Era dia 24, eu acho. Eu não me sentia tão consciente, nada consciente. É.Passei a semana inteira barganhada em bebidas e remédios tarja preta, ansiolíticos, antipsicóticos. Isso é natal? Rá. Meu tom de sarcasmo habitava em minha mente enquanto eu ainda estava desacordada.
— Cheque o pulso dela, como está agora? Ela está respondendo bem? — Alguma voz surgiu a minha volta, eu era incapaz de saber o que estava acontecendo. Não era novidade me sentir incapaz, mas cara... Eu não conseguia abrir meus olhos? Ou me mover. Ou responder que estava tudo bem.
Estava tudo bem. Quem são vocês?
Era mais de uma voz. Agora eu podia entender. Eram várias, me sentia em um corredor cheio... Tão alto e silencioso... Eu estava com sono novamente.— Ela vai ter que passar alguns dias aqui, acredito que pra segurança dela. — Um rapaz respondia a garota que parecia preocupada.
— No natal? A família dela não vai notar? — Ela dizia inquieta. — Doutor, isso é muito triste...
— Ao que checamos, ela não tem família alguma. — Um tom frio emergia em sua voz e a garota parecia engolir seco.
— Oh... Desculpe... Isso é mais triste ainda.
— O que você acha que todas essas pessoas estão fazendo aqui? Estamos no local ideal para pessoas como essas. — Tão duro. Tão verdadeiro... Pessoas como essas.
Eu entendi tudo e só quis rir. Não conseguia nem rir descaradamente. Deveria estar em um local onde só existiam miseráveis como eu. Mas então meu corpo pediu mais arrego, a sonolência espancou meus órgãos adormecendo-os.
— O pulso dela está mais fraco. — Foi a última coisa que ouvi dela até finalmente adormecer novamente.
HORAS MAIS TARDE (...)
Acordei numa sala branca, com muitas grades. Ainda estava com sono, mas não havia mais ninguém ali... Eu acho. Meus olhos estavam se abrindo, sim. Dessa vez eu conseguia deixá-los entreabertos. Estava com muito frio, os lençóis que estavam sobre mim foram úteis e apenas me permiti usufruir daquilo. Onde eu realmente estava?
Agora olhei para meus pulsos, estavam machucados e cobertos por esparadrapos firmes. Um soro preso as veias da minha mão, pra que raios? Ah. Deixa pra lá.
De repente, uma garota loira de cabelo curto mas assanhado abriu a porta de onde eu estava e a fechou com muita rapidez. Será que ela era a mesma que estava com o doutor? Ela também vestia branco, seus olhos estavam cheios de olheiras e ela me observava assustada, notando que não estava sozinha, se debruçou sobre a porta e se encolheu quase que descendo até o chão, se sentindo pequena. Chamou minha atenção, então me movimentei até a ponta da minha cama, engatinhando e sorri para ela.
— Oi. Onde estamos? — Não era uma boa forma de começar um diálogo mas nunca fui boa nisso. Eu estava mesmo curiosa para saber onde era a casa dos miseráveis... E ela parecia mais inteligente e situada do que eu no momento.
— Hã? SHHHHH. — Ela agora parecia confusa e respirava acelerado, se levantou por um momento até onde eu estava e fechou meu bico com seu indicador. Era engraçado e atrevido. Sem maldade porém... Ela nem me conhecia. — Deixa eles irem embora e... Eu te explico. — Sussurrava para mim com indignação.
AH. Não era ela... A garota que falava com o rapaz sobre mim enquanto não conseguia me movimentar. Pude notar a diferença em sua voz. A dela era diferente... A dessa garota atordoada diante de mim era angelical... Tão doce mesmo tão misteriosa. — Ok. — Respondi mesmo aguardando ansiosa para entender o que estava acontecendo.
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Last Christmas - Stellatrix
AcakApenas mais um conto de natal, um encontro casual onde ambas tiveram perdas horríveis durante o ano e se esbarram na véspera do dia 25. Lamentações em uma clínica de psiquiatria, contudo, Beatrix e Stella podem se surpreender com um momento único en...