Notas iniciais da autora:
Parte desta história foi escrita por um amorzinho de pessoa, que me obrigou, digo, cof cof, bom, a Elli — vulgo Ellen, vulgo Alquimista, Bruxa Cristã e eterna veneradora de minha outra obra, Oculta — pediu, com carinho, para que eu continuasse o resto de seu "rascunho". Depois de mil anos, cá estou eu entregando. Só pra lembrar que eu sou boazinha às vezes.
[[risos nervosos e duvidosos]]
Mentira, eu adorei escrever. Obrigada por isso. ♥
Boa leitura!
Marcela, ansiosa, se sentou na mesa para o café da manhã. Sua mente traçava as cenas em repetição pura.
Não conseguia acreditar, ao mesmo tempo em que não conseguia parar de relembrar as sensações desvendadas na noite passada. O coração palpitava forte, engolia a seco, como se quilômetros tivesse caminhado. Coçava os fios alaranjados da nuca para tentar acalmar o espírito caluniado pelas próprias cobiças carnais. Olhava frenética para os presentes na mesa, como se pudessem, em um mínimo relance, descobrir os atos impuros consumados em pleno e mesmo teto em que permaneciam hospedados.
O apartamento, enorme, era alojado dentro de um resort, próximo — quase em cima da areia, diria — à praia de Ponta Verde, uma das mais famosas de Maceió, no Estado de Alagoas. Era insano imaginar que alguém poderia saber algo, levando em conta a extensão do local, mas suas paranoias não lhe davam descanso.
Sua família, mãe, pai e os dois irmãos, ambos mais novos que ela, decidiu passar as férias ali, pois os parentes do Sr. Ferreira — seu pai — já ameaçavam cortar laços se o homem não desse as caras depois de tantos anos. Ele foi para a capital de São Paulo a trabalho, onde acabou por iniciar um relacionamento com a mãe de Marcela e fincou domicílio, vez ou outra buscando visitar a terra natal.
A última vez em que vieram, Marcela tinha treze anos. Ela adorava ir, em seu rosto estampava a alegria. Tanto que, quando seu pai falou da viagem, em nada precisou reclamar. Lembrou-se da água cristalina, da maresia, das palmeiras, já suficientes para trazer toda a sua comum ansiedade à tona, mas, neste caso, de um jeito bom.
Não só os traços paradisíacos da cidade a alegravam, já que Marcela adorava a família por parte de pai. Eram pessoas simples, alegres e espontâneas, sem tempos ruins a repassar. Aliás, tinha um mar de primos e, uma coisa que sempre gostou muito, era de uma aglomeração de coleguinhas para se divertir. Tempos que não voltavam, mas permaneciam em seu coração.
Hoje, com quase vinte e um, admitia sentir muita saudade, pois boa parte de seus primos já eram bem mais velhos, alguns casados, outros nem residiam mais no estado ou na cidade, simplesmente encerrando o contato. Reconhecia não lembrar de todos, é claro, mas valia a intenção de manter as boas memórias intactas.
Contudo, havia uma prima que sempre foi muito próxima, inclusive por realmente não haverem outras, a maioria só meninos, que, ao rever, trouxe um incômodo instante de estranhamento.
Era fato que poderia acontecer, afinal, tantos anos passados. Marcela tentara ser amigável, mas não houve jeito: a garota não parecia querer papo.
Mas queria outra coisa que Marcela não sabia até então. E foi uma surpresa.
Inclusive a surpresa acabara de sentar na mesa, dando um singelo e baixo bom dia aos presentes.
— Lena, vai querer café? — perguntou o pai de Marcela, gentil como sempre. Os cabelos levemente grisalhos estavam ressecados e a pele um pouco áspera pelo contato do sol, mas felizmente não sofria queimaduras com facilidade. Sua filha captou essa parte da genética e, sendo o sexto dia naqueles cantos, já se encontrava praticamente parda devido as idas contínuas à praia e às piscinas do resort.
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Passagem (Oneshot)
RomanceO combinado, consigo mesma, era curtir suas férias em família, sem estresse e sem companheiro(a)s. Ocorre que, certo, Marcela cumpriu o combinado. Só não achou que ia se envolver com a linhagem distante. Essa história é tão passageira quanto parece.