CHRISTMAS CHRONICLES

happy christmas eve eve

King's Lynn, Inglaterra — 2020

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   O tilintar dos sinos na porta de entrada do Liz Coffee se misturava com a melodia natalina que saía das caixas de som acopladas às paredes. Pessoas entravam e saíam do estabelecimento a todo instante, mas Joan permanecia parada no mesmo lugar. Olhando para o relógio preso no pulso e esfregando as mãos sem parar, a inglesa desejava que seu pedido fosse entregue o quanto antes para que ela fosse logo embora. 

Ter que sair de casa no meio da noite de natal para buscar alguns cafés porque todos estavam atarefados demais para fazer algo em casa não era sua idealização perfeita para as horas antecedentes à meia noite, mas ali estava ela. E há quase vinte minutos, ressalto.

— Aqui o seu pedido, Jo! 

Nareen, uma das atendentes do café, apareceu atrás do balcão segurando um saco kraft e se esticou para entregá-lo a Joan — que, agradecida por finalmente poder ir embora, se levantou e sorriu. Em consequência do vapor que saía dos copos de chocolate lá dentro o saco estava quente, mas como alguém que teria que enfrentar o rigoroso frio do inverno britânico assim que passasse pela porta, ela não reclamou.

Agradeceu a Nareen, desejou-lhe um feliz natal e saiu andando com pressa. Empurrou a porta com o ombro e assim que colocou os pés na calçada, sentiu o vento gelado bater contra seu rosto e fazer todo seu corpo se arrepiar. 

King's Lynn estava coberta por neve, não muito diferente do restante de Norfolk e de outros condados da Inglaterra, por tanto, durante seu trajeto até a casa em que morava, Joan encontrou crianças brincando com trenós, se espojando no chão para fazer anjos e até travando guerras com bolas de neve. Luzes coloridas enfeitavam as copas das árvores e entravam em contraste com o branco polido no qual a cidade estava mergulhada. As janelas e as portas das casas estavam abertas, era possível ouvir ao longe músicas temáticas de natal, em especial Jingle Bells Rock, e pessoas conversando e rindo alto. 

Joan não era a maior fã do natal, mas com certeza apreciava todo aquele ar de união que circulava pelas casas e abraçava as pessoas. Mesmo King's Lynn, uma cidade portuária que não tinha metade do clima natalino que parece vir de um filme como Banff e Quebec, ambas no Canadá, conseguia ficar linda e aconchegante. E naquela noite tudo parecia estar tão mais belo que Joan levou o dobro do tempo para chegar em casa. Todos os cenários bonitos fizeram-na perder o foco. 

A voz de Mariah Carey em All I Want For Christmas entrou em seus ouvidos assim que ela passou pela porta da própria residência. As coisas pareciam estar mais arrumadas do que estavam quando ela saiu e todos os membros da família se deslocavam pelos cômodos com coisas, que iam de decorações até panelas com comida, em mãos. 

Joan jogou as chaves em cima da mesa de cabeceira ao lado da porta e seguiu andando pelo corredor que dava na cozinha. Abriu um sorriso largo ao encontrar seu pai fazendo uma espécie de dança com passos mirabolantes enquanto dava risada e segurava uma travessa de doce. Sua irmã mais nova corria desesperadamente atrás dele.  

— Finalmente você chegou! — Amélia, sua mãe, surgiu ao seu lado de repente e deixou um beijo estalado em sua bochecha. Pegou o saco das mãos de Joan e piscou. — Achei que tinha sido atropelada por um… Não sei, trenó?

— Há, há, há. Ótima piada, mãe. — Ela forçou um sorriso e em seguida revirou os olhos. Foi até a mesa, que ainda não estava totalmente posta, e debruçou-se sobre uma das cadeiras. — A senhora fica melhor a cada dia.