Londres, Inglaterra, 23 de março de 1347
Se perguntassem a qualquer um ali de quem era aquele cadáver, não saberiam responder. Era um indigente, que acabara de morrer em decorrência da peste.
A Grande Peste começava a dizimar a Europa e a Ásia, deixando rastros de corpos apodrecidos por onde quer que passasse, e agora ela havia chegado às terras inglesas.
Os choros e lamentações não eram pelo morto, claro, eram pela peste. No fundo, todos ali sabiam que aquele seria seu destino. Mesmo assim, nem se importaram em documentar, afinal, em uma época que até os reis e papas morriam, quem se importa se um mendigo morre?
Foi aberta uma cova rasa em um cemitério qualquer, como era de costume fazer aos falecidos que eram pobres, pois as igrejas já tinham seu solo destinado aos nobres e clérigos.
A cada pá cheia que lhe era jogada, a pálida e bizarra figura desaparecia em meio à terra úmida, fadada ao esquecimento. Quando o último monte de terra lhe cobriu o rosto, o aglomerado se dispersou. Limpando suas poucas lágrimas, cada pessoa ali seguiu sua vida.
Exceto uma.
A fina garoa primaveril embaçava a lente de sua máscara de couro, mas isso não o impedia de observar aquele túmulo como se fosse a de algum parente próximo. Para ele, e somente para ele, aquele não era um mendigo qualquer.
Era um paciente que havia morrido em suas mãos. Um paciente que ele havia perdido para um inimigo invisível, um mal inexplicável, uma fatalidade.
Para Argos, não saber a cura era como um matemático não achar a solução de uma equação, como um ferreiro não ser capaz de forjar a espada que lhe foi encomendada, um escrivão desconhecer alguma palavra.
O sentimento de impotência o preenchia. De que servia todo seu conhecimento contra uma doença desconhecida? Não havia nada a ser feito. Desta vez, o tempo era a única cura.
Sozinho naquele cemitério, Argos retirou de seu casaco uma rosa, que ele havia tingido de preto com carvão, e colocou-a sobre a sepultura para simbolizar que aquela era uma vítima da peste.
Como os outros, retirou-se para sua casa. E foi, quem sabe, colher mais rosas e queimar mais lenha.
Olá, se você é uma das 2 pessoas que vai ler isto, saiba que é apenas um teste e que daqui uns dias irei retirar esse capítulo para revisão e blá blá blá. Irei respostar quando terminar a história :)
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A Divina Tragédia
Historical FictionNa Inglaterra, no auge da peste negra, com suas grandes habilidades médicas herdadas de sua ascendência grega, Argos é odiado pelos falsos médicos que o cercam. Munido de certa arrogância escondida por sua mudez e sua máscara, questiona a cura divi...