Então o Luan leu pela primeira vez, sem obrigação alguma, sem a professora mandar, sem a mãe sussurrar que "São Novos Mundos a Descobrir", apenas leu. Leu ao toque dos quatro ventos, leu a terra debaixo dos seus pés descalços, ao sol secando as roupas no varal, aos pingos de chuva que caiam de folha em folha durante o inverno. E depois leu de novo, e leu, e leu, leu...
E descobriu em seu mais intimo momento de prazer, que o mundo com o qual sonhava, existia... Aquele mundo, que se devaneia em noites sem sono. Que se estende ao longo do braço, beija-nos a palma da mão, e depois escapa como um anseio adocicado, fazendo-nos desejar mais e mais.
Um mundo de sonhos, um mundo de tristezas, de alegrias, de amores, de angustias, de revoltas, de maldade e de bondade - um mundo de sonhos. Um mundo que ele abraçou num ímpeto desesperado por um pingo de liberdade.
E o mesmo mundo lhe retribuiu. Concedeu-lhe força, criatividade e coragem. Tudo o que ele precisava, mas nem tudo que desejava. Apenas abriu uma porta que estava se fechando, e convidou-o a entrar. Então o Luan nasceu pela segunda vez, passou pela porta levando madeira e dobradiças junto e nunca mais foi visto.