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- Muitas felicidades... – Tossi.

Se passam dias, se passam noites, se passam meses, se passam anos e eu ainda não sei o que fazer na hora do bolo.

Ravi me abraçava – ou me segurava? – o tempo todo, em partes facilitando meu desafio: não tinha como bater palmas. Na verdade, não tinha nem como me mexer direito. Me movi dentro dos seus braços tentando conquistar mais espaço. Ele me segurou ainda mais. Assim que a música acabou e que entreguei o primeiro pedaço para a dona invicta do próprio, reparei que Felipe estava perto da porta.

- Não estou muito bem hoje... – Gemeu Lipe, um gemido fingido, eu sabia.

- O que é que você tem? – Perguntei, meu tom de voz revelava minha falta de crença.

- Acho que o bolo não caiu bem.

- Lipe! Você ama esse bolo! É o mesmo bolo há mais de duas décadas! Está doido?

- É, mas hoje não me caiu muito bem. – Disse e olhou para Ravi.

Ok, meus amigos não eram os maiores fãs de Ravi. Nem minha mãe. Às vezes eu achava que nem o próprio Ravi gostava tanto assim de si. Mas eu gostava dele, então todos tinham que aprender a lidar com isso, não é? Ele só era... duro demais, rígido demais. Mas, bem no fundo, tinha um lado doce.

- Para com isso, Lipe!

Ele olhou diretamente para o meu pulso nu.

- Ceci... – Levantou o dele, onde morava nossa velha amiga pulseira vermelha. – O que aconteceu?

Bom, Ravi aconteceu. Ele me perguntou o porquê de eu não tirar aquele pedaço de corda sequer para tomar banho. Disse que estava desgastado, que era só eu pegar sol que ia marcar meu braço como um biquíni e, quando contei toda a história, reclamou que era simbólica como uma aliança chamativa e um grande letreiro de "corno" para a testa dele.

Discutimos feio, mas por cansaço acabei a guardando na gaveta ao lado da velha amiga folhinha verde. A pulseira estava meio desgastada mesmo. Na gaveta ficaria bem conservada e seria para sempre uma lembrança do meu laço com Lipe.

- Não combinava muito com a roupa, sabe, Lipe? – Suspirei.

Ele, com razão, ficou visivelmente bravo. Cerrou os dentes e franziu as sobrancelhas. Respirou fundo. Queria tanto que tivesse sido sincero, que tivéssemos conversado abertamente ali mesmo sobre o quanto eu estava errada e como tinha sido desrespeitosa com ele. No fundo, no fundo eu sabia. Só que ele apenas bufou e disse:

- É, o bolo não me caiu muito bem. Feliz aniversário, Cecília.

Tentei abrir a boca para falar alguma coisa, só que estava tão envergonhada que apenas abracei a foto-cartinha que ele tinha me dado de aniversário.

- Cecizinha? – Ravi cantarolou. – Estou te esperando para o nosso karaokê. Por que está demorando tanto?

Minha barriga se revirou – pela primeira vez após ter comido aquele bolo por tantos anos. Talvez não estivesse bom mesmo. Corri para o banheiro.

Ceci e LipeOnde histórias criam vida. Descubra agora