❛Não quero ser rude
Há coisas em mim que vejo em você
Olhos solitários
Ela tinha aqueles olhos solitários
Eu só sei porque eu os tenho também
Não, você não precisa se esconder
As coisas que você sente
por dentro, eu também sinto
Fique a noite, fique a semana
Quando você se for, eu não durmo
Quando você se for, eu me sinto fraco, oh❜O CLIMA ERA ESTRANHAMENTE AGRADÁVEL E OS PEIXINHOS DO RIO DANÇAVAM em volto dos dedos pequenos da jovem bruxa. Uma brisa morna beijava suas bochechas, enquanto as nuvens rosadas se espalhavam pelo céu alaranjado. Uma paisagem linda, de fato. Arabella esticou as pernas, mexendo os dedinhos dos pés nas apertadas botas de couro Sulino. Ela havia as ganhado de presente da mãe quando visitaram a pequena ilha de Suli, com uma variedade exótica de tudo que alguém pudesse estar procurando, dos mais lindos chapéus a cogumelos mais letais de todos os reinos. Ela ergueu a cabeça, deixando que o vento levasse todas as mágoas para longe, não era hora para isso, afinal. O ar do pequeno lugar parecia estranho, como se algo de errado estivesse perto de acontecer, ela sempre antecipava esse tipo de coisa. Jamais se esqueceria do cheiro pútrido ── uma mistura de carne podre com embolorado esquisito ── que sentira horas antes do grande desastre, dois anos atrás. Mas isso era diferente, era apenas... errado.
Ela demorou para perceber, demorou para sentir o roçar estranho em seus ombros, descendo para as mãos, sussurrando coisas sem sentido, baixo o suficiente para que ela apenas escutasse os murmúrios. Quando, então, sentiu a presença sombria e silenciosa, os rastros de sombras deslizavam perto o suficiente da sua bochecha para fazem cosquinha, um arrepio percorreu por sua espinha. Um desafio, é claro. A bruxa assumiu uma postura relaxada ao colocar as mãos sobre o colo enquanto se virava para observar os pedras a sua esquerda, empilhadas naturalmente, formando uma pequena cachoeira.
Conheça sua presa e, só após disso, ataque.
O timbre delicado de sua mãe cantou entre suas paredes mentais. E sua voz não tremeu quando ela ronronou, predatória, sem tirar os olhos da bela paisagem:
── E uma grande falta de educação não se apresentar a uma dama.
Ela pode sentir o cheiro da surpresa de sua presa, e cometeu o delito de antecipar o doce sangue feérico em sua boca. Não ouvira passos, nem qualquer barulho de uma arma sendo sacada, mas não contaria com a sorte, não dessa vez. Em um movimento rápido e gracioso, se levantou do cascalho e pode avistar o belo homem a espreita de uma árvore, a postura calma e paciente, tão lindo quanto a joia mais rara e preciosa de todos os tempos, com a beleza clássica e os olhos cor de âmbares derretidas, maravilhoso. Não era muito mais velho que a jovem bruxa, talvez tivesse dezoito ou dezenove; era um guerreiro, claramente, com a armadura de couro Illyriano e os sete sifões azuis impressionantes, nada disso, no entanto, capturou a atenção de Arabella, mas sim as enormes asas membranosas. Ele. Tinha. Asas. Um suspiro admirado escapuliu da boca da bruxa, é claro que ela já havia ouvido falar dos poderosos ── e imbecís ── guerreiros de Illyria, mas nem em seus mais fantasiosos sonhos haviam imaginado aquilo. Talvez, afinal, o destino do guerreiro não fosse a morte, mas sim algo muito mais prazeroso que isso. Ela, lambendo os lábios vermelhos, sorriu com diversão. O que será que um macho alado poderia fazer na cama?
Arabella deu um passo a frente, sorrindo como um gato. Os olhos cor de ouro deslizaram pelo garoto ── quase homem. Ele não parecia nem um pouco inclinado a falar, mas a bruxa tentou mesmo assim.
── Arabella, muito prazer ── deu seu sorriso mais amigável e estendeu a mão na direção do jovem guerreiro.
Silêncio. Ela deixou a mão cair com graciosidade, desistindo do aperto falho.
── Você não fala muito, né?
Algo nele era estranhamente familiar, por mais que a bruxa tivesse certeza de jamais ter visto o garoto antes. Algo nos olhos dele a lembravam de si própria, ao vazio dentro de si.
── O que é você? ── sua voz era firme, porém baixa e rouca, jamais havia ouvido algo parecido; parecia uma bela melodia como o tocar suave das teclas de um piano.
O que ── dissera o Illyriano. A palavra reverberara por todos seus ossos em desgosto. Arabella não era uma bruxa comum, jamais havia sido. Ela sabia que as orelhas delicadamente pontudas indicavam sua ascendência feérica. Todos sabiam que na cultura bruxa era permitido prociar com qualquer ser magico, sereias, dragões, trolls, nagas e qualquer coisa possível e inimaginável, entretanto, feéricos estavam fora de questão. Nenhuma Grã-Bruxa teria a indolência de permitir que uma das suas tivesse uma criança parte feérica, no entanto, quando Arabella nasceu com os olhos poderosamente dourados, ninguém se importara com as suas orelhas ridículas. Ela contraiu os ombros.
── Nada muito diferente de você. ── uma meia verdade. Bruxas e Feéricos não tinha nada em comum, a não ser, é claro, o ódio mútuo.
Mentirosa.
Um sussurro distante tintinara, como um sopro do vento beliscando seus ouvidos. Seu corpo congelara, ficando imortalmente parado. Que merda era aquilo? A herdeira já havia escutado diversos boatos das criaturas monstruosas que habitavam no coração da preciosa Prythian, e de quando todos desviavam sua atenção elas se esgueiravam para as Cortes em busca de diversão. Mas não era pior das coisas que habitavam Mazaq, nada era pior que Mazaq. O macho deu um passo à frente, deslizando a mão até a adaga embainhada em sua cintura. Oh, aquilo estava ficando divertido.
── Podemos fazer isso por bem ── ronronou ele, retirando com agilidade a adaga do coldre, empunhando-a ── ou por mau. ── o Encantador deu mais um passo na direção da bruxa, as sombras se enroscando em seus ombros enquanto as asas se abriam em um baque poderoso ── Vou perguntar apenas mais uma vez: O que é você e o que faz nessas terras?
Arabella deu um passo a frente, ficando tão próxima dele que podia sentir a respiração quente do Illyriano contra seu corpo. O cheiro de pinho e vento atingiu suas narinas ferozmente, quando ela sorriu, atrevida.
── Me diga você, morceguinho.
Aconteceu tão rápido que a bruxa não pode prever quando ele segurou a adaga contra seu pescoço, prensando-a a uma árvore, suas pupilas se dilataram ao sentir o cheiro dela. Então, com todo desprezo possível, ele afirmou:
── Bruxa.
༄ ── Prólogo lançado aaaa. Fico feliz que tenham lido até aqui, o próximo capítulo pode demorar um pouco mais, pois ainda está sendo rascunhado.
༄ ── E aí, gostaram da nossa herdeira bruxa? Votem e comentem aqui suas teorias para os próximos capítulos.
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A Court Of Blood And Shadows
FanfictionCorte de Sangue e Sombras | Em uma busca sangrenta por vingança, a jovem herdeira do clã Garras Prateadas descobre os planos perversos, a tanto escondidos, dos três clãs restantes de seu povo. Agora com o objetivo de retirar o poder das garras d...