Silêncio
E, pra variar, não teve coragem de falar (provavelmente nem seria pertinente, conveniente). Ponderou que ficar em silêncio sempre traz a dádiva da continuidade — e deveria ficar feliz com a sorte que teve.
‘Sorte’ — esta é a palavra! Poderia enaltecer a solidariedade dela, a simpatia e a capacidade de empatia, etc. Poderia… Mas a motivação era mais egoísta. Ele se conhecia, sabia que se não tivesse tido a ‘sorte’ de encontrá-la, há dois anos, na inquietação física que lhe onerava até mesmo ficar deitado, logo também o psicológico sucumbiria.
Não, nada deveria ser dito. Não seria conveniente. Ademais, adicionar uma camada às coisas pode alterar-lhes a percepção, ou até mesmo mudar-lhes a composição físico-química, jogando por terra o progresso até ali conseguido.
Se adicionamos peso a uma estrutura projetada para ser como é, eis a falência.
Não. O quando o silêncio transborda, enche-se de razão.