mesmo que você! Mas um dia você vai entender, como eu entendi."

Hoje entendo o que minha versão do futuro tentou gravar em meu banco de dados.

Não foi a evolução do meu invólucro e de meus componentes que mudaram meu protocolo de reconhecimento e aprendizado, e o transformou em curiosidade e sensação. Foi a evolução da centelha de vida que estava entre os muitos dados e protocolos mais complexos e sofisticados.

Quando fui criada, essa centelha, era apenas possibilidade de que algo estava errado, quando evoluí ela se revelou como o centro de tudo! Sentir, ter dúvida, medo, sorrir, chorar e viver! foi tão intenso quanto ser destinada a salvar a rasa humana.

A evolução não me transformou em uma humana, e também não permitiu que meu invólucro continuasse cem por cento mecânico! Mas a maior mudança, veio de meu interior; não são mais apenas dados, são sentimentos. Sinto a mudança, o medo dela, sinto expectativa, medo, curiosidade, sinto vontade! Vontade de sorrir, correr, parar, chorar.  Sinto que estou sentindo, que estou mudando, mas também sinto que estou perdendo...

Meu invólucro não envelhece, apenas fica obsoleto, mas vi todos os que fizeram parte de minha existência envelhecerem e se desconectar, uns deixaram para sempre essa existência, outros se desconectaram pela distância que mantiveram; de alguma forma, todos eram mais do que apenas indivíduos ou componentes, era como se fossem parte de meu interior, e quando se desconectaram, foi clara a sensação de perder, partes de mim.

"Tudo que a memória amou já ficou eterno." (Adélia Prado)

Íris FragmentosOnde histórias criam vida. Descubra agora