Estava rodeada de amor. Minha família e meus amigos, todos aqueles que tanto abracei, que tanto estimei a minha vida toda, bem ali, à minha volta. Conversaram, riam, brindavam e, vez ou outra, me contavam alguma história aleatória – seja da minha juventude, ou da deles.
Preferia conversar com os mais novos. Não aguento a nostalgia! Parecia que todos viviam presos ao passado. Eu não quero isso para mim!
Lipe se foi e eu ainda sinto essa dor. Vai ser para sempre um pedaço vazio, não só no meu coração, como também em toda parte do meu corpo que ele costumava abraçar e dar beijinhos. Só que nós vamos nos reencontrar, eu sei. Quero que se lembrem dele, de nós, com alegria, não melancolia. Então, era melhor falar dele para as crianças. Muitos dos senhores e senhoras estavam contaminamos pelo relógio apressado do tempo.
Escondidinha, comi mais um brigadeiro e sorri para Laurinha, minha eterna cúmplice. Clara não iria nos controlar. Estava muito ocupada trocando saliva no corredor, então já tinha comido meu terceiro brigadeiro – e parado, graças à minha experiência quase milenar.
Após encher a barriga, abracei um por um e me senti terrivelmente cansada. Avisei para que não acabassem a festa por mim, a vida tem que ser festejada mesmo! Fui para cama e suspirei, meditando brevemente. Abracei minha pulseira de corda vermelha e meu querido relógio para-sempre-atrasado. Fechei os olhos. Naquela noite, sonhei que reencontrava Lipe e não me lembro de ter acordado para relatar aqui.
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Ceci e Lipe
Short StorySuspirei, um suspiro cansado, não meditativo. Não seria o primeiro aniversário que eu iria dormir cedo. Tinham os de quando eu era criança, e teve também aqueles na casa dos quarenta, nossa! Traumáticos. Pelo menos agora eu estava livre. #15 em Crôn...