Prólogo

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Andei a passos lentos até ao altar, não por respeito ou por educação, mas sim por puro cansaço e exaustão. Cheguei ao púlpito e desembrulhei o papel que trazia, com o meu discurso rabiscado. Mas quando olhei para ele, pronta para começar a ler, as palavras perderam o significado de súbito, de tal modo que eu não entendia o que havia escrito no papel, como se fosse uma língua estrangeira, a mais difícil delas. Elas pareciam desprender-se uma a uma da folha como se fossem levadas pelo vento, sopradas para longe, abandonando assim o pequeno pedaço de papel amassado. Então, sendo obrigada pelas circunstâncias, tive de abrir o meu coração, dar nome as pinceladas abstratas que manchavam a minha mente e expressá-las com cautela. Eu sabia que não seria fácil, pois o que eu sentia era muito mais do que se possa imaginar.

- Eu não queria estar aqui, quer dizer, nenhum de nós queria estar aqui, mas estamos. Porque a vida é assim, obriga-nos a fazer coisas que detestamos. - começo o discurso a olhar pela primeira vez para a minha pequena e melancólica plateia, eu daria tudo para não ter que estar aqui. Mas ao invés disso deixo o meu olhar cair sobre ela que me sorria de forma encorajadora. - Sinceramente eu não consigo descrever o que sinto, pois o que há dentro de mim é uma mistura horrenda e heterogénea de sentimentos. Não os do tipo simples que podemos definir com precisão, mas sim complexos, mas tão complexos que temos medo de mostrá-los ao mundo e o mesmo não aguentar o que vem com eles. - olho para as minhas mãos com unhas e verniz roído, demonstrando a ansiedade que sentia no momento. Volto o olhar para a minha triste plateia e continuo. - Eu apenas gostaria de olhar uma última vez para aqueles olhos, mas dessa vez desvendar a escuridão que neles se encontram antes que seja tarde demais, como foi. - termino, pois a conhecida sensação de aperto na garganta que antecede o choro faz-se presente, e a última coisa que eu queria era chorar. E desço pelo mesmo caminho que subi, com os mesmo passos arrastados e evitando olhar para o meu lado direito, pois eu ainda não me sentia preparada para encarar dessa forma.

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