capítulo I

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“A vida se tornou sem graça e vazia, ter que esconder quem realmente sou se tornou meu pior castigo, mas se for para esquecer tudo que aconteceu que assim seja. Viverei da forma mais limpa que puder, porque sei que no final valerá a pena. ”  
-Você finalmente acordou...- A voz familiar soa em meus ouvidos, juntamente com o toque de um par de mãos que segura meu rosto. Essas mãos quentes...com essa voz fria sem um mínimo de compaixão é tão familiar...– Me diga, por onde quer que eu comesse? Você gosta disso?
-Ah! N-Não...por favor! – Peço apavorada, minha visão embaçada busca dar forma ao homem que está em minha frente, enquanto puxo meus braços para tentar me livrar das correntes que me prendem contra a parede
-Por que eu pararia? Você não gosta? – Ele pergunta de maneira sádica enquanto me mexo e como resposta a tal ato, o homem com satisfação passa sua língua em minha orelha – *risos*Ah gatinha, não tenha medo... sua morte será rápida...                
-M-me solte! Por favor... – Meus olhos se enchem de lágrimas e um flash de luz toma conta da minha visão, para tentar voltar-lá ao normal pisco alguma vezes e assim conseguindo ver tudo à minha volta.
O galpão, as correntes, o homem e a arma que eu estou segurando, quando percebo onde realmente entro em pânico. É impossível, certo?! Esse cheiro de metal e pólvora que invade minhas narinas são idênticas àquele dia, mas ao mesmo tempo tão diferente...          
-Sei que não vai atirar, então me dê isso... – A voz se pronuncia e aproxima-se cada vez mais, minha cabeça dói e meu corpo não reage da forma que quero – Vamos gatinha devolva isso!
A sua raiva me assusta, contudo não o obedeço ou melhor nem meu próprio corpo parece me obedecer, a todo o momento tremo e suo frio quase sendo incapaz de manter a pistola apontada para ele.
-Eu não sou sua gatinha! – A frase sai de forma espontânea e seca, o homem avança brutalmente em minha direção, e por reflexo fecho meus olhos com força e puxo o gatilho.
O som do tiro ecoa pelo ambiente acompanhado por algo caindo bruscamente no chão, junto com o estrondo o medo de abrir meus olhos habita meu ser e o barulho alto faz com que me encolha esperando o pior chegar, contudo uma onda de silêncio paira pelo local. 
Alguns minutos se passam e nada, a ansiedade começa a tomar conta de mim, porém ainda fico sem me mexer. Automaticamente meus olhos se abrem quando escuto uma tosse seca e assim vejo poça vermelha sobre meus pés, além de um jovem caído no chão se afogando com seu o próprio sangue.
Observo atentamente cada movimento que ele faz, seu peito que desce e sobe de forma irregular, suas tosses e seu sangue que se espalha cada vez mais. Olho fixamente para o corpo que tem o dobro do meu tamanho, não consigo me mexer nem mesmo gritar ao ver tal cena.    
“Ele...está morto?!” Não posso deixar de pensar isso quando tudo fica silencioso mais uma vez, automaticamente sinto meu corpo pesado e fraco; a minha cabeça começa a latejar e por conta da fraqueza largo a arma. 
Acordo ofegante e suada, tudo não passou de um pesadelo ou melhor é apenas meu passado me perturbando pela quarta vez nesta semana, esses tais “sonhos” começaram quando resolvi abandonar a máfia e viver a vida de forma mais limpa, no entanto a minha consciência insiste diariamente em me lembrar de tudo.
Acredito que o maior causador dessas minhas noites mal dormidas seja o abandono repentino da minha antiga rotina. Afinal houve uma mudança drástica, já que não ando mais armada por aí, não estou com meu irmão todos os dias e nem fico nas vielas do Bronx vendo as pessoas se drogarem, além de tudo isso tive que aprender rapidamente a poupar dinheiro.
Em toda minha vida nunca pensei que o dinheiro me faria falta, pena que estava enganada. Quando sai do mercado negro, percebi que o mais importante para se viver aqui fora é o dinheiro, não demorou muito para as coisas começassem a apertar para mim e rapidamente tive que achar um emprego.
Para alugar meu apartamento atual e mobiliá-lo peguei a grana da minha conta pessoal, ou seja, usei dinheiro “sujo”, mas depois disso nunca mais toquei nessa conta bancária. Ser design na Carter Corp. paga bem e posso sobreviver o resto da minha vida assim, e sei que viver da forma mais limpa que eu puder fará bem a mim e talvez esse meu passado para de me perseguir...
Enquanto entro em devaneios fico deitada tentando recuperar-me da minha noite conturbada e mal dormida, contudo logo sou atrapalhada pelo meu despertador que toca em uma forma fracassada de me trazer de volta a minha realidade.
Com preguiça rolo de um lado para o outro, êmbolo-me no edredom e até enfio minha cara debaixo do travesseiro, se eu pudesse faltaria ao trabalho hoje! Com certeza a pior parte de não ser seu próprio patrão é não poder escolher que dias irá trabalhar!  
O despertador toca cada vez mais e com raiva passo minha mão sobre o criado mudo para procurar meu celular e desligar o alarme. Sem sucesso! Falho miseravelmente em achar o aparelho e derrota tiro o meu rosto do travesseiro, assim espio o criado e vejo-o na beirada, pronto para ser derrubado se eu passar a mão mais uma vez.
No instante que o pego faço com que o toque irritante pare, e começo a olhar minhas redes sociais. Nada de muito interessante, há apenas algumas modelos posando e notícias de famosos, com certeza a mais interessante é a qual diz que o solteiro mais cobiçado de Nova York foi visto com uma mulher ruiva e muito elegante.
Devo pontuar que o tal “solteiro” falado é meu chefe, Ryan Carter, nunca o encontrei pessoalmente e também não tenho interesse em homens de seu estilo. CEO´s não são os meus favoritos para se brincar, geralmente se estressam fácil e se irritam rapidamente, além de serem completamente fanáticos por trabalho! Tenho experiência quando se trata de empresários bem-sucedidos...
Novamente me enrolo debaixo do cobertor e fico ali por mais um tempo, foi aí que me dei conta do horário e pulo da cama. Em menos de dez minutos entrei de baixo do chuveiro, terminei meu banho e fui direto me maquiar para esconder a cara de zumbi.
A maquiagem que vou fazer vai ser básica, mas ousada. Primeiro passo o primer e hidrato na minha pele, logo já passo a base e o corretivo, em seguida um pouco de pó para selar tudo, um blush rosado e iluminador. Já para os olhos escolhi uma sombra marrom e fiz um delineado, e por fim passei um batom vermelho.         
Mesmo tendo acordado mais tarde que o normal, me sinto produtiva e por algum motivo quero estar arrumada para ir ao trabalho. Desde que comecei na Carter Corp. visto roupas que não me valorizam, geralmente um suéter branco que já está amarelado e além de sempre prender meu cabelo em um rabo de cavalo bagunçado.
Assim que terminei a make saiu do banheiro com a toalha enrolada em meu corpo e vou até meu guarda-roupas. Observo um pouco o que há de descente para se vestir e decido pegar um dos meus vestidos preferidos! Ele é preto de alças com um decote reto e seu comprimento passa um pouquinho dos joelhos.
Já nos pés calço um scarpin da mesma cor com o solado vermelho, acrescento usando o colar de sempre e uma argola de ouro, assim que finalizo paro na frente do espelho para observar o resultado. Estou totalmente diferente, não pareço a mesma pessoa do dia-a-dia.
O vestido justo valoriza minhas curvas e seu decote cai muito bem em mim, o batom vermelho me dá um ar mais sexy e com certeza mais maduro já os acessórios complementam tudo com delicadeza. Estou totalmente irreconhecível! Não aparento ser Alice Cooper que todos da empresa conhecem, a tola e boba Cooper que não sabe nada sobre a vida...
Não que eu esteja interpretando ser o que não sou, mas é bom mostrar uma parte que você esconde das pessoas. Sim, eu posso ser tola e boba as vezes, sou carinhosa e totalmente apegada a todos a minha volta, não é porque fui a dona da máfia e fiz diversos homens tremerem ao me verem que não tenho fraquezas.
No final sei que são essas fraquezas que me fazem humana, que minhas falhas me fazem real e que meu passado me fez moldar-me da forma que sou hoje. Tenho arrependimento como qualquer um e tenho feridas ainda não cicatrizadas...
Quanto mais me olho no espelho mais tempo quero ficar parada apenas admirando e pensando sobre a pessoa que sou, entretanto afasto-me e vou até a cabeceira da minha cama. Lá pego meu celular e vou até a cozinha buscar minha bolsa.
O apartamento tem apenas dois cômodos, um que é o banheiro e outro se divide entre quarto, sala e cozinha. Acabei optando por um lugar pequeno e simples porque posso limpá-lo com facilidade, além do prédio ser bem localizado.
Vou até a bancada da cozinha e pego minha bolsa, dou uma última olhada a minha volta para ver se não estou esquecendo nada e com certeza assim que voltar do trabalho terei que arrumar minhas coisas, está tudo bagunçado! Por falta de tempo acabei não arrumando nada...
Tranco minha porta e vou em direção às movimentadas ruas de Nova York, onde posso encontrar homens engravatados com suas pastas e mulheres de salto alto andando em direção aos seus trabalhos. Rapidamente me junto a essa multidão de gente para me direcionar até a Carter Corp. que fica uns vinte minutos da minha casa.
Em meio ao meu usual trajeto começo a olhar a minha volta e entrar em discussões internas, mas logo sou atrapalhada pelo toque do meu celular e imediatamente paro de andar, assim abro a bolsa e vejo o remetente da ligação. 
Um nome que conheço bem aparece sobre a tela do aparelho, e posso dizer com certeza que com certeza senti falta de escutar sua voz. Não posso deixar de dar um sorriso bobo, mas ao mesmo tempo estou preocupada com o que ele pode querer, afinal ele não me liga já faz um mês! 
Sei que ele está chateado por nossa última discussão, mas não é motivo para deixar de atender minhas ligações e nem ignorar as mensagens que deixei! Só espero que tudo esteja bem...    
 

Is it love? Daryl Ortega Onde histórias criam vida. Descubra agora