→ Amor e Anarquia ✧

2 - A guerra da festa

No fim da tarde do dia seguinte, estava com Hope em meu quarto separando possíveis looks para a noite aguardada. Saia jeans com coturnos pretos, ou vestido tubinho vermelho com um tênis? Fico dando voltinhas pra minha irmã e ela vai analisando de 1 a 10, ela perdeu o ônibus e meu pai ficou de levá-la para o serviço, e enquanto ele se preparava ela me ajudava a escolher o que eu iria usar. Por fim, fiquei com o vestido. Herdei o bom gosto de roupa com Sese, ele era o coroa mais estiloso que eu já tinha visto. Mas ele não pode ouvir isso ou iria se gabar para o resto da vida.
Os britânicos não costumam exagerar na maquiagem pra festas, e as festas costumam ser bem diferentes das americanas, nem tanto, afinal jovens são jovens em qualquer país do mundo. O que posso dizer, esperava pessoas de ponta a cabeça tomando litros de cerveja, mas na verdade era um amontoado de jovens bebendo e fazendo brincadeiras com um conteúdo mais adulto, sem falar no grande cheiro de coisas ilícitas. Anotação mental, lavar o cabelo assim que chegar.
Depois de pronta, dei um beijinho no Senhor Bigode e peguei minha bolsa. Já eram 22h e mesmo meu pai insistindo pra me levar, disse que iria a pé. Não era tão longe, a festa iria ocorrer na casa dos pais de Sid, um garoto moreno e esguio que fazia aula de Química comigo, ele é conhecido por ser o cara que sempre libera a casa pra qualquer evento, afinal seus pais nunca estão lá e é como se ele morasse sozinho. Enfim, privilégios e contras de ser um riquinho.
E eu gosto de olhar a vista enquanto caminho, a noite sempre me trouxe um fascínio gigante, é como se ela me abraçasse toda vez que eu saio para caminhar. Acho que fui uma vampira na minha vida passada.
Já sei que estou chegando quando a música alta invade minha audição, a batida é contagiante e as pessoas estão chegando junto comigo. Como sempre, a casa está apenas sendo iluminada por luzes coloridas, que piscam tanto que me deixam zonza.
Sinto uma mão em meu ombro e viro bruscamente encontrando James que abre um belo sorriso pra mim, ele queria me assustar, e conseguiu. Xingo ele mentalmente.
— Lia? Como assim você veio pra festa e não me falou? Eu poderia ter pegado carona com seu pai gato e não ter suado naquele busão lotado que eu peguei. — fala, enquanto me guia no meio das pessoas
— Eu vim de a pé, seu folgado! E como assim você acha meu pai um gato?
— E quem não acha? Na reunião de pais até a minha mãe, casada, só fica de olho no seu pai. Você devia ver as discussões que isso causou com o meu pai em casa. — dá risada e eu o acompanho, logo um copo de bebida que eu não faço a menor ideia do que seja, já está em minhas mãos.
James me disse que ao chegar tinha trombado com Farry e Stefan dando uns amassos, nada chocante para uma festa se não fosse o fato de ela ter terminado com ele hoje. Mas nada de novo no cotidiano jovem, menos pra mim, que as palavras ex e namorado não pertencem ao meu dicionário.
Vou até a cozinha com James, que queria pegar mais bebida que havia na mesa, num daqueles baldes cheios de gelo. A festa rola agitada até lá, várias meninas dançam nas mesas e os pervertidos estão logo abaixo tentando ver se acham alguma coisa no vestido delas. Nojento.
Eu deixo a bebida em algum canto da pia, e vejo que James está conversando com um garoto na porta da geladeira, é, acho que chegou a minha hora de deixar eles sozinhos. Até que durou bastante tempo, devo ter ficado aqui o que, uns 30 minutos? Dou de ombro e procuro o número do meu pai na agenda, para avisar que ele já podia vir me buscar; até que eu lembro, eu vim aqui apenas para uma coisa, dar a voltar por cima e mostrar a Kayla, mas ela nem me viu ainda. Preciso ficar mais um pouco. Suspiro pesado e vou caminhando aonde imagino ser um banheiro, já o adentrando, lembro que esqueço de bater no segundo que eu vejo um cara sentado no chão, olhando pra janela e trazendo pra si um cigarro entre os dedos. Ele me encara na hora, e é como se minhas pernas ficassem bambas do nada.