Todas as noites os sonhos repetiam-se para a pequena Alice. Sempre era levada para o mesmo lugar que, embora desconhecido, parecia-lhe tão familiar. Ela caminha pela vasta floresta, observa cada árvore, cada pedra, cada criatura. Sente-se segura, não sente medo do lugar desconhecido.Não havia humanos. Não existia destruição. Havia paz, e só isso importava. O sol brilhava, o vento soprava uma leve brisa, os pássaros cantavam, ou pelos menos eram seres que se pareciam com eles; criaturas estranhas e espetaculares surgiam espalhadas correndo pelo bosque.
Lá perto, corria um riacho de águas tranquilas e tão claras que podiam refletir a imagem do céu. Alice sempre se aproximava para olhar seu reflexo nas águas correntes, fazendo de conta estar vendo o de sua mãe. Sua tia sempre dizia que seus cabelos e seu sorriso pareciam tantos com os dela. Algo naquelas águas a atraía, enfeitiçava, como se uma voz lá do fundo a chamasse ao seu encontro.
Naquela noite, algo parecia diferente. Era o mesmo lugar desconhecido e mágico dos seus sonhos. Entretanto, quando é atraída para as margens do rio, uma trilha diferente começa a surgir entre as árvores do bosque. Ela nunca esteve ali, Alice conhecia cada pedaço daquele lugar como a palma de sua mão. Qualquer outro caminho já tinha sido explorado por ela. Esse era diferente, nunca esteve ali.
Ignorando os encantos das águas tranquilas do riacho, decide a trilha misteriosa. Era curioso e empolgante descobrir aonde o caminho iria leva-la. Decidida explorar, ela caminha devagar, e sente medo do desconhecido.
Conforme seus passos iam se avançando, uma nova paisagem se formava à sua volta, as arvores se tornavam diferente das demais. Não se viam outras criaturas ali, era vazio e sem vida. O gramado que antes era tão verde dava lugar às pedras afiadas que machucam seus pés.
Algo estava errado, mas Alice precisava descobrir o que estava no final daquele caminho estranho. O medo aumentava, fazendo-a pensar em parar. Sentia que não tinha feito a escolha correta e sua curiosidade lhe colocaria em apuros.
Por um momento, Alice decide desistir, mas algo faz com que sua desistência fosse levada ao fracasso. Um castelo é avistado no final do estreito caminho, o que aguça ainda mais a curiosidade da pequena garota.
Não dava para ver se existiam pessoas ali. Precisava se aproximar. Ela acelera seus passos, sem perceber que nuvens negras começavam a cobrir o sol. A pequena brisa transformava-se aos poucos em ventos fortes. Alice estava tão preocupada em explorar o novo lugar, que não se dava conta do perigo que se alcançava.
Aproximando-se do castelo abandonado, encontra um portão velho coberto por galhos de ervas daninhas, de imediato até pensa ser um empecilho para ingressar dentro daquelas muralhas, mas o portão estava sem qualquer cadeado que a proibisse de continuar. Ela entra, mas diferente dos portões, o castelo estava trancado e parecia vazio.
Alice anda em volta daquela construção, e percebe que há muito tempo ninguém habitara ali. Viam-se ruínas, galhos de árvores entrando pelas vidraças das janelas quebradas. Mas, algo se escondia nas sombras daquele lugar, ela conseguia sentir. Não era algo bom, sentia que era algo perverso. Teve medo e desistiu de se aventurar.
Ao desistir da sua busca, Alice percebe a mudança repentina à sua volta. Já não se via o sol. Num pequeno lapso de segundos, nuvens negras tomaram conta do céu e ventos intensos traziam fortes trovoados. Uma impetuosa tempestade ameaçava cair do céu a qualquer momento.
O mundo parecia que iria desmoronar. Árvores eram arrancadas pela raiz com a forte ventania, do céu caíam raios que atingiam o castelo, iniciando um pequeno incêndio. Alice nada podia fazer.
A garota sente medo da transformação súbita do lugar. Sente vontade de gritar por socorro. A voz trava em sua garganta. Sozinha e com medo, não conseguia mover-se, embora estivesse diante da destruição iminente daquele lugar.
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Crônicas de Kimera
FantasyNum reino muito, mas muito distante do mundo dos homens, existe Kimera, um lugar repleto de ninfas e criaturas de todas as espécies, algumas estranhas, outras espetaculares. Sem qualquer guerra ou destruição, o povo de Kimera vivia em total harmonia...