15. liana bennett

10K 665 95
                                    

A tensão no corpo de Vinnie era palpável.

Eu não o conhecia o suficiente mas, a julgar pelo olhar dele no filme podia afirmar que tinha medo mas, muita nostalgia, recordações.

- Ei, como era? - Perguntei. Ele virou o rosto na minha direção sem entender a minha pergunta.

- Como era o quê? - Perguntou de volta.

- A sua infância...- completei.

A palavra "infância" deu voltas na minha cabeça conforme o significado dela pesava dentro de mim. O significado destruído por papai e remendado na medida do possível por mamãe. Eu guardava, com cuidado, todas as memórias boas na minha cabeça e no album de família em meu quarto. Elas eram as únicas coisas que papai nunca poderia destruir.

Eu guardaria para sempre aqui comigo. As memórias boas e as ruins. Tudo o que nos levou até esse presente. Diferente para uns, o mesmo para outros.

- Ela foi boa, eu acho... - A voz de Vinnie me tirou das minhas lembranças. Abaixei a minha cabeça e olhei para Vinnie, ele de repente se levantou e se aproximou de mim jogando-se contra o espaço entre as minhas pernas, deitando a cabeça em meu peito. As mãos dele tocaram na minha perna e descansaram, os olhos dele se fixaram na televisão.

- Você acha? - Perguntei, tocando na mão direita dele. Deslizei devagar os meus dedos para poder sentir sua pele e observar com calma as tatuagens desenhadas.

- Foram os meus avós por parte de mãe que me criaram, e meu pai estava sempre trabalhando. Eu era o típico único filho de pai e avós ricos. Fui mimado, sempre fiz o que queria e tive o que quis. - Ele deu de ombros. Os meus olhos ainda se atentavam nas tatuagens e meus dedos ainda percorriam elas marcadas para sempre em sua pele quente.

- Mas você foi feliz? - Vinnie apoiou o cotovelo esquerdo no sofá e a mão no queixo de forma reflexiva. O dedão descansou na lateral da boca enquanto os outros dedos seguravam o queixo.

- Fui. Ou com base no que me lembro fui. Meus avós sempre foram presentes, meu pai era o mais distante mas isso nunca me influenciou ou me afetou. - Ele contou, tocando de repente na minha mão em seu braço me fazendo parar.

Achei que ele fosse afastar ela mas ele a segurou com ambas mãos, virando a palma e deslizando os dedos de forma gentil por ela a acariciando.

- Tive amigos, professores particulares e essas baboseiras, isso me enchia a porra do saco mas eu fazia, até porque eu sabia o quanto meus pais e meus avós deram duro para me proprocinar isso. - Ele massageou minha mão devagar com os dedos. - Na adolescência meus avós faleceram, foi quando eu comecei a dar mais trabalho, você sabe...- eu sorri quando os dedos dele deslizaram na minha palma causando cócegas. - Dali em diante segui o que queria, e me tornei quem eu sou. - concluíu, enlaçando devagar a mão esquerda dele na minha palma direita com carinho e cuidado, como se ele de repente pudesse quebrar a minha mão ou fazer alguma coisa errada.

- Esse conquistador barato. - comentei dando risada.

- Barato? Você é tão atrevida! - Ele riu, apertando suavemente a mão dele contra a minha.

- Sinto muito pelos os seus avós. -
Murmurei.

- Está tudo bem, eles foram felizes.

- Não tenho dúvidas. - Ficamos quietos por alguns instantes.

- Minha infância foi boa. Não tenho do que reclamar. Acho que teve o que a grande maioria teve, sabe? Acho que o que realmente importa é a família, é quem você sente que é família. Isso muda tudo. - ele disse subitamente e de forma profunda.

Pensei em papai. Pensei em mamãe. A minha família.

Suspirei jogando a cabeça para trás fitando o teto iluminado levemente pela a luz da televisão, a única luz que estava acessa em todo o apartamento.

✔ 𝗕𝗔𝗗 𝗗𝗥𝗨𝗚 ✗ vinnie hacker Onde histórias criam vida. Descubra agora