Cátia: mama? Que barulhos são esses que tiram a paz do povo? Porque os feridos fogem para o lado contrário de quem os pode curar? Porque fui proibida de ser criança e crescer em terra de paz?
Mãe: A guerra Cátia, ela tardou mas chegou, os brancos querem nossas riquezas e os pretos querem lutar para provar que a escravidão acabou a muito tempo. Esses barulhos são a morte a anunciar-se, as crianças que estavam habituadas a brincar na terra, hoje são ensinadas a trabalhar com armas ou são trancafiadas em casa a aprender a bordar e a cozinhar. Lembra-te Cátia, em tempo de guerra a casa é a nossa fortaleza, o branco e o preto não olharam para ti como gente, mas sim como mercadoria ou um objecto. Se vires um ferido de guerra, tu fechas a porta e gritas, pois um homem pode fugir da guerra, mas a guerra já faz parte do que ele é.
Cátia: Se chegou, também terá que partir
Mãe: partirá filha, mas não será esquecida, pois deixará os destroços para trás
Cátia: Meus irmãos mãe? Onde estão? Foram com a guerra?
Mãe: Zancia, Maré, Xiquinho e Benjamin foram espertos, no primeiro tiro fugiram para a capital
Cátia: E os outros?
Mãe: Lolita foi buscar água no poço ontem, lhe fiz espera e ainda quis ir lhe buscar,mas não me achei capaz de atravessar os tiros e deixar minha Cátia só
Cátia: Lolita morreu?
Mãe: Não, quem a viu disse que foi arrastada e feita propriedade para satisfazer o prazer alheio
Cátia: mama? Tomé e Baia?
Mãe: Teu pai guardou Tomé no mato, debaixo da terra, Baia é casada Cátia, ela protege seus filhos e reza pelo seu marido
Cátia: Já posso chorar mama?
Mãe: Não, sabes que não se deve chorar sem ter certeza e muito menos sem um corpo
Cátia: Por quanto tempo ficaremos escondidas no meio do mato, trancadas numa casa mais leve do que o vento?
Mãe: até a guerra acabar, enquanto isso quero que cantes Cátia, canta baixo e impede tua mãe de se permitir sofrer.