Colors

Capítulo 1

Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então.

Alice no país das maravilhas

O quarto cinza onde Louise dormia, era igual a de todos, todos tinham o mesmo quarto, as mesmas roupas, as mesmas comidas, as mesmas vidas. Não havia mais discrepância social, fome, confrontos ou protestos. Nem suas mortes eram diferentes, já que quando estavam no auge dos seus 60 anos, o governo lhes mandava uma pílula vermelha e a pessoa morria sem dor alguma. Nem níveis de escolaridades diferentes. Todos estudavam até a adolescência e quando concluíam a escola, fazia-se um teste onde mostraria as habilidades de cada indivíduo e o encaminharia para sua futura profissão, a qual se dedicaria por toda a vida. Esse era o correto, esse era a realidade no ano de 3013.

O despertador tocou, igual ao de todos os jovens naquele horário e Louise abriu os olhos. Antes que tocasse pela segunda vez, se levantou e espreguiçou vestindo suas pantufas igualmente cinzas, enquanto arrastava os pés para o banheiro, para um banho matinal. Depois de completar seu ritual higiênico, ela vestiu suas roupas. Cinza claro para a camisa e chumbo para a calça. Amarrou os cabelos em um rabo de cavalo e saiu para o corredor, dando de cara com vários outros jovens da sua mesma idade saindo de seus quartos e se encaminhando para o pátio para poder se alongar antes dos exercícios matinais.

Todos os dias da vida de Louise eram assim, sem mudar uma única pauta.

- Bom dia meninas. - cumprimentou Karina e Milena, que estavam se alongando também.

- Bom dia. Ansiosa para o teste de aptidão? - perguntou Milena enquanto ajudava Karina a puxar os dois braços para trás.

- Não. O sistema irá escolher o que é melhor para mim. - respondeu Louise realmente muito calma.

Louise não pensava muito no que iria acontecer, o que haveria de ser, seria e estaria tudo bem.

- Eu estou nervosa. - respondeu Karina trocando de posição com Milena. - Vai que minha vocação seja ser alguém que trabalha, sei lá, fazendo exames de próstatas? Eu não iria gostar.

- Então você repense duas vezes em cada resposta, dona Karina. - disse Milena piscando para a amiga, que riu e lhe lançou um olhar cúmplice.

Louise sorriu para as duas, ela não entendia a ligação das duas, mas queria ser cúmplice de alguém como Milena e Karina. Louise começou a se alongar, enquanto pensava um pouco sobre os testes.

...

Louise se inclinava no computador para responder suas atividades, quando, notou que precisava de um exemplar especifico sobre a história dos grandes monarcas dos atuais tempos. Caminhou até a biblioteca do colégio para conferir se havia algum exemplar.

- Não há mais nenhum. - respondeu a bibliotecária.

- Nenhum? - insistiu a garota.

- Você demorou muito para procurar o seu exemplar, e como esse trabalho foi passado para todos os alunos do instituto que estão no último ano, os livros se esgotaram. - concluiu a bibliotecário.

Louise fez uma expressão de chateamento, mas não se opôs.

- Bom, acredito que a biblioteca do centro deva ter. - respondeu a bibliotecária. - Se decidir ir buscar, eu posso lhe providenciar uma autorização para sair do prédio.

A garota assentiu e esperou sua autorização em silencio.

....

Louise olhava pela janela do ônibus o caminho em silencio para a biblioteca. Não gostava muito de sair, se sentia um pouco perdida fora as grandes paredes que cobria o instituto.

Desceu do ônibus no ponto desejado, caminhou até a biblioteca e rapidamente adquiriu o seu livro "O milagre da monarquia", o qual colocou embaixo do braço e caminhou de volta para fora da biblioteca.

Louise dava uma lida nas primeiras páginas do livro, quando trombou com um corpo derrubando seu livro no chão. Louise mirou seu olhar na pessoa e a primeira coisa que viu, foi o cabelo azul. Azul.

Louise abriu a boca enquanto a mão automaticamente foi para os cabelos azuis do rapaz.

- Como... - balbuciou a garota.

O rapaz por sua vez, retirou suas mãos e olhou nos olhos da garota.

- Aqui não. Me encontre amanhã, neste mesmo horário, no parque nacional.

E ao dizer isso, continuou a andar entre o fluxo de pessoas. Louise ficou parada na calçada, com seu livro no chão e ainda totalmente em choque.