Corte de Fogo e Cinzas

Capítulo I

Quando Nestha Archeron ouviu as amargas palavras sair da boca de sua irmã, pensou que seu coração fosse sair do corpo.

Sabia que merecia por todos os anos de desprezo, egoísmo e raiva que despejou em Feyre durante a vida. Sabia que Rhysand, por mais que tentasse ser civilizado e amigável apenas tolerava sua presença pela irmã. Sabia que os olhares do círculo íntimo a devorava com reprovação. Ela sabia que merecia ser afastada.

O círculo - a nova família de Feyre - não fazia muita questão de sua presença. Azriel, em sua opinião, era como a brisa de verão. Aparecia do nada e desaparecia na mesma circunstância. Era bonito, educado mas havia algo na maneira que falava, trajava e se movia que a lembrava perigo, destruição e caos. Uma brisa que poderia facilmente se transformar em uma tempestade destruidora.

Morrigan a odiava. E ela não a culpava. A féerica era felina e predatória, uma clássica leoa e Nestha sabia que quando Morrigan amava, doava todo seu coração aos queridos. Sabia que Feyre havia se tornado uma parte essêncial na vida da fêmea e que ela a protegeria com sua vida se necessário. Exatamente como Rhysand.

Amren, era um enigma. Letal e sem rodeios. Nestha sentia falta das conversas que tiveram no último inverno. Mas não cabia a ela ir atrás. Não depois das palavras que a de olhos prateados jogou em sua cara.

E havia ele...

Cassian.

O guerreiro que Nestha estava disposta a morrer no campo carmim de sangue da batalha. O macho que, mesmo contra sua vontade, fazia o corpo dela formigar. Ela tentava tirar o pensamento dele. Da forma como ele acariciou seu pescoço. Da estrutura dura do peitoral que Nestha tocou. Do cheiro másculo de suor amadeirado...

Ela respirou fundo. Encarando a porta de madeira á sua frente.

Sentia-se como se ainda estivesse na aldeia, há quase dois anos, quando ainda era humana. Sentia-se do lado se fora de uma loja, admirando a vitrine e sonhando com as peças sabendo que nunca as teriam.

Peças que não compraria. Família que não teria. Felicidade que não alcançaria.

- Nestha? Você está prestando atenção? -A voz singela de Elain fisgou Nestha de volta para a realidade. Nestha apenas assentiu, ainda entorpecida pelos pensamentos.

Elain concordou com a cabeça antes de abrir a porta de madeira do chalé. Sua irmã segurava uma mala de couro marrom, a fazia um esforço enorme para andar e levar a mala jundo de si. Usava um vestido cor creme e um casaco de um tom mais escuro. Em seu cabelo, um arame ornamentado de pérolas prendia uma faixa de cabelo caramelo deixando a maior parte solta. Elain não precisava de jóias cara ou vestidos pomposos para ser bela. Era verdade, Nestha admitia que todas as irmãs Archeron, incluindo a si, possuíam uma beleza graciosa. Feyre com os olhos de gavião, gelidos e esguios; os olhos idênticos ao dela, e ela era linda e única. Extremamente parecida com sua mãe. Mas Elain, por mais que a única coisa que herdou da mãe fora o sorriso largo de dentes alinhados e grandes, era sem dúvidas a mais bonita das três. Talvez fosse pela feição pacífica e tranquila e serena. Embora, Nestha pensou, a violência e poder dos traços de Feyre fossem igualmente arrebatadores. Dignos das afeições dos Grão Senhores.

- Então - Disse Elain ao depositar a mala no chão de madeira maciça. - o que achou?

Nestha avaliou o lugar. Era como estar novamente em casa. O chão, o teto, as paredes e as escadas que subiam para o patamar de cima eram compostos pela mesma madeira vermelha e envernizada. Os móveis possuiam uma rústicidade que agradou a fêmea. Os armários, a mesa, a cadeira, tudo eram feitos de uma madeira um tom mais escuro. O sofá, no entanto, era um amontoado de pelos. Nestha se aproximou, apenas para tocar o tecido, e foi como cariciar o pelo de um urso. O chalé era simples, grosseiro mas extremamente aconchegante e caloroso.