Capítulo um

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— Como se sente?

Na verdade, Sehun sentia-se péssimo.

Embora tivesse passado as últimas horas tomando soro no braço e dormindo no sofazinho da sala de injeções, a sensação de ter sido atropelado por um caminhão permanecia. Suas mãos ainda tremiam ligeiramente, a visão, às vezes, escurecia e ele sentia os braços e pernas moles como gelatina. A situação era decadente e ele sabia disso. Contudo, não ousaria dizer aquilo para o doutor Byun.

Estava há tanto tempo preso naquele lugar repleto de luzes fortes esperando o resultado dos novos exames sair que achava que, se olhasse por mais um segundo para aquelas paredes irritantemente brancas, acabaria enlouquecendo. Ele queria ir para casa, pois sabia que melhoraria se apenas se deitasse em sua cama e cochilasse por algumas boas horas, mas, se o doutor sequer desconfiasse que ele não estava bem de verdade, teria sua saída barrada.

— Bem — foi o que respondeu, observando a enfermeira retirar a agulha do seu braço e cobrir o furo com um curativo. Ultimamente, Sehun andava por aí mais adesivado que caderno de criança, pois tantos eram os furos oriundos de injeções necessários a se cobrir.

— Já posso ir para casa, doutor?

Baekhyun — também conhecido como doutor Byun, endocrinologista e responsável por dar puxões de orelha em Sehun — suspirou. Já era a terceira vez no mesmo mês que aquele garoto chegava na sala de emergência aos pedaços e sempre pelo mesmo motivo: descuido, mais especificamente, a falta de alimentação adequada.

O jovem — que já havia entrado na vida adulta há algum tempo e, por isso, deveria ser mais responsável do que era — bem sabia que realizar todas as refeições do dia era essencial na sua condição. Se não se alimentasse direito, o nível de açúcar no sangue baixaria mais rápido do que era o comum em situações como aquela, onde ele era praticamente carregado por algum estranho até o hospital, ocorreriam sempre. Contudo, Sehun parecia ser um mongoloide que não entendia a importância de manter o seu bem estar, ou, no mínimo, um teimoso de carteirinha que se recusava a agir como se tivesse uma doença e por isso continuava aparecendo daquela forma na frente de Baekhyun — este que não aguentava mais ver o menino todo desgastado.

— Pode — o médico respondeu, anotando algumas informações na ficha do paciente. Sehun aguardou pacientemente pela bronca que sabia que iria levar, porém, daquela vez, Baekhyun apenas suspirou enquanto fechava a pasta com os seus arquivos, voltando o olhar para o garoto à sua frente. — Está liberado, Sehun.

— Estou mesmo? — questionou desconfiado. Não havia uma vez sequer em que voltava do consultório do Dr. Byun 'pra casa sem carregar uma bela bronca nas costas. — Você está bem, Dr. Byun?

— Estou, mas você não. — Ah, sim! Ali estava seu sermão. Sehun até respirou aliviado com a constatação de que o doutor não havia sido substituído por um ser alienígena ou coisa do tipo. — Olha, Sehun, eu não vou falar mais nada porque sei que está cansado de ouvir sempre as mesmas coisas e parece que tudo que eu digo entra por um ouvido e sai pelo outro. Então, em vez disso, irei lhe fazer uma proposta.

— Uma proposta? — O mais novo endireitou a coluna, curioso.

— Uma proposta — disse, ajeitando-se na poltrona e olhando para o jovem à sua frente. — Recentemente, o hospital adquiriu uma nova parceria. Aposto que você conhece a Cyber Inc.

Oh, Sehun conhecia. Na verdade, não havia, provavelmente, no mundo inteiro, uma alma que não tenha ouvido falar daquela empresa. Afinal, havia sido ela a impulsionar a indústria tecnológica nos séculos passados, permitindo à humanidade um avanço gigantesco em direção ao futuro que mostrava um caminho para um cenário onde humanos e tecnologia coexistiam — quase que necessariamente — como um só.

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